O capitalismo arco-íris não salvará as pessoas queer. Isso foi bem estabelecido ao longo de muitos anos. Ainda assim, um discurso recente surgiu defendendo a chamada “representação” no mercado contra fanáticos de direita.
À medida que vagamos por um dos meses mais sombrios do Orgulho LGBT nos últimos tempos, através da constante enxurrada de ataques de direita (e de esquerda) contra pessoas trans, o surgimento de slogans de extrema direita que remontam às campanhas de ódio dos anos 1980 e o bode expiatório de pessoas queer e drag queens em todo o mundo, as pessoas estão compreensivelmente começando a se sentir nervosas. Pra dizer a verdade, eu também estou. Há muito com o que se preocupar nessas atuais circunstâncias globais, e é compreensível que as pessoas se preocupem com a perda de apoio “aberto” das corporações.
Tanto os liberais quanto os esquerdistas reclamam que as empresas estão cedendo à direita por causa de seu apoio ostensivo a pessoas queers, como se não esperassem isso o tempo todo. Claro, o apoio público pode ser positivo, mas o capitalismo nunca será a solução. O capitalismo arco-íris não funcionou. Não libertou as pessoas queer; embora possa ter melhorado (vagamente) a tolerância, não promoveu a aceitação. Se tivesse, não estaríamos neste problema, sentindo as mesmas ansiedades que sentimos agora. Marcas seguem o dinheiro – se for lucrativo servir a comunidade queer, eles vão agarrar e sugar a vida até que estejamos murchos e mortos, antes de drenar a próxima oportunidade de lucro.
Alcançar a tolerância já é alcançar o fracasso. As empresas não podem nos dar liberdade. Não podemos confiar no capitalismo para criar espaço para nós. Não podemos confiar nas marcas para ditar onde e quando existimos, nem devemos dar-lhes autoridade para isso. Não podemos comprar nosso caminho para a liberdade. O capitalismo é paternalista, é demonizador – ele diz a você como e quando é aceitável ser. Ele finge apoiar nossa causa e lutar por nossa história, brincando com o megafone “Para todos os nossos clientes e colegas LGBTQ +, nós amamos vocês” enquanto nos ignora instantaneamente em 1º de julho. Dá-nos pequenos expositores nos cantos das lojas que passam facilmente despercebidos e não causam muita polêmica. O problema não está em demonstrar que as pessoas queer têm poder de compra nas lojas, ou que as lojas têm o poder de nos dizer que podemos, mas sim um sistema de pensamento mais estrutural e arraigado na raiz do capitalismo que demoniza não apenas as pessoas queer, mas também todos os ‘Outros’ – negros, ciganos, deficientes, pessoas da classe trabalhadora, para dizer o mínimo.
Em vez de esperar que alguém, muito menos o capitalismo ou sua marca favorita, nos conceda o espaço para ser queer, temos o poder de sair e criar espaços queer nós mesmas. De formas pequenas ou grandes, lembramos às pessoas que existimos. Tocar música que fode com o patriarcado heteronormativo, usar saias ou ternos ou nada, pintar as unhas, grafitar arco-íris nas lojas, cortar o cabelo, falar sobre o poder queer em público, transitar pelos espaços enquanto coletivos. Interromper a heteronormatividade em todas e quaisquer formas é incorporar o queerness e o poder que vem com ele. À medida que as bandeiras do arco-íris são arrancadas e escondidas nas lojas, nós aparecemos com força total e lembramos os heterossexuais de que existimos. Ao incorporar nossa estranheza (queerness), construímos comunidades e solidariedade, educamos por meio de nossos corpos e dizemos foda-se para quem não suporta olhar. Nem sempre é fácil e nem sempre seguro – proteja a si mesmo e aos que estão ao seu redor. Mas o capitalismo continuará a nos esconder enquanto não for comercialmente viável. O fim da hierarquia e das estruturas de poder impostas deve ser a abordagem de toda pessoa queer.
Não espere que as marcas lhe digam quando existir e não espere que o capitalismo o salve. Eles não vão. Pessoas queer salvam pessoas queer.
Daniel Newton
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2023/06/17/rainbow-capitalism-will-never-save-us/
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
Só o Ipê vê, pasmo,
o tremor suado — orgasmo —,
borboleta treme e passa.
Alckmar Luiz dos Santos
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!