O resgate de uma História Negra
Nos EUA, em 23 de agosto de 1927, faz exatos 96 anos, eram assassinados na cadeira elétrica os companheiros anárquicos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti. Acusados de roubo e homicídio a um importante homem de negócios, receberam o linchamento jornalístico, jurídico e policial.
Sete anos durou o julgamento e a sentença só veio a confirmar o que se sabia desde o início…seriam encontrados culpados, mais além de qualquer prova ou perícia. O poder nunca esquece a quem o confronta e utiliza para o castigo exemplificador, tudo aquilo a que possa recorrer, se é necessário transgredir sua própria legalidade, o fará sem escrúpulos, porque busca a sentença que paralise e amedronte aos demais.
Os companheiros Sacco e Vanzetti pertenciam a um entorno ácrata que se atrevia a desafiar o poder, na palavra e na ação, na teoria e na prática cotidiana. Um entorno que se gestou sem líderes, nem dirigentes, que soube afiançar laços solidários e encontrar novos companheiros, superando a adversidade do contexto, as barreiras idiomáticas, as angústias econômicas, as extenuantes jornadas laborais e a sempre presente mira policial sobre eles.
Aí estavam, os incômodos anárquicos, migrantes na terra prometida, no país da “liberdade e das oportunidades”. Anárquicos que com orgulho viviam gestando projetos antiautoritários. Assim foram levantando jornais e diferentes instâncias que lhes permitissem coletivizar o conhecimento, expressar suas ideias e concretizar suas inquietudes, sempre perigosos para o poder.
Cronaca Sovversiva foi uma dessas publicações e em torno dela, todo um difuso entorno foi forjando companheirismo e ação, afiando práticas e discursos, alimentando a bela chama negra da Anarquia.
Em pouco tempo Cronaca foi ilegalizada, seus membros e colaboradores perseguidos, detidos em diferentes circunstâncias, deportados ou mortos. Sobre eles se levantaram não só acusações judiciais, também difamações e deformações, desde o poder e seus falsos críticos. Algumas delas se mantêm vivas até os dias de hoje, porque continuam sendo úteis para apaziguar o conflito, envolvendo-nos no vitimismo e na derrota.
Os companheiros Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti não são duas vítimas inocentonas de uma montagem policial, não foram arrastados por um líder que guiava ou maquinava seus passos. Foram membros de um entorno que com altivez decidiu agitar, solidarizar e acionar de acordo a suas ideias e valores anárquicos. Cada escrito, cada comício, cada greve, sabotagem, panfleto ou mostra de solidariedade, foi levada a cabo de maneira consciente, buscando ser um aporte à maré antiautoritária.
O poder cobrou vingança em momentos onde a multiformidade anárquica rachava os muros do domínio e devolvia os golpes com orgulho. Para castigar a um entorno difuso escolheram entre seus arquivos policiais a estes dois companheiros, que desde o primeiro momento, entenderam o teatro judicial que enfrentariam.
Não falamos de montagem nem entorno a 1927, nem a 2010, a vingança policial, jornalística e jurídica, mantêm as mesmas táticas apesar dos anos, nós, desde a Anarquia, seguimos sendo orgulhosos e eternos inimigos do poder.
Tiramos o pó de nossa negra História, para encontrar essa fibra que nos conecta e irmana, resgatamos nossos companheiros do esquecimento e da difamação, aprendemos deles, nos nutrimos de sua experiência, definitivamente, escolhemos de que material constituir-nos, por isso não nos definem os golpes que o inimigo possa nos dar, nos definimos por nossa posição irrenunciável de confrontar qualquer forma de autoridade.
Com Nicola Sacco, Bartolomeo Vanzetti, Luigi Galleani, Gabriella Antolini, Mario Buda, Carlo Valdinoci, Mauricio Morales, com tantos companheiros que vivem e se aninham em nossos negros corações, seguimos de pé…
Pela Anarquia!
Até a Liberação Total
Biblioteca Antiautoritária Sacco y Vanzetti
23 Agosto 2023
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
livro aberto gelado
o norte geme no vento
sobre a página branca
Lisa Carducci
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!