[Reino Unido] Lembrando o companheiro Barry Horne, a 22 anos da sua morte

A morte de Barry Horne completou 22 anos neste sábado, 5 de novembro. Ativista britânico pela liberação animal, ele levou a cabo distintas ações de sabotagem com dispositivos incendiários contra alvos vinculados à experimentação e a exploração animal, feitos pelos quais nunca se arrependeu e que sempre admitiu com orgulho. Barry participou ativamente em incêndios de lojas de peles, assim como no incêndio que destruiu as instalações da “Boots The Chemists” na ilha de Wright, por testar os seus produtos em animais (os danos foram avaliados em mais de 3 milhões de libras). Também levou a cabo liberações de animais e outras sabotagens menores.

Barry Horne foi capturado e condenado a 18 anos de cárcere, ao longo dos quais levou a cabo 4 greves de fome consecutivas, com a intenção de persuadir ao governo e a imprensa para falar acerca das grandes quantias de dinheiro dos impostos destinado às práticas de vivissecção e experimentação com animais, já que o candidato do Partido Trabalhista prometera um debate público a respeito quando chegou ao poder em 97, promessa que, como era de esperar, nunca cumpriram…

Esgotado e debilitado pelas 3 greves anteriores (uma das quais de quase 70 dias, que causou-lhe perda de visão e danos irreversíveis nos rins), Barry decidira arriscar-se com uma nova greve, ante a indiferença e a falta de palavra do governo com as 3 greves anteriores. A escassa distância temporal entre cada uma das 4 greves de fome, custou a vida de Barry. Na segunda-feira, 5 de novembro de 2001 pela manhã, no hospital de Ronkswood, em Worcester, Barry morria finalmente duma falência hepática depois de ter permanecido 18 dias sem comer. Barry ignorara deliberadamente as advertências dos médicos, e rejeitara a alimentação assistida. Queria ir até o final, e até ali chegou.

Os meios de comunicação de rapina festejaram a sua morte, qualificando-o de terrorista e usando a sua figura para criminalizar a todo o movimento pelos direitos dos animais e a todas as ativistas que lutavam contra o especismo e a exploração. O jornal “The Guardian” destacou nesta miserável difamação do companheiro com um artigo escrito pelo jornalista Kevin Toolis que falava de Barry do seguinte jeito: “Em vida ele foi um João-Ninguém, um lixeiro convertido em incendiário. Mas morto Barry Horne alça-se como o primeiro verdadeiro mártir do mais exitoso grupo terrorista que a Bretanha jamais conheceu, o movimento pelos direitos dos animais”.

Para muitas de nós, ao contrário, Barry Horne, longe de ser esse tolo terrorista e violento que os meios quiseram pintar com seus restos ainda quentes na morgue do hospital, representa ainda, 22 anos depois da sua morte, todo um exemplo de integridade, coerência, valor e determinação, um companheiro que levou à prática a liberação animal até as derradeiras consequências, chegando além onde as palavras perdem o seu eco, e que entregou a sua liberdade e finalmente a sua própria vida para salvar as dos animais e por destruir as infames maquinarias e os escuros lugares empregados para a sua escravidão, confinamento e assassinato. A sua história leva-nos a lembrar as outras muitas companheiras e companheiros que também morreram ou ficaram presas por não tolerar o intolerável, por defender o óbvio, por não silenciar os seus sentimentos nem a sua raiva nem sequer quando a repressão espalhou de novo o seu medo, e atacar no ausente coração desta besta industrial cinza e hipócrita.

Porque como Barry escreveu num dos seus comunicados desde o cárcere:

A luta não é por nós, não é pelos nossos caprichos ou necessidades pessoais. É por todo animal que alguma vez sofreu e morreu num laboratório de vivissecção, e por todos aqueles animais que sofrerão e morrerão nas mesmas circunstâncias a não ser que detenhamos este cruel negócio já. As almas dos mortos torturados choram pedindo justiça, os que estão vivos choram pedindo liberdade. Podemos fazer essa justiça e proporcionar-lhes essa liberdade. Os animais só têm a nós, e não lhes falharemos…

agência de notícias anarquistas-ana

sussurro sem som
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do que nunca soube

Guimarães Rosa