Às primeiras horas da madrugada de sábado 30/09 houve uma operação para desalojar a ocupação de Evangelismos em Heraklion (ilha de Creta). Em um ambiente de um bairro custodiado por policiais de todo tipo, a ocupação foi invadida, na qual foram detidos 10 companheiros, um dos quais, inclusive algemado, foi jogado do telhado do edifício para o vazio. Os companheiros foram transladados à GADI (Delegacia Geral de Heraklion), onde foram indiciados como acusados, enquanto que o companheiro ferido estava isolado sem receber, em um primeiro momento, a atenção médica necessária. O expediente judicial segue em mãos do promotor, portanto as acusações que conhecemos são as anunciadas aos detidos no momento da detenção: danos domésticos, fraude elétrica, desobediência civil, porte ilegal de armas. Fora do edifício houve reações espontâneas e enfrentamentos que resultaram com a detenção de mais uma pessoa, enquanto que as ações de resistência e solidariedade continuam e aumentam, dentro e fora da cidade de Heraklion.
Desde o dia do desalojo, o edifício começou a ser imediatamente vedado com chapas e cimento em portas e janelas, sem sequer as necessárias autorizações das autoridades competentes, sem ter em conta que o edifício foi declarado monumento histórico. A Universidade de Creta (o “proprietário legal” do edifício) calculou as obras de vedação em 37.200 euros (o montante máximo fixado por lei para as dotações diretas). Ao mesmo tempo, foram produzidos importantes danos com o objetivo de fazer com que o edifício não seja viável nem funcional. Ademais, apesar das queixas das organizações de bem estar animal sobre os animais presos em seu interior, foi vedado completamente, deixando nossos dois gatos, Chico e Stajti (Ceniza), sem acesso a comida e água, condenando-os à morte com a clara responsabilidade do Reitorado.
O desalojo de Evangelismos não vem do nada, mas se soma à realidade distópica na qual estamos submersos. O Estado e o capital gregos são responsáveis de inumeráveis mortes (muito próximos para nós em Creta, os recentes assassinatos de Kostas Manioudakis pelo TAE – Departamento de Operações Policiais – da cidade de Souda (Chania) e de Antonis Karyotis por ANEK, empresa marítima), mas também de catástrofes naturais, que se converteram em “normalidade”, e tratam de amordaçar qualquer voz que resista a seu domínio. enquanto o custo de vida segue aumentando e nossos direitos laborais são violados, enquanto as mulheres imigrantes se afogam no mar Egeo e os presos são condenados à morte nos cárceres, enquanto se celebram dezenas de leilões de primeiras moradias e somos impulsionados fora de nossos bairros para sermos substituídos por turistas, intensificam a repressão tanto nas ocupações como em cada tentativa de organizar-se e lutar contra eles, nas ruas, nas escolas, nos locais de trabalho.
As ocupações, então, são frestas nesta normalidade e armam nossos desejos de respiros de liberdade neste mundo asfixiante. E isto porque – contra a individualização e a apatia que se cultivam as ocupações mantem viva a memória das lutas do passado e fazem parte fundamental das lutas de hoje. Ao mesmo tempo, em uma sociedade com milhares de casas vazias e pessoas sem lar, satisfazem nossa necessidade comum de uma vida digna, desafiam na prática o conceito de propriedade e dão exemplo de vida coletiva. A questão para nós nunca foi se são “legais” ou “ilegais”, mas que são justas e necessárias.
Faz 21 anos nos encontramos com um edifício em ruínas, abandonado durante décadas, que era um foco de contaminação. Sem a ajuda de nenhum organismo institucional ou privado, mas de maneira anti-hierárquica e auto-organizada, conseguimos tornar sustentável e funcional um edifício em ruinas. Um espaço aberto à sociedade, mas também aos excluídos dela, com estruturas de moradia, cinema, livraria e biblioteca, ginásio… Nos últimos anos realizamos três trabalhos de manutenção e restauração do edifício, com a atenção e o cuidado correspondentes a sua historicidade, com o esforço pessoal e os recursos de companheiros, e contribuições de solidariedade da Grécia e do estrangeiro. O trabalho mais recente se realizou no verão de 2023 e estava finalizado nos dias do desalojo
Ao longo de todos estes anos na ocupa de Evangelismos encontraram teto grupos e coletivos, realizaram-se dezenas de assembleias, se desenvolveram estruturas solidárias, se levaram a cabo diversos eventos políticos, culturais e sociais. A ocupa de Evangelismos era e segue sendo as relações, o companheirismo, a solidariedade, o movimento social, todos nós. Um espaço político histórico, que é um ponto culminante para os movimentos sociais, mas também para a mesmíssima cidade de Heraklion, por sua participação nas lutas sociais e de classes, sua ação antifascista e seu apoio prático aos ativistas perseguidos e aos presos políticos.
Incapazes de permanecer inativo frente à repressão e lutando pelas conquistas das lutas de todos estes anos, mas também pelas que virão, iniciamos a luta para defender a ocupação. Dia após dia com manifestações, intervenções, colagem de cartazes, distribuição de textos, ações solidárias, apoiando outras lutas da cidade.
Além do apoio político e a solidariedade, hoje também enfrentamos as questões práticas e por este motivo necessitamos seu apoio financeiro para:
1) cobrir os gastos judiciais dos detidos durante o desalojo, assim como dos que já foram detidos ou serão detidos durante as ações de solidariedade.
2) substituir as infraestruturas do movimento que ou foram destruídas ou foram saqueadas pelos policiais/milicos.
3) liquidar os gastos de materiais e trabalhos de restauração do verão, processo que havia se iniciado para este período, mas que foi interrompido pela invasão, enquanto que também foi destruído o equipamento para os eventos previstos de apoio econômico.
4) preparar-nos logisticamente para reparar os danos causados pela polícia e as autoridades da reitoria vedando o edifício.
O custo financeiro de todos os temas anteriormente expostos excede o objetivo desta Campanha, que é a quantidade que cremos que necessitamos de imediato para cobrir as necessidades que existem.
Agradecemos desde o fundo de nossos corações a todas as pessoas que nos apoiaram todo este tempo, e esperamos voltar a casa para devolver toda esta força e solidariedade ao movimento, como temos feito durante os últimos 21 anos.
Nada terminou – ocupação PARA SEMPRE EM EVANGELISMOS!
>> Apoie aqui: https://www.firefund.net/evagelismos
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!