A Azevedo & Travassos, uma das empresas de infraestrutura mais antigas do país, anunciou a recriação de seu braço petrolífero: a A&T Petróleo. Os motivos para a empreitada são óbvios: o incessante crescimento da indústria de petróleo no Brasil. Curioso para alguns e não tanto para outros, o país também é um dos que atraem maior volume de investimentos no que se convencionou chamar de transição energética. Projetos que visam à preservação de áreas ambientais, ao crédito de carbono e a outras inovações levadas adiante pela racionalidade neoliberal proliferam. Ocorre que a caça ao ouro negro e as medidas atenuantes e sustentáveis pisam lado a lado em busca de rendimentos e concentração de riquezas. Não à toa, a Shell, uma das maiores empresas petrolíferas do planeta, agradece ao Brasil, uma vez que 400 mil barris de petróleo são produzidos cotidianamente pela multinacional britânica no território. Afinal, o desenvolvimento sustentável não está dissociado da apropriação de recursos alheios: é apenas capitalismo.
ares pútridos
Há grande investimento em usinas eólicas no país. A maioria delas foi construída na Caatinga nordestina. Essa fonte, “renovável, barata e limpa”, é uma das apostas do desenvolvimento sustentável. Somente na Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão da Onça, na Bahia, operam quatro complexos. Há mais dois em ampliação e uma usina de energia solar. A instalação das usinas, além de destruir a vegetação e o espaço onde coexistem inúmeros seres vivos, está diretamente atrelada à matança de onças e aves raras, como a arara-azul. Os pássaros colidem fatalmente com as turbinas, enquanto as onças morrem de sede ou durante o deslocamento em busca de água. São alvos de atropelamentos, armadilhas de caçadores e tiros de proprietários rurais que temem “perder” algum dos animais que confinam e criam para o abate e consumo humano. As energias limpas servem à continuidade dessa ordem. A sustentabilidade zela pelo Humano e pela sobrevivência capitalista no regime da propriedade. Com tanta eletricidade, luz e velocidade, mal se notam as aves dilaceradas e os cadáveres das onças esturricadas.
Fonte: Flecheira Libertária, n. 730, 22 de agosto de 2023. Ano XVIl.
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https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2023/08/flecheira730.pdf
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