focos humanos
A fumaça vem da floresta amazônica incinerada. A fumaça vem do cerrado tostado. A fumaça vem do pantanal em chamas. A fumaça vem do interior do estado de São Paulo, de cidadezinhas e das ricas províncias dominadas pelo agro. Alguns querem saber quem são os culpados. Autoridades paulistanas falam em mais de 12 detidos por “incêndios criminosos”. Todos machos chucros; alguns que registraram em seus smartphones o fogo consumindo a mata, enquanto celebravam; outros que delataram agir a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital). As notícias replicam os alertas de especialistas e autoridades sobre a má qualidade do ar e a baixíssima umidade, e sobre a possibilidade de aumento dos focos de incêndio. Também alardeiam os prejuízos à saúde dos humanos, sublinhando grupos “vulneráveis” — crianças, velhos e portadores de doenças respiratórias — e, é claro, os bilhões perdidos pelo agronegócio. Para nós, os efeitos devastadores não se restringem a grupos esquadrinhados, atingem tudo que respira, atingem ar, terra e água. Para nós, é muito mais valioso um arbusto, uma mudinha qualquer, do que o negócio facínora do agro.
a fumaça vem
Pouco importa quem risca o fósforo, a maioria partilha o mesmo modo de tratar as demais forças vivas. Nem mesmo distinguem quais áreas foram e são queimadas, se são mata atlântica, roçados ou monoculturas latifundiárias. Para eles, tanto faz, o que importa é o verde da grana dos proprietários, das abstrações “o agro” e “o país”. Não estão nem aí para as vidas incineradas. Não estão nem aí para o que já não se pode ver no céu, a ausência da luz da lua, o sol como uma opaca bola laranja. Respiram o ar putrefato, sentem a pele, os olhos e a garganta ressecarem. Sentem? Talvez não percebam nada além do verde da grana que quase já não tem mais cor, nem matéria, explicitando sua abstração como números que saem de uma conta para outra por meio de operações eletrônicas. O que vale para a maioria abúlica e covarde são as abstrações. A fumaça vem de cadáveres de outros viventes.
>> Leia o Flecheira Libertária 779 na íntegra aqui:
https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/09/flecheira779.pdf
agência de notícias anarquistas-ana
Grito se agiganta,
embrutece, se enfurece,
morre na garganta…
Flora Figueiredo
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!