John Sinclair, poeta, autor de Guitar Army, gerente da banda de rock MC5, cofundador do Partido dos Panteras Brancas e escritor do [jornal anarquista] Fifth Estate, morreu de insuficiência cardíaca em Detroit no dia 9 de abril. Ele tinha 82 anos. Longe de sua cidade natal, ele foi aclamado como um ícone da contracultura, um defensor da legalização da maconha e um entusiasta do rock and roll, tendo sido imortalizado em uma música de John Lennon.
Embora Sinclair tenha sido pouco celebrado como ativista político, uma perspectiva radical formou a matriz pela qual todos os seus outros trabalhos fluíram. Em uma entrevista de 2005 ao Detroit News, jornal de grande circulação, ele respondeu da seguinte maneira a uma pergunta sobre o MC5, a banda de hard rock de Detroit que ele dirigia: “Qual era a nossa visão de mundo? Tudo deve ser gratuito para todos – esse é um bom ponto de partida. Ataque total à cultura, por todos os meios necessários…”
Sinclair era amplamente conhecido por sua campanha pela legalização da maconha, pela qual sofreu duas sentenças de prisão, incluindo uma de 9,5 a 10 anos dada em 1969 por um juiz vingativo de Detroit por dar dois baseados a um policial infiltrado. Ele ficou famoso por ter sido libertado após um comício em Ann Arbor, Michigan, no final de 1971, encabeçado por John Lennon e Yoko Ono, mas que também contou com Stevie Wonder, Bob Seger, Phil Ochs, o saxofonista de jazz Archie Shepp, entre outros. Entre os palestrantes estavam Jane Fonda, Allen Ginsberg, o presidente dos Panteras Negras Bobby Seale, e Ed Sanders, do Fugs. Lennon cantou a música que compôs para o evento, intitulada “John Sinclair”.
Sinclair era uma lenda no mundo do rock and roll. Entre 1966 e 1972 ele foi fundamental na formação e promoção do Grande Ballroom de Detroit, que inicialmente apresentava bandas locais do rico cenário musical da cidade, mas depois viu as maiores bandas clássicas da época no palco, incluindo The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, Cream, Grateful Dead, além de artistas de blues como Howlin’ Wolf, BB King e John Lee Hooker. Ele foi essencial para trazer o saxofonista John Coltrane e a Sun Ra Arkestra para o local.
John se tornou o empresário do MC5 quando o grupo ganhou fama internacional por tocar um “rock and roll de alta energia” que refletia a energia da época e a subcultura que a definia. Muitos roqueiros e críticos musicais posteriores definiram a banda como proto-punk por conta de sua performance selvagem no palco e pelo som de altos decibéis. O guitarrista do Rage Against the Machine, Tom Morello, disse que o MC5 “basicamente inventou o punk rock”, uma descrição negada por Sinclair. Ele disse ao Detroit News, em uma entrevista de 2005, que o MC5 descrevia sua música como “avant rock”, e atribuiu a origem do punk a outra banda local imortal, Iggy and the Stooges.
Sinclair, sua esposa Leni (uma fotógrafa renomada que documentou grande parte do cenário cultural e político de Detroit em suas fotografias) e várias outras pessoas fundaram em 1968 um grupo antirracista chamado Partido dos Panteras Brancas (WPP). A banda MC5 fazia parte dessa cena e frequentemente posava para fotos promocionais empunhando rifles. Sinclair disse que o objetivo da música era “tirar você da sua mente e levá-lo para o seu corpo”.
A ênfase na maconha e nos roqueiros armados, contudo, não impressionou a esquerda oficial de Detroit. O falecido Pun Plamondon, cofundador do WPP, abordou o fato de que grande parte da esquerda de Detroit durante a década de 1960 descartou o partido e a banda como hippies apolíticos que só estavam interessados em se drogar e ouvir rock and roll. Em uma retrospectiva de 2017 sobre os Panteras Brancas que organizei no Museu Afro-Americano Charles Wright da cidade, que também contou com a participação de John e Leni, Pun disse: “Para a esquerda, éramos palhaços da contracultura, mas saíamos todos os fins de semana e distribuíamos literatura revolucionária, inclusive o Fifth Estate, para centenas e centenas de jovens, enquanto a esquerda discutia Mao”.
A poesia de John foi reconhecida internacionalmente. Ele escreveu milhares de poemas a partir do início da década de 1960, publicados juntamente com o trabalho de seus compatriotas em um fluxo aparentemente interminável de livros mimeografados e jornais. Sua última aparição pública, apenas algumas semanas antes de sua morte, foi em Paris, na exposição de obras de arte de Mike Kelley, oriundo de Detroit. Apesar de estar confinado a uma cadeira de rodas, ele fez a viagem de Detroit a Paris para ler três poemas com acompanhamento de rock para uma multidão que o aplaudia loucamente. Não se poderia pedir por um melhor último show.
Em seu best-seller de 1969, Guitar Army [Exercício de Guitarras, em tradução livre], Sinclair escreveu: “Nossa cultura é uma cultura revolucionária, uma força revolucionária no planeta, a semente da nova ordem que florescerá com a desintegração e o colapso das formas sociais e econômicas obsoletas que atualmente infestam a Terra”. Façamos com que assim seja.
~ Peter Werbe
Werbe é um colaborador de longa data do periódico anarquista Fifth Estate e mora em Detroit. É autor de Summer on Fire: A Detroit Novel [Um verão pegando fogo: um romance de Detroit, em tradução livre] e da coleção de ensaios Eat the Rich [Comam os ricos, em tradução livre]. peterwerbe.com
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2024/04/09/obituary-john-sinclair-1924-2024/
Tradução > anarcademia
agência de notícias anarquistas-ana
Sob o ipê florido
embelezam de amarelo
as flores que caem.
Sandra Hiraga
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!