Em 20 de julho passado, o SOV da CNT-AIT de Chiclana, voltou a convocar um ato no cemitério da localidade. O ato, contou com a participação e assistência de familiares, além de companheiros da CNT-AIT de Cádiz, e companheiros envolvidos em trabalhos e associações da Memória Histórica, tal é o caso de Jerez Recuerda.
Após a apresentação e agradecimento aos presentes pela participação no ato, se iniciou com a leitura de um manifesto por parte do companheiro Benito, fazendo referência “ao golpe de estado de 1936, a repressão durante o conflito bélico e após o qual o bando fascista vencedor, pôs em marcha um aparato de perseguição, repressão e morte contra os vencidos, que transpassou as fronteiras do Estado espanhol, com o exílio forçado de milhares de combatentes e suas famílias, e quando não, milhares deles, terminaram suas vidas nos campos de extermínio nazis e cárceres fascistas de toda Europa”.
Os que ficaram em território espanhol sofreram um regime de terror carente de respeito para qualquer lei de direitos humanos. Encarceramento e julgamentos sumaríssimos, com a única garantia de acabar ante os pelotões de fuzilamento e serem jogados na fossa comum ou ao pé das valas. Fossas sem nome, onde jazem nos dias de hoje milhares de centenas de desaparecidos, ao longo e ao largo do Estado espanhol.
Seguidamente, por parte da companheira Leonor, também da CNT-AIT, com experiência na temática da Memória Histórica, fez uma introdução ao que significou o golpe de estado fascista com a posterior repressão na localidade, apesar de que é “zona na qual não houve guerra”. Assim foi resumindo tudo no triste e famoso discurso que definia o caráter genocida dos golpistas e seus sequazes… pronunciado pelo criminoso de guerra franquista Queipo de Llano.
Por parte do sindicato da CNT-AIT de Chiclana, se dirigiu aos presentes o companheiro Rafa, no sentido de como setores da sociedade e da classe política se expressa à vontade de fazer de “uma (des) memória histórica, para torná-la memória”. Expôs aos presentes o porta-voz cenetista “como já no ano de 1936, a CNT serviu como ferramenta de luta da classe obreira, algo que segue sendo na atualidade e que continua a linha que verdadeiramente deu vitórias à classe trabalhadora como centenária organização, sem hierarquias, revolucionária e de ideologia anarquista”.
“Claro que os libertários não são perfeitos, cometeram erros, mas sobre a mesa estão os múltiplos exemplos da luta anarcossindicalista durante a Revolução espanhola de 1936 – 1939, que são de sobra conhecidos, destacando a revolução social ocorrida tanto em Aragão e na Catalunha, e inclusive a resposta armada que fez a classe trabalhadora organizada na CNT junto à Federação Anarquista Ibérica (FAI) para frear o golpe de Estado de 18 de julho de 1936 perpetrado pelo bando militar fascista, o Clero e a burguesia”.
“Não se pode esquecer o papel jogado por Mujeres Libres que organizaram e lutaram tanto para a liberação da mulher como para uma revolução anarquista durante a Guerra Civil espanhola. O trabalho que fizeram é verdadeiramente inspirador combinando a luta contra a opressão da mulher e contra o fascismo em uma luta pela liberdade. Assim como as Juventudes Libertárias, fermento permanente da revolução social, consciência viva dos princípios libertários”.
“Houve, há e haverá homenagens e reconhecimento a figuras do anarquismo em diversas cidades e povoados… mas nestes reconhecimentos falta sempre o que define a idiossincrasia destas pessoas, quer dizer, o ser anarquistas ou anarcossindicalistas.”
“Reconverter anarquistas em lutadores pelas liberdades, escritoras, médicos, defensoras da classe obreira, etc., é para nós uma boa maneira de esquecê-los, é uma boa maneira de construir uma “memória boa e aceitável”.
“A lembrança é a experiência vivida e está destinada a morrer com seus testemunhos. A memória é a rememoração coletiva do passado, pode ser ou não ser, um elemento permanente da consciência social.”
“A realidade demonstrou que somos uma comunidade não da lembrança, mas do esquecimento organizado, sistemático e deliberado. O franquismo quis destruir a memória anterior a 1939 em seu afã por aniquilar os vencidos. Mas o esquecimento organizado não foi executado só pelo franquismo, e se esteve esvaziando de conteúdo a homens e mulheres anarquistas. A palavra anarquia e seus derivados – libertários, ácratas, anarquistas, anarcossindicalistas cenetistas, faístas – é um copo difícil de beber para as posições políticas institucionais inclusive para algumas que não o são.”
“…Os espaços organizativos e de luta que se estruturam ao redor do anarquismo devem estar presentes em todos os cenários da memória. Há que atrever-se e querer construir nossos próprios mapas, já que o que esquecemos, já não é nosso… para evitar que nos arrebatem o que somos: anarquistas e anarcossindicalistas, os esquecidos dos esquecidos…”.
“Nossos companheiros e companheiras, foram e são também vítimas da negação de sua identidade. Muitos deles lutavam pelo comunismo libertário e não duvidaram em enfrentar o fascismo: Sua identidade, anseios e ideologia eram libertários. Anarquistas e anarcossindicalistas padeceram também, a repressão, a morte e o exílio”.
Finalizou dizendo que: “os anarquistas e anarcossindicalistas, que pagaram com suas vidas o funesto golpe fascista de 1936 não podem passar despercebidos: seu rastro de sangue continua, 88 anos depois, reclamando memória, justiça e dignidade, daí recordá-los como o que foram.”
Concluiu o ato com a audição em silêncio do poema “Desaparecidos” de Mario Benedetti, e a canção “El Anarquista”.
SOV CNT-AIT de Chiclana
20 julho 2024
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
A vasta noite
não é agora outra coisa
se não fragrância.
Jorge Luis Borges
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!