antivoto
Desde o século XIX, anarquistas como Pierre-Joseph Proudhon combatiam a política e os processos eleitorais, a partir de suas próprias experiências. Proudhon, eleito em 1848, rapidamente percebeu o distanciamento entre os eleitos e a realidade social, expondo o isolamento e a ignorância da Assembleia Nacional. Essa recusa à representação influenciou outros libertários, como Piotr Kropotkin, Emma Goldman, Élisée Reclus, José Oiticica etc., que defendiam a ação direta e rejeitavam o voto como meio de transformação social. Como bem frisou Emma Goldman: “se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal.”
números, obrigatoriedades e democracia…
Como diz a canção: “são tantas coisinhas miúdas…”. Entre os votos nulos, a imprensa destaca aqueles por erros de digitação nas periferias de São Paulo. Muitos? O suficiente para dar a liderança, no primeiro turno, a quem ficou em segundo lugar. Miúdo: botaram 13 para prefeito quando o candidato apoiado por esse partido tinha outro número, obviamente por ser de outro partido. Para os simplórios tanto faz, são todos da mesma caçarola. Acostumados a grudar no presidente, obrigados a votar e mandados por alguns, eles e elas erram desejando acertar. Conduta típica de assujeitados(as)(es). Seus olhos cobiçam algum benefício imediato ou bem de consumo. Entre os(as)(es) que votam, cada vez menos importa o partido, mas o chefe. Idem para o legislativo: votam em sua minoria ou contra direitos de minorias: representação polarizada e contínua entre pobres e religiosos. O fim da polarização é assunto de elite, não é para assujeitados(as)(es), devoto(a)(e) religioso e crente em fantasias futuras paradisíacas sobre a melhoria da sua condição de bosta. Aprendem que o paraíso terreno é este lodo em que vivem. Aprenderam, há muito tempo, que os partidos lutam por controle de empregos.
abstenções
Em São Paulo e muito no Brasil, mesmo com toda a fantasia universitária, da imprensa e de redes sociais, há quase 30% que não comparecem para votar. É uma constante, com ou sem pandemia. Um dia dirão basta a esse delírio chamado democracia, representação, votos e seus penduricalhos opacos!
os que vivem de retórica
Não é de hoje que muitos politólogos e politiqueiros defendem, com unhas e dentes, o voto obrigatório no Brasil, para homens e mulheres maiores de 21 anos que foi instituído pelo Código Eleitoral de 1932, com idade reduzida para 18 anos, em 1934 e mantido após 1988. Argumentam que, caso não fosse assim, os governos, à esquerda, à direita ou ao centro, careceriam de “legitimidade”, uma vez que as abstenções são uma constante. Tratando-se de entusiastas da democracia, poderiam, no mínimo, ser questionados a respeito disso. Afinal, já que a palavra “direito” está presente em cada uma das frases pronunciadas por muitos especialistas das humanidades, por que não preservar a vontade dos que não estão interessados em eleger quaisquer chefes ou indicados dos chefes? Democrata também vive de retórica…
os gestores
Retórica que se apresenta como “radical”, eleições, acomodação em cargos e empregos e, claro, moderação. Esse é o itinerário comum aos sociais-democratas na Europa e, não menosprezando as diferenças históricas e locais, o é também da esquerda do continente americano que, outrora, aderiu às premissas revolucionárias do socialismo autoritário. No Uruguai, concebido por muitos como um dos grandes exemplos de “maturidade” e estabilidade democrática na região, o candidato da esquerda local apresenta como trunfo um economista vinculado ao setor corporativo. Essa é a composição apoiada pela agremiação constituída por antigos guerrilheiros tupamaros, considerados, atualmente, as vozes moderadas, negociadoras e com disposição de diálogo na política nacional uruguaia. Em muitos casos, os antigos guerrilheiros se tornaram os gestores que a ordem tanto necessita.
gestores e caricatos
No Brasil não é diferente, só mais caricato. Não à toa, há quem apresente a trajetória do candidato de esquerda em São Paulo como atualização dos caminhos de Cristo, agora ao lado dos que não têm moradia. Em nome da tolerância e do pluralismo democrático, há quem não hesite em reiterar que aproveitará propostas do coach de ultradireita para derrotar o candidato apoiado pelo homem que sentava anteriormente no trono do palácio. Tudo para conseguir votos populares em zonas nas quais os assujeitados, hoje em dia, estão mais alinhados com a direita. Tudo em busca de cargos, controle de empregos e reforço da moral. Isso é a política, seja de esquerda, de direita ou de sempre. Pouco importa.
Fonte: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/10/flecheira783.pdf
agência de notícias anarquistas-ana
Flor do cerrado —
Na primavera seca
Só o ipê floresce
Eduardo Balduino
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!