As eleições europeias vão realizar-se pela décima vez na Grécia. Desta vez, ocorrem à sombra de desenvolvimentos geopolíticos, da carnificina em Gaza e com uma nova crise financeira global batendo à porta. Por mais que os governantes tentem convencer-nos de que votar é importante, as decisões políticas e econômicas para as nossas vidas são e continuarão a ser tomadas por eles. Só a luta contra os Estados e o capitalismo pode abrir caminho para uma sociedade livre, uma sociedade que não será dominada pela exploração e pela opressão, mas pela igualdade e pela solidariedade.
Eleições e a perpetuação do mundo capitalista
Todo o mundo político apela às urnas “para fortalecer a democracia”, “por mais policiais”, “para evitar a ascensão da extrema direita, etc. Os argumentos são muitos, mas ignoram deliberadamente a realidade: seja qual for o resultado das eleições, não vai mudar a sombria realidade capitalista. As (euro)eleições são simplesmente um processo de legitimação dos dominantes política e economicamente e de perpetuação da exploração e da opressão da nossa classe. É uma capa que esconde (e apresenta como natural e necessária) a exploração de classe, a exclusão de todas as decisões relativas à nossa subsistência, as políticas racistas que consolidam as sociedades, a destruição da natureza no interesse do capital, o financiamento de mecanismos assassinos da polícia e do Exército. Todos estes são pilares inegociáveis dos Estados da UE que garantem a continuidade para manter o seu poder. Isto é feito por uma série de mecanismos, ideológicos e repressivos, como a polícia, as prisões, os tribunais, o exército, a igreja, os meios de comunicação social, a escola, a família, etc. No entanto, as elites europeias, sem qualquer hesitação, puseram em marcha as máquinas de guerra, alimentando a carnificina e tentando manter a sua parte no bolo geopolítico. É um objetivo reconhecido da UE nos próximos anos tornar-se ainda mais militarizada e preparar-se para uma possível guerra geral. É importante que as forças de luta, e mais amplamente as que vêm de baixo, não sucumbam aos gritos de guerra. Sabotar a guerra e a indústria bélica, não permitir que mais sangue seja derramado.
União Europeia, valores democráticos, hipocrisia
A União Europeia, ao longo do tempo, tenta apresentar-se como uma “potência superior”, com “valores democráticos profundos”, com “interesse nos direitos humanos e na paz”. Na realidade, porém, é uma aliança militar e econômica que, direta ou indiretamente, participa na maioria das guerras, trata o resto do mundo em termos predatórios e reprime aqueles que lutam. A política externa da UE está repleta de hipocrisia. Por um lado, na guerra na Ucrânia, denuncia o Estado russo como agressor, escondendo as suas próprias responsabilidades na guerra. Por outro lado, apoia o Estado israelita no massacre que leva a cabo na Palestina. O alegado apelo aos valores humanitários visa esconder a exploração e a opressão, os massacres de pessoas em todo o planeta pelos interesses dos capitalistas.
Extrema direita e UE
As narrativas nacionalistas belicistas da UE e as duras políticas anti-imigração e repressivas estão mudando a cena política para caminhos cada vez mais conservadores, fortalecendo continuamente a extrema direita e nacionalistas. Infelizmente, partes dela vinda “de baixo”, que por muitas razões diferentes, em tempos de crises e guerras, recorrem a formações de extrema direita. Na verdade, muitas vezes este voto também é apresentado como “anti-sistama”. Um argumento frequente dos partidos de esquerda é que este crescimento pode ser bloqueado nas urnas. Algo que é enganoso, pois historicamente está comprovado que o fascismo só desmorona nas ruas. Além disso, apoiar as eleições europeias legitima principalmente as elites europeias, uma vez que também mantêm e fortalecem as reservas nacionalistas e fascistas.
Delegação
Se aceitarmos que deve haver governante e governado, o mundo podre de hoje será perpetuado e as decisões serão tomadas por alguns políticos especialistas. Através da delegação, os soberanos recebem um cheque em branco para definir todos os aspectos de nossas vidas. Pela lógica da submissão, em vez de sairmos às ruas para lutar, sugerem que votemos em algum salvador que nos prometa algumas migalhas extras. Enquanto o Estado, o poder e a exploração continuarem a existir, milhares de milhões de pessoas oprimidas vivem e morrem, na pobreza absoluta, numa tortura diária. Uma vida cotidiana que é capturada da forma mais chocante nos campos de concentração de migrantes na Grécia, nas prisões do Irã, das favelas do Brasil às fábricas de trabalho infantil na Tailândia, dos guetos de Paris às minas de carvão da África do Sul.
Um argumento frequente é que o mundo não vai mudar, por isso devemos olhar de forma realista para a forma como sobreviveremos no presente. Infelizmente, este argumento muitas vezes “pega” e as possibilidades de assimilação através das eleições é uma arma muito poderosa do regime democrático. Participar nas eleições com a lógica de votar no “mal menor” foi a principal causa da derrota, tanto imediata como a longo prazo, de muitas lutas e movimentos. Marca o afastamento do caminho dos lutadores, o abandono de qualquer perspectiva libertadora, a delegação e a procura de soluções de governança dentro do sistema.
As armadilhas da democracia podem ser superadas. A erosão das consciências dos oprimidos pelos mecanismos ideológicos do Estado é reversível e a super arma do Estado pode ser derrotada. O caminho que leva a uma sociedade potente é difícil, mas permanece aberto. Quando os oprimidos e explorados deste mundo acreditarem nas suas forças, tudo pode tornar-se possível.
Lutemos sem líderes e seguidores. Com fé na nossa própria força contra todas as formas de poder e exploração. Vamos espalhar as nossas lutas desde a sabotagem da guerra e dos militares, até ao conflito com a polícia, a violência cotidiana do patriarcado e do racismo. Da oposição à tortura do encarceramento nas celas da democracia, ao saque da natureza e dos animais não humanos. O confronto com pequenos e grandes patrões, promovendo a solidariedade nas lutas que acontecem em todo o planeta. Com o objetivo de unir as lutas individuais e coletivas na perspectiva da ruptura global com o existente: a revolução social e de classe. Para preparar o caminho para a anarquia. Uma sociedade de liberdade, igualdade, espalhada por todo o planeta.
ABSTENÇÃO ATIVA NAS ELEIÇÕES EUROPEIAS, PARTICIPAÇÃO ATIVA NAS LUTAS SOCIAIS E DE CLASSE
NEM FASCISMO, NEM DEMOCRACIA, QUEREMOS ANARQUIA
Coletivo Anarquista Acte
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!