[Itália] 1° de Maio em Trieste: “Nós afirmamos que o antimilitarismo é radical, internacionalista e de classe.”

Como havíamos anunciado neste primeiro de maio, fomos para a rua [de Carrara] com um bloco antimilitarista dentro do cortejo dito dos sindicatos de base. Em seguida, as duas intervenções que fizemos em cima do caminhão de som.

Deserdemos as guerras

Estamos em guerra. De Gaza ao Sudão, da Ucrânia ao Curdistão, são dezenas os conflitos que estão sendo combatidos hoje pelo mundo. Guerras por recursos energéticos e hídricos, pela conquista de novos territórios, pelo domínio e servidão de populações inteiras.

Em tudo isso, o Estado italiano não é um espectador neutro, mas um ator protagonista e interessado.

Contingentes italianos fazem parte das repartições enfileiradas no “flanco leste” da OTAN, da base siciliana de Sigonella saem drones espiões empregados para fornecer informações ao exército ucraniano, e aviões estadunidenses com fornecimentos para o exército israelense.

A Itália está empenhada em 43 missões militares no exterior, das quais 18 na África, em função da exploração neocolonial da ENI [empresa de energia e petróleo italiana] e do deslocamento para o sul da guerra contra os migrantes.

A máquina militarista investe sempre mais profundamente a nossa sociedade. Os militares estão empenhados desde 2009 na operação “Estradas seguras”: os encontramos nas escolas fazendo propaganda, nos CPR [Centro de Permanência para a Repatriação, locais de retenção de estrangeiros clandestinos], nas fronteiras, e nas cidades, para controlar e reprimir, mas, sobretudo para normalizar a presença deles também no tecido urbano, com metralhadoras em punho e veículos blindados.

Na Itália são gastos pelo menos 29 bilhões de euros para o “balanço da Defesa”: uma avalanche de dinheiro que aumentará ainda nos próximos anos. Enquanto agora a despesa se assenta em torno de 1,5% do PIB, o governo já decidiu chegar a 2% até 2028, como, de resto, é o objetivo de toda a área da OTAN.

Tudo isto enquanto os fundos para a saúde e a despesa social vem sendo reduzidos a cada ano.

Experimentem imaginar quantas escolas, hospitais, transportes públicos, serviços de assistência, poderiam ser financiados se a pesquisa e a produção fossem usadas para a vida de todos nós, para a cura ao invés da guerra.

Contra tudo isto é necessário se mobilizar. Como trabalhadoras e trabalhadores, desempregadas e desempregados, aposentadas e aposentados, não aceitemos uma sociedade em que as armas tenham mais valor do que as pessoas e os tanques de guerra mais do que os hospitais.

Estamos aqui ao lado de quem deserda e de quem se opõem às políticas de guerra, frequentemente pagando um preço elevado em termos de repressão.

Nós afirmamos que o antimilitarismo é radical, internacionalista e de classe.

Condenemos sem reservas a política genocida do Estado israelense, que nestes meses desencadeou toda sua ferocidade contra a população palestina.

A completa solidariedade ao povo de Gaza e da Cisjordânia deve ser acompanhada de uma crítica radical ao Hamas e a outras organizações fundamentalistas religiosas presentes naqueles territórios que levam adiante um programa político reacionário que se constitui em um dos obstáculos à libertação do proletariado da região.

Somos contra os Estados, todos os Estados, porque acreditamos que sejam sempre a fonte de opressão, de exploração e de privilégios de classe, e por isso acreditamos que a única esperança para o Oriente Médio seja uma solução federalista vinda de baixo, como aquela que, com mil dificuldades, tenta ser construída em Rojava.

O antimilitarismo que praticamos se liga a uma luta contra todas as formas de imperialismo, portanto, uma luta não somente contra o bloco da OTAN, mas também ao sino-russo, e a todos os outros.

O anti-imperialismo não deve ser confundido somente com antiamericanismo. Até por isso estamos contra todos os regimes teocráticos e autocráticos, como, por exemplo, aquele iraniano e o sírio.

Damos a nossa solidariedade a todas as pessoas em luta que onde estejam no mundo tentam subtrair-se à sufocante capa do militarismo, do nacionalismo e das guerras: das mulheres iranianas aos refusenik [termo usado no sentido de pessoas que recusam se submeter às ordens do sistema] israelenses, dos jovens de Gaza que rejeitam o jogo do Hamas, a quem deserta, a quem sabota a guerra entre Rússia e Ucrânia, e tantos outros e outras.

A eles todos o nosso apoio internacionalista e libertário.

Rejeitamos aderir à visão ideológica que vê a guerra como inevitável.

Reafirmamos a nossa luta contra todos os blocos imperialistas e nacionalistas, por um mundo sem fronteiras.

NÃO À ECONOMIA DE GUERRA

NÃO À MILITARIZAÇÃO DA SOCIEDADE

POR UM MUNDO SEM EXÉRCITOS E SEM PATRÕES

Grupo Anárquico Germinal

Tradução > Carlo Romani

agência de notícias anarquistas-ana

Último vôo.
A despedida da luz
Nas asas do corvo.

Rubens Pilegi