Lula admite contradição com transição energética, mas faz questão de explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas

Presidente disse ser natural que órgãos do governo tenham posições diferentes sobre exploração, mas que país não pode deixar de “ganhar dinheiro com esse petróleo”.

A decisão do IBAMA, técnica, tomada com base na legislação ambiental, de negar a licença para a Petrobras perfurar um poço de exploração de petróleo no bloco FZA-M-59, na bacia da foz do Amazonas, virou de vez uma pendenga política. E pela fala do presidente Lula, que se coloca como o “juiz” da questão, o veredito já foi dado. Ao que parece, o meio ambiente e o clima serão mais uma vez sacrificados em prol de recursos financeiros que, além de incertos, não irão beneficiar a população, cada vez mais atingida por eventos climáticos extremos provocados pela justamente pelos combustíveis fósseis.

Lula já havia defendido a exploração da foz do Amazonas na semana passada, mas “respeitando o meio ambiente” – seja lá o que isso signifique em uma região de altíssima sensibilidade e grande risco ambiental, como constatou o IBAMA. E na 3ª feira (18/6), em entrevista à CBN, o presidente reiterou essa posição, deixando claro que a decisão final sobre uma questão técnica será sua.

“O problema é que o IBAMA tem uma posição, o governo pode ter outra posição. Em algum momento eu vou chamar o IBAMA, a Petrobras e o Meio Ambiente na minha sala para tomar uma decisão. Esse país tem governo e esse governo reúne e decide”, disse Lula, em fala repercutida por diversos veículos, como O Globo, g1, Folha, R7, Valor, Agência Brasil e 18 Horas.

As pontuações de Lula sobre petróleo na foz do Amazonas trazem algumas “curiosidades”, para dizer o mínimo. Ele afirmou que “se as pessoas podem ter posições técnicas, vamos debater tecnicamente”, mas não cabe ao presidente da República a avaliação técnica. O órgão capacitado para o tema, no caso, o IBAMA, já fez o diagnóstico, do qual a Petrobras já recorreu, como determina o procedimento legal. Um recurso que ainda está sendo analisado, como já disse várias vezes o presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho.

Lula foi questionado sobre a contradição entre o discurso ambiental de seu governo e a exploração de combustíveis fósseis. Mais precisamente, detalha o g1, sobre o desalinhamento entre lamentar o desastre climático do Rio Grande do Sul e investir na exploração de petróleo na foz do Amazonas, quando a ciência já mostrou de forma exaustiva a relação entre a queima desses combustíveis e as mudanças climáticas, causadoras de eventos extremos como o que atingiu o território gaúcho.

A princípio, Lula negou a contradição. Mas acabou admitindo a ambiguidade: “É contraditório? É, porque nós estamos apostando muito na transição energética. Ora, enquanto a transição energética não resolve o nosso problema, o Brasil tem que ganhar dinheiro com esse petróleo”. E completou: “O que não dá é para a gente dizer a priori que vai abrir mão de explorar uma riqueza que se for verdade as previsões é uma riqueza muito grande para o Brasil”.

Assim, Lula parece ainda estar preso em 2006, quando, em seu primeiro governo, foi descoberto o pré-sal, então a maior província petrolífera descoberta no mundo. As imensas reservas foram apontadas pelos entusiastas como a solução para tirar o Brasil da pobreza. 18 anos depois, as desigualdades sociais persistem, e a tal “riqueza” ao qual o presidente se refere ficou nas mãos de poucos. Algo natural em uma indústria concentradora de renda como a petrolífera.

Uma dúvida é saber qual é o “nosso problema” que, para Lula, a transição energética precisa resolver. Ao que parece, a expectativa do presidente é que as fontes renováveis de energia só serão prioridade quando gerarem a “riqueza” que petróleo, gás fóssil e carvão prometem [e não entregam] para a sociedade.

Fonte: https://climainfo.org.br/2024/06/18/lula-admite-contradicao-com-transicao-energetica-mas-faz-questao-de-explorar-combustiveis-fosseis-na-foz-do-amazonas/

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agência de notícias anarquistas-ana

Neste bosque urbano
árvore feita em concreto
– meu corpo estremece.

Eolo Yberê Libera