Por Juan Cáspar | 11/09/2024
Não me pergunte por que presto atenção nisso, mas acabei assistindo a parte de um debate em que, entre outras coisas, são discutidos os assassinatos em massa em Gaza pelo Estado de Israel. Ocorre que duas pessoas se recusam a tomar uma posição, argumentando que o número de mortos é manipulado. Naquela época, o número estava aumentando, falava-se em mais de 40.000 mortos pelo ataque israelense. Eu me pergunto qual número de mortos é aceitável para que esses elementos previsivelmente ideológicos condenem o humanamente intolerável, ou talvez eles acreditem que é falso que esteja ocorrendo um massacre em Gaza. Um deles, que afirma ser o líder de algo chamado Partido Libertário, um oximoro óbvio para qualquer pessoa com um cérebro bem oxigenado, alega ainda que não conhecemos toda a verdade sobre os crimes cometidos pelo Hamas contra israelenses em outubro do ano passado. É claro que é extremamente lógico que o que foi cometido por alguns poucos justifique a punição de milhares de pessoas inocentes. E isso vindo de um pseudolibertário, que afirma ser crítico de qualquer abstração chamada Estado e sua feroz máquina de guerra (bem, tenho certeza de que isso não o incomoda tanto). Enfim. É de se perguntar que mecanismo cruel e estranho opera no cérebro de algumas pessoas para que, dependendo de suas simpatias ideológicas, elas não condenem um crime de Estado. E, infelizmente, isso não acontece apenas em um lado do espectro ideológico.
Em breve, completará um ano do início do ataque israelense a Gaza, quando um exército infligiu sofrimento e morte indescritíveis a uma população civil. É possível que as estatísticas, as mesmas que foram negadas por essa dupla de idiotas iníquos, também não contribuam muito para aumentar a conscientização, pois estamos nos acostumando demais com o horror. Dezenas de milhares de mortos, entre eles muitas crianças, outros tantos que podem estar sob os escombros e espalhadas pelas estradas, sem que os serviços de emergência possam agir devido ao bombardeio contínuo, e uma infinidade de feridos sendo tratados em condições terríveis porque a infraestrutura da faixa foi destruída pelos ataques militares. Inúmeros derramamentos de sangue que deveriam chocar nossa consciência e que só demonstram que a humanidade, mais uma vez, está passando por uma era interminável de colapso moral. O que aconteceu em 7 de outubro de 2023, com centenas de israelenses mortos por milicianos do Hamas, não só foi a desculpa perfeita para o extermínio definitivo dos palestinos, mas toda a argumentação parece condicionada a esses crimes, sem levar em conta que já houve muitas décadas de perseguição cruel do Estado de Israel contra a população palestina.
O genocídio do Estado israelense em Gaza é a prova de que o direito internacional é uma pantomima e que as instituições supostamente encarregadas de defendê-lo estão condicionadas e diretamente subordinadas aos interesses dos poderosos. Já se passaram meses desde que a Corte Internacional de Justiça, sem levantar a voz muito alto e sem tomar nenhuma medida definitiva contra isso, concluiu que havia motivos para acreditar que o genocídio estava sendo cometido em Gaza, mas os aliados ocidentais de Israel, liderados pelos Estados Unidos, permaneceram em silêncio e continuam a fazê-lo. Se as instituições jurídicas obviamente não fazem o melhor que podem para aliviar os problemas do mundo, mas sim para sustentá-los, a responsabilidade recai sobre todos nós, sobre a população civil, sobre os movimentos sociais. Se nos dizem, que diabos cada um de nós pode fazer? Mas sempre há uma ação imaginativa que pode ser tomada, além de manter um olhar altamente crítico sobre todo o Estado e sua máquina de guerra. Fome e desespero para grande parte do planeta, enquanto em nossas vidas confortáveis discutimos meras estatísticas. Às vezes, eu amaldiçoo grande parte da espécie humana. No entanto, tenhamos confiança para superar as estruturas sociais e políticas cruéis que foram criadas, juntamente com inúmeros conflitos históricos que continuam a nos determinar.
Tradução > anarcademia
agência de notícias anarquistas-ana
Num pesado embalo
alguém traz a cerejeira –
Noite de luar.
Suzuki Michihiko
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!