[Espanha] Libertários go home!

Sem dúvida, vai ser preciso muito para que os funcionários, especialmente os que trabalham na mídia, parem de usar o termo anarquia como sinônimo de caos, violência e desordem.

Por Antonio Pérez Collado | 08/10/2023

É especialmente irritante quando, por anarquia, querem nos vender o panorama resultante da aplicação dos dogmas básicos do capitalismo (guerra, exploração, colonialismo, pilhagem de recursos, etc.) em qualquer canto do mundo; mais especificamente no terceiro mundo. Esse tratamento é mantido apesar do fato de que até mesmo o dicionário, tão relutante e lento para mudar, agora reconhece como prioridade que a anarquia é uma ideia política, um projeto para uma sociedade livre sem autoridade estatal.

Mas, para nosso desespero, antes que o uso correto da palavra anarquia seja normalizado, estamos assistindo impotentes à introdução de uma nova mudança que tornou as coisas um pouco mais complicadas e acentuou o impasse ideológico sofrido pela maioria da população espanhola. É a chegada – aparentemente para ficar – da palavra “libertarianismo” que, como todas as modas adotadas pela linguagem popular, vem da língua inglesa e, acima de tudo, da influência cultural dos Estados Unidos.

O problema para aqueles de nós que se expressam em qualquer um dos idiomas peninsulares é que nessas terras os termos anarquista e libertário são usados como sinônimos, embora existam algumas nuances entre eles que marcam certas diferenças, como apontam certos pensadores e estudiosos do movimento libertário.

Na Espanha (a América Latina merece uma avaliação separada), o conceito de libertarianismo quase não era usado até poucos anos atrás. Na América do Norte, no entanto, o termo circulou normalmente em revistas e livros, às vezes marcando as diferenças com o anarquismo tradicional e às vezes misturando teorias de ambos os campos, dando origem a um programa que já não tem muito a ver com a acracia. Um caso diferente pode ser encontrado na América Latina, onde a ideia de libertarianismo não se limita exclusivamente ao anarquismo, mas também se aplica àqueles que defendem posições que coincidem com os primeiros líderes da inacabada luta de libertação nacional. O que está claro é que na América de língua espanhola também não há coincidência de significado com os usuários do inglês.

Porque, em essência, o libertarianismo representa a filosofia política que defende uma sociedade em que a liberdade individual e a liberdade de empreendimento não são regidas por nenhum governo, uma vez que se pressupõe que é o mercado que regula as relações e a propriedade privada que garante o progresso social. Na Europa, via de regra, essa teoria é chamada de capitalismo selvagem, ultraliberalismo ou neoconservadorismo.

O poder de penetração das ideias vindas do norte do Rio Bravo parece irresistível e já temos em toda a Europa nossos próprios políticos, filósofos e economistas propondo o mesmo absurdo que triunfa nos EUA: redução dos impostos e, logicamente, dos serviços sociais para a população mais desfavorecida, privatização de todos os setores econômicos, cortes nos subsídios e nas pensões, liberalização total dos preços e outras medidas para enfraquecer o público em benefício das grandes empresas e dos bancos, entre as quais se destaca, por sua crueldade, a eliminação de qualquer barreira ao movimento do dinheiro, enquanto se fecham as fronteiras para as pessoas empobrecidas pelo próprio capitalismo.

Longe de serem novas ideias, todas essas propostas neoliberais estão no DNA do velho capitalismo e sua contribuição para o avanço da justiça social é totalmente negativa. Não devemos aceitar os cantos de cisne (ou cantos de abutre) dos apóstolos europeus convertidos do capitalismo ianque e lutar por uma Europa e um mundo livres, coletivistas e solidários.

Fonte: https://www.elsaltodiario.com/alkimia/libertarians-go-home

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.

Fred Matos