1.- Sobre as pistas do aeroporto de Barcelona e a insustentabilidade do capitalismo.
O Capital e o Estado (Generalitat incluída) têm um projeto para Barcelona, um projeto que é de fato único, um só projeto, ainda que briguem entre si (ou finjam brigar frente ao público) por motivos políticos/eleitorais ou para saber quem fica com a maior fatia do bolo.
O projeto único: seguir devastando a região (o pouco que ainda não foi devastado) e, se agora a industrialização já não é o suficiente (a produção industrial, a exploração do trabalho e sua nocividade se espalharam para outros países), a atividade do capital se desloca para o setor de serviços (em especial turístico).
Neste setor, tanto a terra como os trabalhadores e a natureza, passam a ser mercadorias. Ser mercadoria não as poupam da devastação, pelo contrário, a agrava, são necessárias infraestruturas (hotéis, comunicações…) e, o que não é devastado diretamente se banaliza e se converte em parque temático paisagístico.
Este é o caso do tema da ampliação do aeroporto de Barcelona, que recentemente foi reavivado, com o pacto orçamentário do governo e a sequência de propostas que ele gerou.
As propostas e ameaças de propostas das quais se têm notícias são basicamente 3 (ainda que a Foment de Treball digam que sejam 9):
1.- A primeira é um ministério, que está sendo elaborado pela patronal do Foment del Treball (os criadores do banditismo antisindical dos anos 20 do século passado), https://www.foment.com/es/constitucion-comision -ampliacion-aeropuerto-barcelona/ , neste link é possível ver a composição da comissão.
A Comissão é presidida pelo presidente da Câmara de Contratistas de Obras de Cataluña (os donos do cimento, curiosamente) e 24 votantes. Os votantes representam todos os aspectos do capitalismo local, o próprio Fomento, há outra grande patronal, a CECOT, o Gremio de Hoteles, Turismo de Barcelona (consórcio promovido pelo Ayuntamiento e o setor de hotéis), a Cámara de Comercio, o IESE… e a farsa ambientalista de Jordi Sargatal, ex diretor do “Parc dels Aiguamolls”, atualmente executivo de uma empresa turística. Estas propostas são um mistério (dizem que incluem um novo aeroporto em Vilafranca?!), já que não será apresentada até o fim da primavera ou começo do verão, mas está nítido que terá um viés turístico e de obras públicas.
2.- A mais recente proposta, de um grupo de lideranças acadêmicas reunidas ao redor da Universidad Pompeu Fabra y el Colegio de Economistas, com a participação estelar do ex conselheiro Mas Colell, professor da UPF e autor da política neoliberal (incluindo a privatização do saneamento) nos governos de Artur Mas (2010-2016), este projeto é a farsa ambiental de Joandemènec Ros, ex professor de ecologia da UB e ex-presidente do Institut d’Estudis Catalans. É uma proposta de cimento, como pode ser visto neste vídeo publicitário.
https://www.youtube.com/watch?v=koG6RDxkjhk . De alguma maneira o grupo responsável pela proposta está vinculado com a comissão de Foment del Treball, já que compartilham alguns membros.
3.- A proposta da AENA, de ampliação, foi rejeitada, mas contava com o apoio do Estado e de JuntsxC (na época, governo), consiste basicamente em ampliar a terceira pista em 500m. Todavia, é preciso acrescentar 300 metros de sinalização, como se pode ver na imagem em anexo, isso propõe “de fato” avançar além da lagoa de Ricardia (https://www.youtube.com/watch?v= 08Lu_vGRFf8 ).
O projeto de AENA tem muitas propostas semelhantes enviadas por várias pessoas e entidades, tratando de terraplanar os dois extremos da pista (350m até a Ricardia, 100m até o Remolar…), o problema é que ela está localizada entre duas lagoas, Ricardia e Remolar e não há mais espaço para ser ocupado.
É preciso dizer que as três propõem desviar milhares de passageiros para Girona e Reus (sobre Lleida não dizem nada), a segunda proposta, que fala de uma pista sobre o mar prevê desviar 9 milhões de passageiros. Se levarmos em consideração que em 022 entre Reus e Girona serviram a um milhão de passageiros, podemos ver como se transfere o problema para outro local (típico de Barcelona). Qual será o impacto de multiplicar por 10 os vôos nestes aeroportos?
O desvio de voos para aeroportos “periféricos” tem como consequência a construção de novas ruas e estradas ou trens rápidos, um novo passo na devastação do território.
Resumindo, podemos dizer que estas 3 propostas serão feitas para agradar ao empresariado, especialmente o de obras públicas (milhares de milhões na construção) e o de turismo (aumentar em muito os mais de 40 milhões de turistas em El Prat), dois setores que, por hora movem a economia, assim continua o desenvolvimento baseado em coisas como o Mobile World Congress, Feira Auddiovisual, Copa América ou mesmo, o projeto do gasoduto de hidrogênio.
O foco está no transporte de passageiros, mas não é preciso esquecer do crescimento do transporte de mercadorias. Em Barcelona movem-se mais de 130.000 toneladas com um valor estimado de 7.000 mil euros. Hoje, as empresas de transporte de carga que lideram o transporte em Barcelona são DHL, Amazon Air e UPS… que se expandem montadas no crescimento do devastador e-comerce.
Existe uma quarta opção que é a que propõem as plataformas e organizações “opositoras” baseadas em sustentabilidade ou, as mais radicais e “consequentes”, no decrescimento. São opções que não se concretizam totalmente, são como uma hidra com muitas cabeças, por exemplo não tem nítido o que seria o “turismo sustentável” que muito se parece com o “turismo de qualidade”. De fato, tudo o que “sustente” ou “decresça” dentro do sistema vem a ser uma continuação da dominação e da devastação.
O mundo das plataformas é um mundo confuso, onde se encontram paradoxos como, na luta contra a gentrificação se igualam aqueles que se opõem as rotas turísticas com aqueles que não querem um instituto próximo pois pensam que este vai fazer baixar o preço de suas propriedades… Há também o problema do imediatismo das instâncias políticas (governos de todo tipo, estatal, autônomo, municipal…), partidos e empresas capitalistas que através de subversões acabam reorientando, detendo, silenciando e mesmo eliminando qualquer dissidência.
Sem dúvida dentro dos movimentos contra as grandes infraestruturas existem pessoas e grupos muito válidos com os quais se pode confluir, mas vigiando que a interrupção das reivindicações não está nas mãos de ninguém e que a agência não será marcada pelos interesses de uma facção do Estado e do Capital.
O problema não é um aeroporto novo ou maior, o problema não é a destruição da um espaço natural, por mais escasso e vulnerável que seja, o problema não são as emissões e o descumprimento do tratado de Paris (que por outro lado, não nos protege da “catástrofe” climática), o problema não é que o turismo massivo gentrifique as cidades e nos expulse para a periferia… o problema é a devastação capitalistas e os Estados.
Não é possível encontrar alternativas dentro do sistema atual pois todas são falsas. Apoiar aeroportos menores (mais eco sustentáveis?) ou conexões entre ele e o AVE [trem de alta velocidade] ou qualquer outra via “eficiente” e “sustentável” é, no melhor dos casos, uma tolice e no pior cenário um engano premeditado para perpetuar um sistema de dominação e devastação. É preciso deter qualquer tipo de ampliação!
Aeroportos? Nem El Prat, nem em Reus, nem em Riudellots de la Selva.
Nem Hard Rock’s, nem rodovias.
Contra a devastação da terra pelo capitalismo extrativista!
Vamos levantar as pistas de pouso, as autoestradas, os trilhos do trem de alta velocidade… e vamos renaturalizar o espaço!
Tradução > 1984
agência de notícias anarquistas-ana
Sob a lua
a sombra que se alonga
é uma só.
Jorge Luis Borges
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!