Por Gisela Macedo | 07/05/2024
Depois de 37 anos no mesmo espaço do Raval, El Lokal (c. da Cera, 1) pode afirmar com segurança que seguirá no bairro. Este ponto de encontro, apoio e ativismo para os moradores da região, que aparentemente é uma loja de livros e música ‘underground’, sobreviverá finalmente à ameaça da especulação imobiliária que parecia destinada a expulsá-lo do centro de Barcelona. Seus fundadores optaram por comprar o local antes que o atual proprietário – um fundo “abutre”- decida não renovar-lhes o contrato de aluguel.
“Depois de uma profunda reflexão, cremos que nossa única oportunidade para manter este rincão libertário no Raval é a compra”, explicam desde El Lokal em um comunicado onde assinalam que, nos últimos anos, tiveram que enfrentar um aluguel “cada vez mais alto”.
Uma “boa resposta”
Iñaki García, fundador e alma de El Lokal, explicou a este diário que iniciaram um ‘crowdfunding’ para devolver os empréstimos que pediram para iniciar o processo de compra. Na segunda-feira ao meio dia abriram a campanha e, umas horas depois, já haviam arrecadado mais de 1.000 euros.
“É uma boa resposta. Muita gente valoriza El Lokal e seguramente nos apoiará. Tomamos esta decisão para proteger-nos e seguir fazendo o que fazemos, além de melhorar o espaço”, comenta García, cujo trabalho social lhe brindou a oportunidade de obter até em duas ocasiões a Medalha da Cidade, um reconhecimento que rechaçou ambas as vezes, a título próprio e como entidade.
“É o lugar onde, se estás em apuros ou tens um problema, sempre vão tentar ajudar-te”; “É casa para todos os movimentos e para os vulneráveis”; “É como os pais: sempre estão aí”; “Sem El Lokal, perderíamos muitos futuros”, são alguns dos testemunhos de pessoas vinculadas ao espaço, em um vídeo que solicita colaboração para a compra. Uma compra que eles consideram “um esforço coletivo”: “Não é só nosso. Nós o gestionamos, mas é um espaço obtido coletivamente. Poder fazê-lo assim, em comunidade, é algo bonito. Também, pode servir de exemplo para outros que enfrentem o mesmo problema”, reflete García.
Em quase quatro décadas de atividade – desde 1987 -, El Lokal passou de ser “só” uma loja de materiais alternativos – livros, roupa, música, etc.- a ser uma referência da cultura antiautoritária e estar ligado às lutas do bairro. Desde jovens insubmissos que evitavam o serviço militar até pessoas sem documentos ou ameaçadas de desalojo, El Lokal tem sido um ponto de apoio para todos eles. “A gente sabe que, se tens um problema, em El Lokal te escutarão e te ajudarão”.
“Desde o CAP nos ‘levaram’ a uma mulher que sofria muita ansiedade. Simplesmente após escutá-la e apoiá-la, puderam reduzir-lhe sua medicação. Contar com estes espaços no bairro ajuda a muitas pessoas que se sentem sós ou em situações vulneráveis. Brinda-lhes a oportunidade de socializar, organizar-se e encontrar alternativas. Estamos muito satisfeitos, porque é muito necessário”, explica García.
Contudo, finalmente a balança se inclinou a favor da opção de compra. “Tínhamos escrúpulos, porque isto de comprar, para gente de nossa cultura, custa muito. Mas era a única maneira de assegurar que não nos tirarão. É um direito que temos, e cremos que o poderemos assumir”, pondera García.
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!