[França] Ser anarquista (1934) – Fernand Planche (1900-1974)

Uma declaração apaixonada do que significa ser um anarquista.

Ser anarquista significa, acima de tudo, ser bom; significa pensar, sonhar e discutir sem sectarismo.

Significa odiar tudo o que causa sofrimento, lágrimas e morte.

Significa conceber e explicar as coisas de forma clara, simples, sem medo das consequências e sem esperança de lucro.

Significa rejeitar tudo o que é feio, mesquinho, desumano, servil ou dócil.

Significa aproximar-se de tudo o que é belo, bom, orgulhoso, justo, amigo da liberdade e da verdade.

Significa seguir um caminho reto, sem se distrair com ameaças, insultos ou apelos à traição.

Significa ser útil, inclinando-se aos sofrimentos de seus semelhantes; um lutador, guiando aqueles que se rebelam; um pensador, vislumbrando a aurora de um dia melhor.

Significa acarinhar o amante, guiar os passos vacilantes da criança, reverenciar a velhice, ajudar os que estão ao seu redor.

É não se limitar a nenhum horizonte, a nenhuma fronteira; é querer ser irmão de todos os seres humanos, sem distinção de raça, idioma ou cor.

É escalar montanhas, correr pelas planícies, entregar seu corpo à pureza do riacho, aos raios benéficos do sol.

Significa saborear os belos frutos maduros, morder o fruto ainda mais belo do amor; fazer dos animais uma segunda família, fiel, amorosa, afetuosa.

Significa viver intensamente sem preconceitos, sem respeito aos costumes antiquados, inveja, ressentimento ou ódio; viver duas vidas significa viver duas vezes.

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Quantos pensavam que eram anarquistas, mas estavam cegos pela visão deslumbrante. Para eles, o egoísmo banal assumiu o controle, e uma sinecura falsamente nutritiva pôs fim ao belo sonho que haviam vislumbrado; eles não foram feitos para esse sonho fantástico, para esse apostolado.

Mas quantos também foram anarquistas sem saber, todos os nomes que, depois de uma vida de coragem, bondade, rebeldia e generosidade, deixaram uma lembrança na história, foram dignos de nosso nome, e também os eclipsados que lutaram, sofreram e morreram para que a humanidade pudesse avançar.

Vá em frente, meu amigo, você que me lê e talvez esteja indeciso, não hesite mais, a mais bela causa lhe é oferecida.

Leia, reflita, observe, discuta, analise, compreenda e lance-se à luta; as satisfações superarão em muito as tristezas e, na alvorada de sua vida, antes que seus olhos se fechem para sempre, quando em um instante o filme de sua existência se desenrolar em uma retrospectiva breve demais, nenhuma preocupação escurecerá sua testa, nenhum arrependimento obscurecerá seus lábios, exceto o pesar pelo fato do sonho estar se interrompido e encerrando.

Fonte: https://libertamen.wordpress.com/2024/07/24/ser-anarquista-1934-fernand-planche/

Tradução > anarcademia

agência de notícias anarquistas-ana

lá se vão as garças
vão pairando sobre o rio
vão cheias de graça

Gustavo Felicíssimo