O aparelho de Estado é a única arma a que a esquerda recorre contra o fascismo.
Por Passa Palavra
Observamos com espanto a catarse da esquerda no Brasil com os julgamentos do 8 de janeiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A esquerda, a nosso ver, ignora a quantidade de precedentes abertos nesses julgamentos e o fato de que pretender usar o aparelho de Estado para derrotar o fascismo é uma ideia das mais perversas. Pior ainda, hoje no Brasil o aparelho de Estado é a única arma a que a esquerda recorre contra o fascismo, pois já não dispõe de quaisquer armas ou meios próprios, mediante os quais possa fazer frente à ameaça fascista.
Por outro lado, salta aos olhos a passividade da base bolsonarista diante do cerco institucional. Não convocaram nenhuma manifestação de protesto ou algo do tipo, o que não parece uma estratégia, mas um sintoma de refluxo do movimento, que já não conta com o aparato estatal nas mãos, nem com o apoio empresarial, nem com o engajamento das Forças Armadas.
O bolsonarismo não está sendo derrotado pelos trabalhadores, e sim pelo mesmo aparelho de Estado que pretendeu reforçar contra os trabalhadores, com o aval da esquerda.
O pior é que essa dupla derrota da esquerda — de um lado, sua incapacidade de derrotar ela mesma o bolsonarismo e, de outro, sua incapacidade de contar com qualquer outra coisa senão o Estado e seu aparato repressivo — aparece-lhe, numa espécie de delírio coletivo, como uma vitória. Na falta de vitórias que possa chamar de suas, a esquerda ilude-se com a vitória de uma fração de seus inimigos sobre a outra, não percebendo que, no exato momento em que cogitar recolocar na ordem do dia a luta social anticapitalista, será ela mesma a nova vítima — e uma vítima privilegiada — do sistema de justiça.
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Mas que bolsonarismo é esse que está sendo derrotado?
Uma coisa que nos chama a atenção é que, ao mesmo tempo em que o STF prossegue implacável na criminalização da base bolsonarista do 8 de janeiro, e ao mesmo tempo em que prosseguem as investigações que implicam Bolsonaro, já inelegível, numa conspiração para tentar atrair a cúpula das Forças Armadas para um golpe de Estado, o governo Lula faz diversos acenos ao Partido Liberal (PL) de… Bolsonaro, um partido que não é apenas o partido ao qual Bolsonaro está filiado, mas um partido programaticamente bolsonarista.
Em 2023 Lula já empenhou mais de 24 bilhões de reais em emendas para parlamentares, tendo como maior beneficiário justamente o PL, para quem o governo reservou mais de 2 bilhões de reais. A canalização de recursos para o PL gerou, inclusive, uma divisão da bancada do PL na Câmara dos Deputados, com “bolsonaristas raiz” chamando os deputados dispostos a apoiar projetos econômicos do governo Lula de “comunistas do PL” ou “emendistas”.
Agora Lula põe em prática uma reforma ministerial para abrir espaço, em cargos do alto escalão do governo, para membros de partidos que apoiaram Bolsonaro, provocando críticas públicas do presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Tudo isso parece estar relacionado a um fenômeno que foi chamado (aqui) de “bolsolulismo”, definido como “um movimento […] amplo de adesão de bolsonaristas, sejam agentes políticos, religiosos e económicos ou meros eleitores anónimos, a Lula”.
Perante tudo isso a esquerda permanece cega, ignorante, impotente ou mesmo cínica, ou, como vimos acima, delirante.
>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:
https://passapalavra.info/2023/09/150090/
agência de notícias anarquistas-ana
Cai da folha
a gota d’água. Lá longe,
o oceano aguarda.
Yeda Prates Bernis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!