Por Jamil Chade | 21/04/2024
Num mundo onde as guerras se proliferam e as soluções diplomáticas dão sinais claros de fracasso, explode o gasto com armas. Um novo informe publicado pela Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisas da Paz (SIPRI) revela que o mundo destinou US$ 2,4 trilhões em orçamentos militares, um aumento de 6,8% em comparação ao ano de 2009. Trata-se da maior elevação em um só ano desde 2009.
Nunca, segundo o estudo, se gastou tanto em armas como agora.
Todos os dez maiores orçamentos militares do mundo aumentaram seus gastos, liderados pelos EUA, China e Rússia. O SIPRI serve como referência global no levantamento de orçamentos militares e concluiu que, pelo novo ano consecutivo, governos incrementaram os recursos destinados para armas.
Pela primeira vez desde 2009, os gastos militares aumentaram em todas as cinco regiões geográficas, com aumentos particularmente grandes registrados na Europa, Ásia e Oceania e Oriente Médio.
“O aumento sem precedentes nos gastos militares é uma resposta direta à deterioração global da paz e da segurança”, disse Nan Tian, pesquisador sênior do Programa de Gastos Militares e Produção de Armas do SIPRI. Os Estados estão priorizando a força militar, mas correm o risco de entrar em uma espiral de ação e reação no cenário geopolítico e de segurança cada vez mais volátil”, alertou.
Ucrânia x Rússia
De acordo com o estudo, os gastos militares da Rússia aumentaram 24%, chegando a um valor estimado de US$ 109 bilhões em 2023, marcando um aumento de 57% desde 2014, ano em que a Rússia anexou a Crimeia.
Em 2023, os gastos militares da Rússia representaram 16% do total de gastos do governo. Já a Ucrânia foi o oitavo maior gastador em 2023, após um aumento de 51% nos gastos, chegando a US$ 64,8 bilhões.
“Os gastos militares da Ucrânia em 2023 eram 59% do tamanho dos gastos da Rússia. No entanto, a Ucrânia também recebeu pelo menos US$ 35 bilhões em ajuda militar durante o ano, incluindo US$ 25,4 bilhões dos EUA. Combinados, essa ajuda e os gastos militares da própria Ucrânia foram equivalentes a cerca de 91% dos gastos russos”, destacou o informe.
EUA continuam liderando em gastos, mas europeus aumentam participação na OTAN
Em 2023, os 31 membros da OTAN responderam por US$ 1,341 trilhão em gastos militares, o equivalente a 55% dos orçamentos mundiais. Os gastos militares dos EUA aumentaram 2,3%, chegando a US$ 916 bilhões em 2023, representando 68% do total de gastos militares da OTAN. Mas, em 2023, a maioria dos membros europeus da OTAN aumentou seus gastos militares. Sua participação combinada no total da OTAN foi de 28%, a maior em uma década.
“Para os países europeus da OTAN, os últimos dois anos de guerra na Ucrânia mudaram fundamentalmente a perspectiva de segurança”, disse Lorenzo Scarazzato, pesquisador do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do SIPRI. “Essa mudança na percepção das ameaças se reflete no aumento da parcela do PIB direcionada aos gastos militares, com a meta da OTAN de 2% sendo vista cada vez mais como uma linha de base e não como um limite a ser alcançado”, completou.
Uma década após os membros da OTAN terem se comprometido formalmente com a meta de gastar 2% do PIB com as forças armadas, 11 dos 31 membros da OTAN atingiram ou ultrapassaram esse nível em 2023 – o número mais alto desde que o compromisso foi assumido. Outra meta – de direcionar pelo menos 20% dos gastos militares para “gastos com equipamentos” – foi atingida por 28 membros da OTAN em 2023, em comparação com 7 em 2014.
Oriente Médio sob tensão: Israel x Irã
O levantamento ainda destaca como a guerra em Gaza e tensões no Oriente Médio impulsionam o maior aumento de gastos da última década. A região viu um aumento de 9,0%, chegando a US$ 200 bilhões em 2023. Essa foi a maior taxa de crescimento anual na região registrada na última década.
Os gastos militares de Israel – o segundo maior da região, depois da Arábia Saudita – cresceram 24%, chegando a US$ 27,5 bilhões em 2023. O aumento dos gastos foi impulsionado principalmente pela ofensiva em grande escala de Israel em Gaza, em resposta ao ataque ao sul de Israel pelo Hamas em outubro de 2023.
O Irã foi o quarto maior gastador militar do Oriente Médio em 2023, com US$ 10,3 bilhões. De acordo com os dados disponíveis, a parcela dos gastos militares alocados ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica cresceu de 27% para 37% entre 2019 e 2023.
“O grande aumento nos gastos militares no Oriente Médio em 2023 refletiu a rápida mudança da situação na região – desde o aquecimento das relações diplomáticas entre Israel e vários países árabes nos últimos anos até a eclosão de uma grande guerra em Gaza e o temor de um conflito em toda a região”, disse Diego Lopes da Silva, Pesquisador Sênior do Programa de Gastos Militares e Produção de Armas do SIPRI.
China e seu impacto
Outro destaque é a China, o segundo maior gastador militar do mundo e que destinou US$ 296 bilhões para as forças armadas em 2023, um aumento de 6,0% em relação a 2022. Esse foi o 29º aumento anual consecutivo nos gastos militares da China.
Segundo o levantamento, a China foi responsável por metade do total de gastos militares na região da Ásia e Oceania, que fez com que seus vizinhos também elevassem seus gastos.
O Japão, por exemplo, alocou US$ 50,2 bilhões para suas forças armadas em 2023, 11% a mais do que em 2022. As despesas militares de Taiwan também cresceram 11% em 2023, chegando a US$ 16,6 bilhões.
“A China está direcionando grande parte de seu crescente orçamento militar para aumentar a prontidão de combate do Exército de Libertação Popular”, disse Xiao Liang, pesquisador do Programa de Gastos Militares e Produção de Armas do SIPRI. Isso fez com que os governos do Japão, Taiwan e outros países aumentassem significativamente suas capacidades militares, uma tendência que se acelerará ainda mais nos próximos anos”, explicou.
Brasil também tem alta de gastos
De acordo com o estudo, em 2023, os gastos militares do Brasil aumentaram em 3,1% para US$ 22,9 bilhões. “Citando a diretriz de gastos da OTAN, os membros do Congresso do Brasil apresentaram uma emenda constitucional ao Senado em 2023 que visa aumentar a carga militar do Brasil para um mínimo anual de 2% do PIB (de 1,1% em 2023)”, destacou.
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