(esse texto é dedicado a Douglas Henrique e Luiz Felipe, mortos pelo Estado em Junho de 2013)
Contra a criminalização, desinformação e apagamento sobre o acontecimento de 2013, mas também buscando ir além das efemérides acríticas, esse texto tenta dar um pequeno panorama ciente da sua parcialidade sobre o evento de Junho e seus desdobramentos na cidade de Belo Horizonte. É importante frisar que Junho tem características muito diversas, cada cidade e região do país vivendo a experiência insurrecional de maneira diferente. Talvez seja uma obviedade, mas a totalidade das análises demonstram quase sempre uma ênfase no Junho paulistano com algumas menções ao Rio de Janeiro. Enquanto em São Paulo a questão do aumento da passagem fez a luta estourar e reverberar por todo país, em BH a revolta foi canalizada para as questões relativas à Copa da FIFA. Esse mote apareceu também em cidades como Fortaleza e Rio de Janeiro. Mesmo dentro de Belo Horizonte há diferenças substanciais entre os chamados “grandes atos” e os protestos que ocorreram nas periferias e nas BR’s, onde autonomamente as pessoas fecharam as vias por um senso de indignação frente às precariedades cotidianas. Ainda há muito a ser descoberto sobre esses protestos invisíveis. Diferente da história senso comum que vem sendo contada, em BH as esquerdas mantiveram-se unidas e não saíram das ruas – com todos os problemas e ganhos – e a cidade não foi tomada pela direita. Esse relato sobre as manifestações na cidade pretende ser um registro feito por aqueles que estiveram imersos nesse processo, tentando fazer jus a suas contradições.
Quando o Junho de 2013 explodiu em São Paulo com as manifestações do Movimento Passe Livre contra o aumento da passagem, o campo libertário de Belo Horizonte encontrava-se disperso. Nos anos anteriores, várias experiências libertárias subterrâneas foram colocadas em prática, com destaque para a Praia da Estação, um evento convocado anonimamente por autonomistas em 2010 que encontrou grande eco e força em BH, trazendo questões importantes sobre a ocupação da cidade, além de um forma organizativa horizontal e de caráter festivo que acabou atraindo vários setores da esquerda, organizados ou não. Ainda que a sensação verdadeira de que o campo autonomista e anarquista na cidade encontravam-se desarticulados, grupos como o MAL (Movimento Anarquista Libertário) e o Espaço Ystilingue estavam atuantes. Ainda assim, quando estouram os protestos em SP, fomos todos pegos de surpresa!
A cidade passava também por uma onda de ocupações urbanas como a Ocupação Eliana Silva e Dandara, trazendo questões fundamentais sobre a cidade, a moradia e a vida comunitária. Além disso, em 2011 a formação do COPAC – Comitê dos Atingidos Pela Copa em Belo Horizonte (ligada a organização nacional, a ANCOP – Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa), tinha como objetivo debater, promover e defender os direitos daqueles atingidos diretamente pelos megaeventos da FIFA e também funcionou como um espaço articulador e convergente das diversas esquerdas de Belo Horizonte.
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https://faccaoficticia.noblogs.org/post/2023/06/17/junho-de-2013-em-belo-horizonte/
agência de notícias anarquitas-ana
Varrendo folhas secas
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.
Anibal Beça
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!