O falso anarquismo de Milei e seu apoio estrondoso a Israel

A Argentina está numa situação financeira difícil e o seu novo presidente planeja resolvê-la com uma versão ainda mais extrema do sistema financeiro que não deu certo até agora

Mostrar como o uso do termo “anarquismo” por Javier Milei é absurdo não exige muito esforço, mas o absurdo é altamente elegível em nossa era. Para um anarquista concorrer à presidência, ele estaria buscando um cargo que não acredita que deveria existir, e estaria ideologicamente comprometido em não fazer o trabalho. À medida que Milei faz campanha e vence a sua candidatura na Argentina, ele está, no entanto, empenhado em fazer um trabalho como chefe de Estado, apesar de se autodenominar anarquista. Seu compromisso é instaurar o mais livre dos mercados capitalistas e manter o governo o menor possível – sem que o seu próprio emprego deixe de existir. Isso significa acabar com regulamentos e ministérios, e exaltar stocks em dólares americanos e as forças armadas – para proteger bens privados. Como uma relação inquebrável com os EUA e Israel, que são as suas primeiras viagens internacionais confirmadas desde as eleições, pode ajudá-lo a alcançar esses objetivos?

A estratégia de Milei para gerar riqueza e conter a inflação é privatizar tudo, e isso já sacudiu a bolsa de valores nos EUA. Segundo a Reuters, o seu plano de vender a YPF, a empresa petrolífera nacional, já fez com que suas ações subissem 40% desde a vitória eleitoral. “A YPF é a maior empresa petrolífera da Argentina e supervisiona o desenvolvimento da Vaca Muerta, a segunda maior reserva de gás de xisto do mundo e a quarta maior reserva de óleo de xisto.” A dolarização da Argentina tornará esse tipo de venda ainda mais conveniente para os estrangeiros. Ao mesmo tempo, a privatização desses bens públicos estabilizará a dolarização.

Pelo menos é nisso que Milei está apostando, e ele precisa que funcione por vários motivos. Um deles é que a YPF está sob escrutínio judicial pela forma como foi nacionalizada em primeiro lugar. Uma sentença de 16 bilhões de um tribunal dos EUA paira sobre a cabeça da empresa devido à “apreensão” de ações de investidores minoritários em 2012.

Outra razão pela qual Milei precisa que esse plano funcione é que a Argentina é o país que mais deve dinheiro ao FMI no mundo. Se investimento do FMI, cujo objetivo é ajudar “países de baixo rendimento” a permanecerem ativos no mercado capitalista global, fracassou, será que entrar de cabeça no mercado dolarizado e privatizado funcionará como solução?

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Carlos Seabra