“Há muitas formas de resistir ao opressor”

Instituto de Estudos Libertários (IEL) entrevista Luiz Alberto Sanz

Quem é Luiz Alberto Sanz?

Sou mestiço de muitas etnias, apesar da pele branca como papel de linho. Um subversivo que, após longa jornada, abraçou o anarquismo. Fui cineasta, jornalista, estivador, educador, professor e pesquisador de Jornalismo e Artes Cênicas, além de outras coisas. Tenho sangue romani (Caló), indígena, sefardita, africano, andaluz, visigodo, galaico (o celta do noroeste da Península Ibérica) e quem sabe o que mais.

Descendo, na nona geração, da caló Victória do Santo, nascida em 1652 em Santa Maria de Torres Novas, Santarém, Portugal, cuja neta, Izabel, casou-se com o capitão João Carneiro da Fontoura, neto da judia sefardita María Taveira de Magalhães, que descendia de Abraham ben Eliyahu Senneor (Segovia, 1412-1493), último rabino-mor da Espanha. Abraham se convertera forçado pelo decreto de Alhambra (1492)1, tinha 80 anos e passou a se chamar Fernán Nunes Coronel. Dizem alguns especialistas que no pouco tempo que lhe restou viver, continuou a praticar clandestinamente a fé de Abraão. Era, portanto um marrano. Há muitas formas de resistir ao opressor, como mais tarde nos ensinaram, indígenas e africanos, sincretizando religiões originárias com o cristianismo, como os cristãos haviam feito ao assimilar à sua nova fé tradições e ensinamentos romanos, gregos, persas e dos ditos “bárbaros”.

Desse casal, Izabel e João, nasceu Francisca Veloza da Fontoura, que veio a se casar com o Capitão Francisco Barreto Pereira Pinto, em cuja descendência aparecerão os Barreto Leite que se juntarão aos Sanz, imigrantes andaluzes com raízes valencianas, vindos de Alhama de Granada, entre os quais nasci. Para esse cadinho, meu avô João, um Barreto Leite, trouxe para uma família de caramurus2 uma esposa farroupilha, Gonçalina Corrêa de Barros de Azevedo. E vice-versa. Este novo ramo está mais caracterizado pelo inconformismo e a revolta, marcas do capitão farrapo Serafim Corrêa de Barros, que somou-se às tropas revolucionárias aos 18 anos, em 1835, e lutou até a derrota da República de Piratini, em 1845.

É interessante falar dos Sanz, uma família de imigrantes andaluzes pobres e republicanos que sempre viveram do seu trabalho. José Antonio Sanz Lopes, pai do patriarca Alberto Sanz Navas, era vendedor de tecidos em Alhama de Granada, chegou como pedreiro ao Brasil e morreu de gastrenterite em sua casa à Praia do Retiro Saudoso 37, no Caju, em 1898. Época em que a situação sanitária na Corte Imperial era assustadora. Seu filho Alberto Sanz Navas foi trabalhar na construção das Estradas de Ferro Complementares das Linhas Estratégicas do Rio Grande do Sul e conheceu em Pelotas Isaura Dourado Affonso Alves, neta do advogado abolicionista Joaquim José Affonso Alves.

O sangue indígena vem de colonizadores ainda não claramente identificados na minha árvore genealógica. A descendência negra evidencia-se claramente nas fotos de meu avô João Baptista Barreto Leite e no parentesco com o primo e contemporâneo Paulo Barreto (João do Rio), de quem minha mãe tinha orgulho de lembrar.

Mas quem conhece a História do Brasil, por pouco que seja, sabe que antepassados mais antigos (Serafim e Joaquim José Affonso Alves possivelmente em menor grau), como os Ornellas e Vasconcellos contribuíram para ou protagonizaram a quase completa extinção dos povos originários e a exploração dos africanos e crioulos3 escravizados, bem como o massacre do povo paraguaio.

>> Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui:

https://ielibertarios.wordpress.com/2024/05/27/instituto-de-estudos-libertarios-entrevista-luiz-alberto-sanz/

agência de notícias anarquistas-ana

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Anibal Beça