Imagens pouco conhecidas da Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939)
Que impacto podem ter as fotografias que o autor escolheu manter em segredo?
Há quatro anos, numa casa perto de Barcelona que estava prestes a ser demolida, foram encontradas duas caixas vermelhas contendo 5.000 fotografias sobre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) tiradas por Antoni Campañà i Bandranas (Arbúcies, 1906 – St. Cugat del Vallès, 1989), um dos maiores fotógrafos catalães do século XX.
Por que ele escolheu esconder sua visão da guerra? Ele era católico e mesmo assim fotografou a revolução anarquista que incendiou as igrejas da capital catalã. Ele era um liberal e nacionalista catalão, mas fotografou a ascensão do fascismo espanhol nas ruas de Barcelona. Antoni Campañà não foi nenhum herói. Ele não escolheu a guerra, mas ela o alcançou. E não fugiu, continuou fotografando, buscando incansavelmente a beleza através de suas lentes, pois desde a adolescência era sua paixão. Até o golpe fascista no verão de 1936.
Sua câmera é sinônimo de complexidade. Ele não fotografou uma cidade em guerra, ele fotografou sua cidade em guerra, como um país fotografando a si mesmo.
Ao contrário dos grandes fotógrafos estrangeiros que desembarcaram numa Espanha dilacerada, Campañà conhecia intimamente a realidade do terreno. Diferentemente de outros grandes fotógrafos de seu país, ele não colocou sua câmera a serviço de uma causa ideológica. Ele a usou apenas para expressar sua própria dor.
Ele não estava tirando fotos com fins políticos, mas todas as partes em conflito aproveitaram sua extraordinária capacidade de evocação, mais do que fizeram com outros fotógrafos. Ao escrever legendas radicalmente diferentes, republicanos e fascistas manipularam as mesmas fotografias de Campañà para fins propagandísticos antagônicos, demonstrando que quem escreveu a legenda sempre se apropria da imagem.
Terminada a guerra, em 1939, guardou as suas cinco mil fotografias – quase todas inéditas – em duas caixas vermelhas que se recusou a abrir, mesmo após a morte de Franco, quarenta anos depois: não queria que a ditadura usasse as suas fotos para identificar e punir combatentes republicanos. Como tantos espanhóis, ele queria acima de tudo esquecer. Então ele escondeu seus ícones de dor nas duas caixas que estamos abrindo agora.
Abertura quarta-feira, 28 de junho de 2023 às 18h30, no Pavillon Populaire, Esplanade Charles de Gaulle — Montpellier
Fonte: https://www.montpellier.fr/506-les-expos-du-pavillon-populaire-a-montpellier.htm
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!