Em agosto deste ano, a polícia grega despejou várias ocupações. Entre elas estava a ocupação Steki Ano-Kato Patission, que existia há 27 anos. Há alguns dias, no entanto, a ocupação foi retomada.
No sábado, 9 de dezembro de 2023, a Steki Ano-Kato Patission foi re-ocupada por 80 companheiros. Após a ocupação, 250 pessoas solidárias se reuniram em frente ao prédio e foram atacadas por policiais. Muitas não conseguiram fugir e ficaram presas em prédios residenciais, dormitórios vizinhos e na própria Steki. Durante o ataque, a polícia jogou gás lacrimogêneo nos carros e ameaçou queimar pessoas vivas enquanto gritavam. Algumas pessoas foram presas, outras foram espancadas. Embora os policiais tenham cercado a Steki e jogado gás lacrimogêneo em seu interior, as pessoas se defenderam e conseguiram manter a ocupação. No entanto, houve companheiros feridos que tiveram de ir para o hospital e cerca de 19 pessoas foram presas. No domingo, 10 de dezembro, rolou uma manifestação de solidariedade aos presos em Evelpidon.
A re-ocupação de Ano-Kato ocorreu como parte dos dias de ação em todo o país em solidariedade às casas ocupadas. Também houve uma manifestação em Monastiraki, em Atenas. Os ataques às ocupações confirmam mais uma vez que a solidariedade, a auto-organização e as lutas autônomas são um grande espinho para o Estado. Esta declaração a seguir foi divulgada pelas ocupações Ano-Kato Patission, ASP (Steki Politécnico Autônomo), Evangelismos e Zizania.
Declaração sobre a re-ocupação da Steki Ano-Kato Patission:
Dissemos que não iremos embora e estamos falando sério.
Estamos felizes por hoje termos conseguido transformar nossas palavras em ações e por, com perseverança e confiança, termos recuperado um pedaço de nossas vidas. Recuperamos o jardim no qual crescemos e no qual aprendemos o que significa viver. Juntamente com dezenas de companheiros, amigos e pessoas solidárias, reocupamos esta casa. Estamos defendendo nosso lugar na cidade, recuperando esse espaço abandonado para nós e para as gerações futuras. Hoje, acendemos novamente nossos fornos a lenha e de cozimento e transformamos o fogo em um chamado à resistência para o movimento dos ocupantes. Com os punhos erguidos para o céu, subimos no terraço de nossa casa ocupada e enviamos nossas mais calorosas saudações a todos aqueles que, em todo o mundo, continuam lutando.
Rompemos o círculo vicioso do medo ao reivindicar o que é nosso por direito. Não apoiamos incondicionalmente os direitos civis concedidos pelo Estado, mas lutamos contra a lei para reivindicar o que nos pertence na cidade: as coisas que construímos com nossas mãos e nossas mentes, coisas que são consideradas mortas se não forem utilizadas, como as milhares de casas e edifícios vazios em Atenas. Optamos por dar vida a propriedades “mortas” e transformar espaços vazios em locais coletivos de resistência. Subvertemos o contexto social de forma criativa, reinterpretando o valor desses espaços: Não se trata de lucro, de agências imobiliárias, de ONGs, mas de atender às nossas necessidades e desejos coletivos e também de ir além deles. Vemos as ocupas como um laboratório onde podemos fazer experimentos com relações coletivas, militantes, solidárias e de cuidado – além da instituição da família, além da religião e do Estado. Esse é o lugar onde nossas ideias ganham vida, onde nos reunimos para imaginar novos mundos possíveis. Contra a normalização dos massacres e das fronteiras! Nem deus nem senhor!
Consideramos nosso espaço político no número 75 da rua Naxou e Krassa (Praça Koliatsou em Patissia) como um laboratório. Nos últimos 27 anos, essa tem sido a oficina onde expressamos nossas ideias e ações subversivas contra a exploração, a opressão e a injustiça. Foram 27 anos em que esse lugar esteve livre e aberto para a vizinhança; hospitaleiro para todos os sonhadores, proletários excluídos, punks, os condenados do mundo, criminosos, artistas clandestinos, músicos e poetas, aberrações, espíritos intransigentes, viciados e jovens. Nesses 27 anos, lutamos contra essa sociedade de merda, na qual racistas e policiais assassinam violentamente nosso povo, uma sociedade na qual feminicídios, empurrões e “naufrágios” nas fronteiras europeias são normalizados, na qual o afogamento de pessoas nos portos e o “colapso” da infraestrutura são o “estado normal” que nos é imposto. Nesses 27 anos, aprendemos o que significa viver coletivamente e descobrimos as possibilidades de luta contra a dominação.
Nesses 27 anos, zombamos do mundo da “propriedade privada” e ficaremos aqui o tempo que for necessário, mesmo que isso signifique fazer tudo de novo. Este é o nosso bairro, fomos à escola aqui, conhecemos nossos primeiros amigos aqui, moramos e trabalhamos neste bairro. Unimos forças com nossos vizinhos aqui e foi também neste bairro que aprendemos a odiar a violência perpetrada pelos ricos. Estamos lutando para recuperar tudo o que foi roubado de nós. Não permitiremos que a família Papaoikonomou, esses herdeiros ricos que moram nos subúrbios ao norte da cidade e possuem dezenas de propriedades em Patissia [bairro de Atenas] e em várias ilhas, simplesmente tirem nossa casa de nós. Dizemos claramente que eles não se livrarão de nós tão rapidamente. Nossa resistência é grande na vizinhança. Nós nos enrolamos em torno do grande cipreste da casa ocupada.
27 anos de ocupação
27 anos de Ano-Kato Patission
Estamos aqui para ficar.
Αυτοδιαχειριζόμενο Στέκι Άνω Κάτω Πατησίων
Steki Ano-Kato Patission, Naxou 75, Atenas, Grécia
NOSSAS LUTAS NÃO ACABARAM,
NOSSAS IDEIAS NÃO PODEM SER TRANCADAS
SOLIDARIEDADE COM AS OCUPAÇÕES
agência de notícias anarquistas-ana
uma libélula
pousa em outra libélula
ah, o amor!
Sérvio Lima
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!