Por Miquel Amorós | 01/08/2024
É uma doutrina, uma ideologia, um método, um ramo do socialismo, um curso de ação, uma teoria política? A resposta, em princípio, é fácil: anarquismo é o que os anarquistas pensam e fazem e, em geral, aqueles que se definem como inimigos de toda autoridade e imposição. Aqueles que, de várias formas, muitas delas verdadeiramente antagônicas, buscam a “anarquia”, ou seja, uma sociedade sem governo, um modo de convivência social fora de arranjos autoritários. O anarquismo nada mais seria do que a forma de concretizar essa anarquia, que o geógrafo Reclús chamou de “a mais alta expressão da ordem”. Em que ela consiste? Existem estratégias múltiplas e contraditórias para alcançar um ideal baseado em uma negação da qual existem várias versões, e é por isso que se poderia falar mais apropriadamente de anarquismos, como faz, por exemplo, Tomás Ibáñez. Se também levarmos em conta a situação histórico-social contemporânea, em que o anarquismo já não é grande coisa, apenas um sinal de identidade jovem e semi-acadêmica que tem pouca relação com épocas passadas mais gloriosas e permanece protegido de qualquer crítica séria e objetiva, as definições poderiam continuar ad infinitum. O anarquismo seria então uma espécie de saco cheio de fórmulas díspares rotuladas como anarquistas. As portas permanecem abertas para qualquer tendência, seja ela reformista, individualista, católica, comunista, nacionalista, contemplativa, mística, conspiratória, de vanguarda etc. Sobre a alegria bem-humorada nos meios libertários resultante dessa diversidade, poderíamos concluir da mesma forma que o autor ou autores do panfleto “Da miséria do meio estudantil” (1966) sobre os membros da Fédération Anarchiste: “Essas pessoas toleram tudo, porque toleram umas às outras”. A perspectiva não é animadora, pois, nos dias de hoje, a compreensão dos fenômenos sociais e das ideologias que os acompanham depende muito de se pensar neles adequadamente, ou seja, a partir da perspectiva fornecida pelo conhecimento histórico. Mesmo hoje em dia, o anarquismo não carece de intelectuais honestos e competentes para essa tarefa. Entretanto, a característica mais comum dos anarquismos pós-modernos, aqueles que navegam na pós-verdade e repudiam a coerência, é a rejeição de tal conhecimento. Além disso, de acordo com esse anarquismo, o passado deve ser intervencionado a partir do presente, como uma fonte de recursos estéticos, de acordo com a normatividade lúdica, a gramática transgênero e os hábitos gastronômicos da moda. O comprometimento, além disso, é efêmero. Em resumo, com a exceção voluntária de alguns núcleos sindicalistas, o anarquismo foi reduzido a um fenômeno de feira de livros. Nós, que navegamos na direção oposta, tentaremos explicar essa aspiração constante por uma organização social sem governo, depois sem Estado, sem autoridade separada, remetendo às suas origens onde elas se encontram, nos setores radicais das revoluções populares do século XIX.
>> Para ler o texto na íntegra em castelhano, clique aqui:
https://alasbarricadas.org/noticias/node/55311
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Pássaros em silêncio.
Noturna chave
tranca o dia.
Yeda Prates Bernis
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!