Aviões, submarinos e fuzis não garantem as necessidades básicas da população

Um sintoma da falta de compreensão dos governos/partidos/Estado com sua população é o descaso apresentado às demandas básicas e necessárias dessa população. Pensemos essas necessidades: uma habitação adequada para viver com dignidade; um sistema de saúde decente que tenha uma oferta de atendimentos preventivos e orientações que visem realmente saúde e não correr atrás de doenças; um transporte que motive as pessoas a usá-lo, de valor acessível e com qualidade; por fim uma educação que realmente crie cidadãos/cidadãs críticos e compromissados com o bem estar geral, pois sabe que isso afetará a todxs. Tendo isso em conta o que temos em nossa realidade? Notícias de compra de aviões de caça e investimentos em tecnologia de armas criando uma nova remessa de fuzis, de submarinos nucleares e outras bizarrices mortais…!

Como esses caças, submarinos e esses fuzis poderão curar a saúde de alguém? Poderão assegurar habitações populares a todas as cidadãs brasileiras? Poderão educar mais cidadãs que repudiam a violência? Se sua resposta se parece com a nossa, de que isso não resolve essas questões urgentes e existentes há muitas décadas, então também percebe que nossos “administradoras” há muito tempo só nos iludem e nos enganam com promessas que não cumprem, ou que só realizam sobre enorme pressão popular, ou nem isso, pois nas manifestações dos últimos anos, se fizeram de pessoas surdas e cegas as demandas que sabiam de cor e salteado, mas se fizeram de surpresas aos ocorridos.

Uma vez salientado isso, voltemos às questões dos caças e fuzis que se tornaram notícias nos últimos anos.

Os Mirages ultrapassados foram aposentados e serão substituídos por 36 caças Gripen suecos, que ao final do contrato, os suecos transferirão 100% da tecnologia desses caças, já defasada, para o Brasil. Esse é o jeitinho brasileiro de contornar suas limitações tecnológicas por falta de investimento na área, levando a manter uma esquadrilha retrograda e pouco efetiva em caso de um conflito aéreo. Os especialistas da área possuem a hipótese de que um país com uma extensão geográfica enorme (mais de 8 mil quilômetros de fronteira e a maior floresta equatorial do mundo) precisa ter meios de “dissuasão” aos potenciais “invejosos, aventureiros, cobiçadores, bandoleiros, ladrões e bandidos” de outros países. Não precisa ser um gênio para perceber, por exemplo, que nosso território vive sendo violado por muita gente vizinha. Pegue as milícias do narcotráfico, dos garimpeiros e madeireiros clandestinos, vivem passeando em nosso território amazônico, com poucas perspectivas de serem parados, dissuadidos em nos visitar!

Há ainda os inúmeros aviões de traficantes que cruzam o país, e lembremos, que até aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) são usados para esse serviço ( veja essa reportagem ilustrativa http://www.stm.jus.br/publicacoes/noticias/noticias-2011/coronel-que-traficava-cocaina-em-avioes-da-fab-perde-o-posto-e-a-patente). Sem as necessidades básicas atendidas para a maioria de nossa população, sem uma ampla mudança nas bases morais desse “país”, se gastará muito em medidas paliativas de conter a violência, enquanto os valores da acumulação econômica e enriquecimento ser a referência, gerando desigualdades econômicas e sociais gritantes, com muito acerto veremos investimentos maciços em armas que serão usadas para a manutenção dessas desigualdades, numa ampla espiral de violência e barbárie.

O caso dos fuzis também é muito emblemático.

O Brasil mantém o setor bélico sob controle estatal e possui cinco empresas que formam o setor (a Forjas Taurus S.A., IMBEL, CBC, E. R. Amantino e Amadeo Rossi S.A.), desde o tempo da Ditadura de 64, quando os milicos se desentenderam com seu maior aliado, o EUA, e buscaram produzir uma tecnologia militar 100% nacional, isso com uma defasagem monstro, porque era algo que deveria ser feito com a independência do país e não 100 anos depois. Essa busca por uma tecnologia de substituição dos artigos militares importados fez o Brasil criar a IMBEL (Industria de Material Bélico do Brasil) em 1975, visando suprir essa necessidade.

Como sabemos, as forças armadas (isso em qualquer lugar) é tão produtiva como um tanque seco de carpas no deserto, logo é um enorme ônus para a sua manutenção, imagina então financiar pesquisas nessa área. Muitos tem justificado que muita tecnologia de ponta foi desenvolvida pelas demandas militares e espaciais. Nos parece que ao olhar desses pesquisadores, são menos nobres as demandas básicas do povo!

E pasmem, essa nossa indústria bélica mantém uma pauta de exportação bem ativa, somos o 4º exportador de armas leves no mundo (países da América Latina, da África e do Oriente Médio são nossos fiéis clientes) contribuindo para a dificultar a cooperação social, em nome da erradicação da paz nesses lugares. Só alguém sobre influência de personagens de Charles Bronson ou de Clint Eastwood para defender que as armas garantem a paz pelo medo que causam onde são apresentadas, mas isso não leva a paz, e sim ao ressentimento e instiga ao revanchismo e vinganças estéreis, assassinatos e chacinas, crimes contra a humanidade.

Como podem concluir, a IMBEL passou por uns maus bocados, sempre sendo mantida com recurso público, uma vez que é uma área “estratégica” para o país. Com a necessidade de aposentar o FN FAL (Fuzil Automático Leve – 7,62mm, popularmente conhecido no Brasil como “sete meia dois”), a IMBEL recebeu uma injeção de investimentos para modernizar sua unidade e oferecer um projeto para a produção de um fuzil tático moderno, o IA2 5.56 que surgiu após 4 anos de pesquisas regadas com dinheiro público. Os gastos públicos não para aí, ainda deve ser aprovada pelos trâmites burocráticos dos militares e só depois o governo comprará de sua indústria os fuzis, isso mesmo, o governo vai comprar de si as armas para trocar os seus fuzis velhos! Os cofres públicos parecem cornucópias para os “certos setores”, setores elencados pelos administradores como prioritários como é o caso do futebol e armas. Realmente existe um abismo entre as prioridades do Estado e as de seu povo, e o governo brasileiro faz questão de deixar isso bem claro com suas políticas assistencialistas e paliativas.

Assim como no exemplo do transporte de drogas por aviões da FAB, um dos principais negociadores de armas no mercado paralelo são grupos de militares que por possuírem acesso facilitado aos armamentos de uso exclusivo das forças armadas, conseguem abastecer a avidez de armas do mercado interno, abastecendo os grandes centros criminais do país.

Uma nota importante é que enquanto a indústria bélica brasileira é um cartel sobre controle do Ministério da Defesa, podemos ver que nos EUA, por exemplo, existem fábricas modernas aos montes e inúmeros armeiros cadastrados. Sabemos que há um investimento maciço nessa área nos EUA, porque desde a Guerra da Secessão, a gestão de Abraham Lincoln percebeu o potencial econômico de uma guerra, por serem muitos gastos e poucas perguntas, mantiveram a mesma política até hoje, sempre buscando um suposto inimigo para justificar os gastos absurdos que ultrapassam os 10 maiores produtores de armas mundiais (China, Rússia, França, Reino Unido, Japão, Arábia Saudita, Alemanha, Índia e Brasil).

Reiterando que com as escolhas recorrentes das administrações eleitas por áreas que não atendem as demandas básicas populacionais, isso leva ao agravamento e muito dos problemas sociais levando à um crescente aumento da vulnerabilidade e a possibilidade de muitos, por não verem outro caminho e até pelo péssimo exemplo de muitos desses “administradores” em cometerem roubos e desvios de dinheiro, também se aventurarem por essa via, criando uma “suposta demanda por mais segurança” e assim justificar o aumento com gastos com armas e modernização das forças de repressão.

O Estado, seus administradores se desviam das prioridades essenciais de nossa gente e respondem as nossas demandas com coisas estranhas e distantes do que precisamos. A resposta a isso é clara, as variações de descontentamento que vão de pequenas ações até grandes manifestações de rua e pela falta de compreensão pela surdez e cegueira dessas administrações , poderão recorrer cada vez mais e maior, porque aviões e fuzis não garantem as necessidades da população.

anarkio.net

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agência de notícias anarquistas-ana

arco-íris no céu.
está sorrindo o menino
que há pouco chorou

Helena Kolody

One response to “Aviões, submarinos e fuzis não garantem as necessidades básicas da população”

  1. letícia

    Para os governos, todos eles, o povo deveria é comer bala…