[Espanha] Resistência Ancestral ante o Genocídio Colonial. Descolonizemo-nos: 12 de outubro nada que celebrar

Artigo publicado em Rojo y Negro nº 393, outubro 2024

Pelo décimo segundo ano consecutivo, coletivos e movimentos sociais convocam uma manifestação para erradicar o 12 de outubro como Festa Nacional e reivindicar a descolonização como processo de reparação sob o lema: Resistência Ancestral ante o Genocídio Colonial.

Desde o começo de setembro mais de 20 coletivos, majoritariamente migrantes e antirracistas voltamos a nos encontrar na Assembleia Descolonizemo-nos: 12 de outubro Nada que Celebrar para nos organizarmos de maneira autogestionada e apartidária em Resistência ao relato hegemônico deste país que anseia a #HispaniNada e mantêm uma memória e ação coletiva colonial, ainda que nos setores e movimentos sociais que se consideram mais alternativos e inclusive começam a impulsionar iniciativas que se propõem abordar a descolonização, como as de alguns museus.

Faz 12 anos começamos a nos mobilizar para recordar que o Genocídio não se celebra, que a invasão não se honra e que a “irmandade” entre herdeiros do império colonial e os povos colonizados não é possível sem o reconhecimento honesto da história e o presente, a responsabilização e a reparação correspondente. E isto inclui claro, renunciar a manter a Festa Nacional do Reino de Espanha na mesma data do início da colonização. Até hoje, o sistema colonial tornou possível a ideia de modernidade, o devir material, epistêmico e de poder da Europa, à custa dos corpos das pessoas racializadas, dos povos originários e da Mãe Terra. Neste sistema está a base e manutenção do racismo estrutural que opera a nível global, também em nossos territórios de origem. No próprio Plano Antirracista 2020-2025 da UE se destaca a importância de reconhecer as raízes históricas do racismo estrutural, reconhecendo entre elas, o colonialismo e o comércio transatlântico de pessoas escravizadas.

Por sua parte, a mestiçagem foi principalmente resultado das violações às mulheres indígenas e africanas por parte dos colonos brancos e da institucionalização de uma ideologia e prática para a eliminação dos povos originários e suas culturas. O chamado Descolonizemo-nos, que nos convoca a cada ano desde 2012, nos convida a olhar-nos e atuar coletivamente frente a este legado colonial.

Por isso, o 12 de outubro voltamos a convocar a manifestação-passeata em Madrid, este ano sob o lema: “Resistência Ancestral ante o Genocídio colonial” com a intenção de recordar que somos herdeiras e recriamos a Resistência a esta ordem colonial. Essa Resistência ante as políticas de extermínio que hoje vemos encarnadas no Genocídio na Palestina, que resiste apesar dos 75 anos de ocupação; na criminalização dos povos originários e das comunidades negras e afrodescendentes que defendem seus territórios, como o Povo Mapuche (por mais de 130 anos) e o povo Garífuna; no massacre de povos inteiros com o fim de controlar o território para a extração de minerais que tornam possível a vida “civilizada”, como acontece na República Democrática do Congo; no Pacto Europeu de Migração e Asilo que é a expressão mais avançada da legalização e institucionalização das políticas que seguem fazendo do Mediterrâneo a maior fossa comum do mundo; inclusive na “transição ecológica” capitalista e extrativista.

A Resistência ancestral hoje está nos povos originários de Abya Yala e nas comunidades afro e camponesas que conseguiram manter sua cosmovisão, seu idioma, sua cultura, sua espiritualidade unida à Mãe Terra. E também está em nós, que seguimos tecendo redes de apoio mútuo de criatividade, autodefesa, proposta e ação ante as violências cotidianas que vivemos ao migrar, em casas, centros de estudo, trabalhos, na rua, meios de comunicação e nos espaços sociais e políticos, inclusive aqueles nos quais pretendem nos assimilar ou “ajudar” desde um paternalismo que nega nossa atitude e nos invalida como sujeito político.

Resistimos desmontando o ser colonial que nos habita, que se reproduz nas relações cotidianas tantas vezes de maneira invisível. Resistimos rebolando, abraçando nossas corporalidades, sexualidades, formas de organização e espiritualidade. Resistimos denunciando a colonialidade e o racismo nas políticas públicas, e propondo novos imaginários e propostas culturais e políticas. Também resistimos identificando, assinalando e desmontando coletivamente as lógicas coloniais que seguem se repetindo nas organizações e claro nas políticas públicas no Reino da Espanha e em nossos próprios territórios de origem, que acompanhamos à distância.

Além da manifestação-passeata convocada para o mesmo 12 de outubro, como há 5 anos, o dia anterior, 11 de outubro, estaremos nos Jardins do Genocídio de Colón (Plaza Colón) em um ato de memória pelas vítimas da colonização histórica e atual. Iniciando com um ritual segundo a cosmovisão de povos originários para depois fazer uma intervenção teatral, com dança, poesia e música de diferentes culturas. Este ano se fará um paralelismo entre o 12 de outubro de 1492 e o 7 de outubro de 2023 pela colonização e Genocídio do Povo Palestino, reivindicando a luta dos povos e sua defesa do território e pela Mãe Terra.

Em 12 de outubro ocuparemos uma vez mais as ruas de Madrid em uma manifestação-passeata prevista para sair às 5 da tarde da Plaza Tirso de Molina, que baixará pela Rua Atocha, e terminará na Plaza Juan de Goytisolo (Museu Reina Sofía). Na mesma praça, às 7 da noite, acontecerá o ArtEvento, que começará com a leitura do manifesto “Descolonizemo-nos, 12 de outubro Nada que Celebrar” e contará com apresentações musicais da Resistência, como Kamanchaca Kuntur, Los Pleneros del Exilio, roda de tambores e Sikuris. Também se somam atividades de nossos coletivos e de coletivos irmãos que podes conhecer através de nossas redes sociais (no Instagram @descolonicemonos12octubre e no X @Descolonicemon1).

Resistência Ancestral ante o Genocídio Colonial!

Assembleia Descolonizemo-nos

#12deOutubroNadaQueCelebrar

Fonte: Rojo y Negro

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

na folha orvalhada,
gota engole gota,
engorda, desliza e cai

Alaor Chaves

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