Cada 28 de junho se celebra ao redor do mundo o dia internacional do orgulho LGBT. Trata-se de rememorar uma data importante nas lutas pelos direitos das populações LGBT: os distúrbios de Stonewall. No entanto, como assinala a professora e pensadora argentina, Leonor Silvestri, parece ser que a comunidade LGBT hoje em dia esqueceu o papel que o Estado, através de seu braço repressor e coercitivo, a polícia, teve na opressão e as perseguições das maricas de ontem e hoje.
A proximidade que ultimamente vem tendo as lutas LGBT com o Estado é consequência da engenharia social capitalista que seduz através do poder político ou econômico e deixa em segundo plano as lutas reivindicatórias e emancipadoras. Como assinalou Lilit Herrera companheira de Silvestri e de Daría la Maracx, no vídeo: “La Internacional Misántropa horrorista: “Ya no existe Estado opresor lo que hay ahora es gente que se ganó un fondo público“. Cabe perguntarmos, até que ponto a memória de Stonewall, rebelião aberta contra o Estado e a polícia, segue sendo corretamente representada em uma época na qual os maiores avanços da comunidade consistem em patrulhas e elementos de polícias LGBT, em adaptar o LGBT ao Estado heteropatriarcal ou em carabineiros Trans?
Silvestri desde o princípio é clara: “Não há maneira de re-semantizar um Estado. Não se pode re-significar o Estado. Não há maneira de fazer um cárcere que não seja um cárcere. Não importa que logo todos os guardas sejam trans”. O Estado, como resultado do processo histórico do Hetero-patriarcado, por natureza, necessita do monopólio da violência: as definições mais certeiras de Estado dão ênfase no papel essencial da violência e da opressão. A visão de Silvestri é pessimista: não há forma de que o Estado se converta em um aliado, muito pelo contrário, é o grande lastre para as lutas reivindicatórias. No entanto, hoje em dia nenhuma luta parece fazer-se fora do Estado ou contra o Estado. Silvestri crê que o Estado heteropatriarcal deve ser transgredido, não simplesmente conquistado, não basta pedir-lhe que por favor faça tal ou qual coisa, mas dar passagem a novas formas de organização.
Faz alguns anos, com a chegada de Gabriel Boric ao poder no Chile, os conservadores mais rançosos estavam aterrados com a chegada de um presidente “abertamente progre”, no entanto, tanto no Chile como no México, temos visto que a chegada de “progres” a postos de poder dentro do Estado ou a fundação de instituições pró LGBT não significaram, necessariamente, um avanço para a comunidade. O caso de Boric é o da insurreição que não conduz a nada, que se perde nos limites que o próprio Estado ofereceu aos rebeldes. Isto se deve a que o sistema funciona de uma maneira determinada na qual não se permite “re-semantizar” sem mais nem menos questões originárias como a violência, a marginalidade ou a repressão. Então, o que fazer a respeito?
Silvestri crê que através de “mudar as subjetividades” é possível transformar a sociedade, como ela mesma assegura em mais de uma de suas classes as coisas nem sempre foram assim e o heteropatriarcado não é o único sistema social que existiu nem tampouco é o cume da organização humana. Apesar disso, a professora argentina é consciente de não possuir a fórmula mágica que transforme as consciências. Não é tão fácil, o historiador George Duby assegurava que a mentalidade humana era o que mais lentamente mudava, e quando mudava era o resultado do trabalho de várias gerações humanas, no entanto, creio que assinalar as coisas tal e como são, estoicamente e sem eufemismos, é um grande passo para mudar a subjetividade.
Este 28 de junho se celebrará o orgulho em meio dos aplausos das grandes empresas, de políticos e de instituições públicas, se marcha pelo orgulho LGBT acompanhados pelo Estado e pela polícia, quando Stonewall consistiu no contrário: um enfrentamento direto contra o governo e a polícia que oprimiam, assassinavam e intimidavam as dissidências sexuais. Como a mesma Leonor assegurou: “como vamos pôr no centro da luta contra a injustiça a possibilidade e o fazer parte do aparato repressivo do Estado”.
Manuel Covarrubias
Fonte: https://lapeste.org/2023/06/stonewall-y-la-estado-filia-lgbt/
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!