Flecheira Libertária 738 | “As lutas anticlericais e antimilitaristas parecem esquecidas até mesmo entre muitxs libertárixs.”

existências esturricadas

As águas dos rios Juruá, Purus, Madeira, Negro e Solimões estão secando. Ao ritmo veloz do capitalismo e dos aparatos tecnológicos, os afluentes do rio Amazonas são drenados, as matas seguem incineradas e terra, água, ar e seres vivos prosseguem envenenados com metais pesados. Intoxicação, desnutrição, fome, diarreias agudas, problemas respiratórios, malária e crescentes casos de enfermidades neurológicas em crianças e mulheres assolam aldeias amazônicas. Os saberes dos mais velhos e dos pajés não dão conta das doenças capitalistas. Gente é morta. Outros bichos são mortos. As florestas são mortas. Lagoas, lagos, riachos, cachoeiras e rios imensos viram fluxo rarefeito de lama, esgoto, mercúrio e afins; cemitérios fluviais. Qualquer recurso da saúde do Estado, com suas secretarias e ministérios e forças tarefas militares, ou do mercado, com suas tecnologias e ciência e fármacos, recorre aos mesmos meios que produzem essa interminável mortandade, seus lucros e governos. Não à toa, se reduzem à distribuição de cestas básicas recheadas de ultraprocessados e produtos que nada têm a ver com as dietas indígenas; a aplicação dos saberes científicos, médicos e farmacológicos; a marcha nefasta dos fardados.

a tal da guerra

Os soldados israelenses não leram os comunicados da inteligência de Estado alertando sobre possível ataque do Hamas. Ou não foram enviados? Se foram, eis mais uma confirmação de que os jovens evitam leituras, selecionam notas breves, preferencialmente por imagens ou sons (até as músicas populares estão sendo reduzidas para menos de 2 minutos). A crença no monitoramento eletrônico também entrou em pane. O Hamas soube dissimular e ultrapassar as simulações, com ortodoxias políticas e religiosas. Parece pretender reavivar a ideia de Estado islâmico. Não faltam analistas a pedir um Estado Palestino ou um Estado Israel em nome da paz. Enfim, eis mais fortalecimentos da direita e da extrema direita. Os do centro se beneficiam. Aos de esquerda, o ostracismo. Tudo política “micro” ou “macro” de Estado. Tudo em nome de falta de Estado e de correção na segurança eletrônica. Tudo em nome das empresas de monitoramento e forças repressivas, com ou sem democracia. Tudo em nome da paz com os sheiks.

somos anticlericais e antimilitaristas

As lutas anticlericais e antimilitaristas parecem esquecidas até mesmo entre muitxs libertárixs. Tornaram-se ecumênicos e democráticos? Fazem coro às celebrações de socialistas autoritários que almejam imputar aos soldados islâmicos uma “resistência”? Esquecem-se que a religião é o princípio do Estado. E que as guerras massacram, também, as revoluções e as práticas libertárias. Sob o barulho insuportável das explosões, aviões, tanques e berros inauditos, ácratas da Federação Anarquista Era não vacilam: “Dos EUA ao Irã, com suas interferências; do governo israelense, suprimindo e usurpando as terras dos povos árabes palestinos, aos grupos islamitas como o Hamas e a Jihad Islâmica, que usam das pessoas como escudos humanos para suas ideologias reacionárias e inumanas; todos são cúmplices e responsáveis por essa situação. Mesmo que aparentem ser opostos e inimigos.”.

sobre a captura

Oscar Wilde é uma referência para certas lutas LGBTQIA+. E por ter se tornado esse emblema, a prisão de Reading, cárcere na qual ficou preso na Inglaterra, é atualmente alvo da reivindicação de movimentos gay. A finalidade é que, em 2023, a prisão, hoje desativada, torne-se, com chancela do Ministério da Justiça da Inglaterra, um museu de memória de lutas do movimento gay. Todavia, Wilde foi contra a prisão, a justiça e seus tribunais. Se a prisão de Reading foi desativada, para que insistir em algo que a substitua? Por que negociar algo com o Ministério da Justiça, ministério que segue a produzir sentenças e encarceramentos contemporâneos?

um presente

Wilde é um presente. É abolir o tribunal, a prisão de Reading e o direito penal para sempre. E, depois, fazer uma festa deliciosa. A abolição é uma urgência para anarquistas como ele, uma ação direta sem concessões à política. Wilde foi um anarquista (militantes comportados que se virem!) e ponto. Não há editora nem tribunal que segure uma vida livre. Viva, Wilde. Viva!

Fonte: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2023/10/flecheira738.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

flores e frutos
passarinhos cantantes
renascimento

Stella Maria Pedrosa