Um dos centros sociais mais antigos em funcionamento do Reino Unido, o Cowley Club, em Brighton, é estruturado como uma cooperativa gerida por membros.
~ Entrevistado por Zosia Brom ~
Você pode nos contar quem são vocês, como tudo começou e quais são suas atividades?
Somos o Cowley Club, um centro social em Brighton, nós estamos atuando desde 2003, ou seja, por um bom tempo. Tudo começou com a necessidade de um espaço que não apenas promovesse os princípios anarquistas de organização, mas também servisse como um centro comunitário para diversos movimentos ativistas. Ao longo dos anos, nos transformamos em um coletivo com uma ampla variedade de atividades. Temos um café vegano que serve comida deliciosa, uma livraria anarquista onde você pode encontrar de tudo, desde teoria até zines, e um banco de alimentos para os necessitados. Mas isso não é tudo!
Também oferecemos um espaço de encontro para diferentes grupos ativistas – pense nele como uma base para organizações populares. Nossa biblioteca é abastecida com literatura radical e organizamos eventos culturais abertos a todos.
Trata-se de criar um ambiente onde as pessoas se sintam bem-vindas e possam engajar-se em discussões e ações que importem para elas. Honestamente, estamos sempre procurando maneiras de expandir nossas atividades, então quem sabe o que vem a seguir na pauta do dia?
Quais são os valores fundamentais que orientam o Clube e como vocês garantem que esses valores sejam refletidos nas atividades diárias?
Citando o texto em nosso quadro de abertura: “Por um sistema social baseado no apoio mútuo e na cooperação voluntária: contra todas as formas de opressão. Para estabelecer uma participação na prosperidade geral para todos – a derrubada das barreiras raciais, religiosas, nacionais, de gênero e sexuais – para resistir à destruição ecológica e para lutar pela vida em uma terra”. Em termos mais simples, somos guiados por princípios anarquistas de organização popular e pelo lema “sem deuses, sem gerentes” [1] e estamos tentando, tanto quanto possível, que todos esses valores sejam refletidos na forma como nos organizamos no cotidiano e permanecer livres da influência dos partidos políticos, mesmo os “progressistas”.
Por que vocês acham que manter centros sociais como Cowley é importante?
À medida que o mundo que nos rodeia se torna cada vez mais sombrio – graças ao aumento do custo de vida, à gentrificação desenfreada e à ameaça iminente de colapso ecológico – espaços como o Cowley Club tornam-se mais cruciais do que nunca. Oferecemos uma alternativa às estruturas opressivas que nos são impostas, mostrando diferentes maneiras de organizar nossas vidas. Não se trata apenas de ter um lugar para frequentar; trata-se de criar um suporte para o movimento, um espaço para as pessoas se reunirem, socializarem e planejarem mudanças.
Nestes tempos turbulentos, centros sociais como o nosso desempenham um papel vital promovendo resiliência e solidariedade comunitárias. Lembram-nos que não estamos sozinhos nesta luta e que podemos trabalhar juntos para construir um mundo que se alinhe com os nossos valores – um mundo baseado na cooperação e no apoio mútuo, em vez da competição e do individualismo.
Qual o papel do clube no fortalecimento do ativismo local e como vocês se envolvem com outros movimentos populares em Brighton e para além?
Em primeiro lugar, nosso objetivo é fornecer espaço acessível para projetos e grupos importantes na área. Hospedamos uma série de organizações, incluindo a Federação Solidária, Cruz Negra Anarquista, Antifascistas de Brighton, e Sabotadores de Caça de Brighton [2]. Esses grupos usam nosso espaço não apenas para se reunir, mas também para arrecadar fundos e traçar estratégias. Algumas das iniciativas são de longo prazo, enquanto outras surgem em resposta a necessidades imediatas – elas são igualmente importantes no plano das coisas.
Também adoramos organizar conversas sobre livros, discussões, exibições de filmes e eventos de apoio a prisioneiros. Cada uma dessas atividades ajuda a cultivar um senso de comunidade e a incentivar o diálogo em torno de questões urgentes. Honestamente, adoraríamos fazer ainda mais, mas muita da nossa energia é dedicada a garantir que possamos manter as portas abertas e a luz acesa. É um ato de malabarismo, mas cada evento e reunião contribuem para a trama do ativismo local e reforçam a ideia de que estamos todos juntos nessa.
Que impacto o Cowley Club teve na comunidade de Brighton?
Ao longo dos anos, eu diria que o Cowley Club causou um impacto bastante significativo na comunidade de Brighton. Fornecemos um espaço onde as pessoas podem se conectar, se organizar e desenvolver um senso de pertencimento. A visibilidade das nossas atividades contribuiu para normalizar as discussões em torno do anarquismo e do ativismo popular, tornando estes conceitos mais acessíveis ao público em geral.
Também servimos como rede de apoio durante as crises, seja através do nosso banco de alimentos ou organizando eventos que aumentem a conscientização sobre questões sociais. Ao oferecer um espaço seguro para as pessoas se reunirem e aprenderem, encorajamos muitos indivíduos a envolverem-se no ativismo nas suas próprias comunidades. As relações aqui formadas estendem-se, muitas vezes, para além dos nossos muros, criando redes permanentes de solidariedade.
Como vocês vêem o papel de centros sociais como o Cowley Club evoluindo no futuro?
À medida que o mundo continua a mover-se em um espiral de crises – sociais, ecológicas e econômicas – o papel dos centros sociais como o Cowley Club se tornará, sem dúvida, ainda mais vital. Estes espaços serão essenciais não apenas para fornecer recursos, mas para nutrir a próxima geração de ativistas e organizações.
Diante dos desafios constantes, precisaremos nos adaptar e evoluir, encontrando novas maneiras de atender às necessidades de nossa comunidade, permanecendo leais aos nossos princípios anarquistas. Nós vemos Cowley como um lugar onde surgem soluções criativas, onde as pessoas podem experimentar novas ideias e práticas de organização. Quer se trate de enfrentar a crise do custo de vida ou de responder a desastres ecológicos, queremos estar na vanguarda da criação e partilha de recursos que capacitem outros a agir.
Que projetos ou iniciativas futuras estão em preparação pelo Cowley Club?
Existem muitos planos e ideias circulando por aí, mas atualmente estamos limitados pelo fato de que nossos voluntários fazem o que podem. A realidade é que precisamos encontrar um equilíbrio entre o que queremos fazer e o que podemos efetivamente alcançar com os nossos recursos atuais.
Como o Clube é financiado e quais são os desafios financeiros de gerir tal espaço?
Temos uma mescla de fontes de financiamento para manter o Cowley Club funcionando. Principalmente, nós contamos com o bar e vários eventos que organizamos, além do apoio de uma cooperativa habitacional que tem uma unidade em nosso prédio e de doações de nossos apoiadores. Mas sejamos realistas: os desafios financeiros estão sempre presentes. Tudo fica cada vez mais caro – taxas de juros, serviços públicos, você escolhe!
Nosso prédio tem mais de um século e com isso vem a necessidade constante de reparos, grandes e pequenos. Além disso, estamos lidando com algumas dívidas históricas que estamos trabalhando para quitar. Custava mais de £ 3.000 por mês para manter o local funcionando e muitas vezes, parece uma luta constante garantir todo esse dinheiro. Estamos todos trabalhando juntos para encontrar maneiras de arrecadar fundos e manter nosso espaço.
Qual o papel dos voluntários nas ações diárias do Clube?
Os voluntários são o coração do Cowley Club. Todo o lugar funciona com a força voluntária – sem eles, simplesmente não existiríamos. Eles tomam conta de tudo, desde servir no café e organizar eventos até manter a livraria abastecida e o espaço limpo. É uma situação em que todos estão a postos, e nós realmente valorizamos cada voluntário que atravessa nossas portas.
Quanto mais voluntários tivermos, mais energia poderemos gerar, e isso abre a oportunidade para ainda mais projetos e atividades. Trata-se de construir uma comunidade de pessoas que compartilham uma visão comum e desejam contribuir para algo maior do que elas mesmas. Além disso, é uma ótima maneira de conhecer pessoas que pensam como você e aprender novas habilidades ao longo do caminho!
Se alguém lhe dissesse que está planejando abrir seu próprio centro social, com base na experiência de funcionamento do Cowley, que conselho você daria?
Em primeiro lugar, eu diria: vá em frente! Há uma necessidade real de mais espaços como este e todas as comunidades podem beneficiar-se de um centro social. Mas meu conselho seria planejar bem. Faça sua pesquisa e converse com pessoas que têm experiência em gerir centros sociais – há uma riqueza de conhecimento por aí, e aprender com os acertos e erros dos outros pode economizar muito tempo e esforço.
Tenha em mente que cada área tem sua vibração única e o que funciona em um lugar pode não ser transposto diretamente para outro. Portanto, embora seja ótimo obter inspiração de outros projetos, mantenha-se flexível e adaptável às necessidades da sua própria comunidade. Por último, não se esqueça de se divertir! Construir um centro social é criar um espaço que reflita seus valores e reúna as pessoas. Abrace a jornada e os relacionamentos que você construirá ao longo do caminho.
Notas
[1] No original: “no gods, no managers”, em provável alusão ao lema “no gods, no masters” (sem deuses, sem mestres).
[2] No original: Solidarity Federation, Anarchist Black Cross, Brighton Antifascists e Brighton Hunt Saboteurs. A última organização refere-se a um grupo que atua, desde a década de 1960, sabotando a prática de caça de animais selvagens na região, ver: https://brightonhuntsaboteurs.wordpress.com/
Tradução > mariposa
agência de notícias anarquistas-ana
Flores ao vento.
Na cortina da janela
Cores da primavera.
Alonso Alvarez Lopes
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!