Flecheira Libertária 789 | “lembrar de lutas que não se pacificam”

20 de novembro

É preciso lembrar, diariamente, Zumbi dos Palmares, corajoso e radical como poucos. No final do século XVII, na Serra da Barriga, hoje estado de Alagoas, Zumbi inventou um espaço de liberdade, em pleno Brasil colônia. Zumbi não negociou a rendição política com autoridades e enfrentou exércitos e bandeirantes armados de munição muito mais pesada do que a possuída pelo quilombo. No mesmo dia de Zumbi, 20 de novembro, já em 1936, morreu também outro homem raro na valentia e generosidade. O anarquista Buenaventura Durruti, figura marcante na revolução anarquista na Espanha, revolução que durante um curto verão aboliu dinheiro, propriedades, expandiu experiências libertárias pela Espanha e abriu as portas das prisões. Dia 20, portanto, dia de lembrar mais a vida que a morte, lembrar de lutas que não se pacificam, lutas que se atualizam como possibilidades de desconcertar o presente e suas insidiosas arengas políticas.

perseguição aos anarquistas

No dia 31 de outubro, o anarquista Kyriakos Xymitiris perdeu a vida em uma explosão ocorrida em um apartamento localizado no bairro de Ampelokipoi, em Atenas. Marianna M., também anarquista e presente no local, sofreu ferimentos graves e foi levada ao Hospital Evangelismos, onde enfrentou torturas e interrogatórios insistentes conduzidos por agentes do Estado. Em decorrência, outros dois anarquistas, Dimitris e Dimitra, foram presos pela polícia e submetidos a torturas. A polícia foi criada para MATAR. Diante disso, grupos anarquistas mantêm firme suas resistências à violência da polícia, à conivência das instituições médicas com as forças de segurança do Estado e ao papel da grande mídia empresarial em criminalizar xs libertárixs. Com posturas incendiárias e resolutas, xs anarquistas seguem na luta, combatendo o autoritarismo, com o objetivo de subverter a ordem vigente.

solidariedade libertária

Na manhã do dia 15/11, após 15 dias de internação com múltiplos ferimentos no Hospital Evangelismos, Marianna foi transferida para a prisão de Korydallos. Em estado grave, recebeu alta e foi encaminhada ao presídio feminino para morrer. No dia seguinte, mobilizações em memória de Kyriakos e em apoio axs anarquistas encarcerados pelo Estado grego ocorreram em diferentes partes do mundo. Em Berna, na Suíça, um mural foi pintado sob a ponte em frente ao centro social Reitschule, e cartazes foram pendurados em solidariedade e memória de Kyriakos. Em Hamburgo, na Alemanha, dezenas de pessoas mascaradas e furiosas marcharam sem aviso prévio pelo bairro de St. Pauli. Durante o ato, pichações foram espalhadas, fogos de artifício disparados, barricadas erguidas, e um escritório do partido social-democrata foi atacado. Mensagens de apoio aos anarquistas também foram vistas em pichações e faixas penduradas em cidades como Barcelona, Londres e Santiago do Chile.

o que importa?

Na última semana, no Rio de Janeiro, ocorreu a Cúpula de Líderes do G20. O previsível: temas relativos à concretização da Agenda 2030, à taxação das grandes fortunas e às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza vieram à tona. Ao mesmo tempo que milhares de pessoas são executadas pelas forças de segurança dos Estados, muitos celebram a redação de documentos que reiteram a necessidade de acertos, negociações, diálogo etc., etc., etc. Práticas típicas dos burocratas e seguidores de políticos, seja de esquerda ou de direita. Pouco importa. Cada qual busca se projetar e, sobretudo, viabilizar novos acordos comerciais. O que importa são negócios. O resto é retórica dirigida aos governados, cuja sede de participação, inclusão e fome de algumas migalhas distribuídas seletivamente são constantes.

os negócios …

Para além das reuniões usuais do G20, Brasil e China selaram novos acordos comerciais. A previsão é que o Banco da China – banco do Partido Comunista da China – conceda, aproximadamente, o equivalente a R$ 4 bilhões em Yuan para o BNDES, além da santificada transferência de tecnologia. O plano visa impulsionar projetos de infraestrutura e industriais em diferentes localidades do Brasil, como rodovias, aeroportos, portos, parques industriais. Uma das finalidades é viabilizar novas rotas que levem adiante a antiga busca pela chamada integração sul-americana, permitindo, sobretudo, a disseminação dos produtos chineses na região. Muitos proprietários brasileiros agradecem. Afinal, banco estatal e de fomento serve, sobretudo, para viabilizar empreendimentos empresariais e fortalecer os negócios das “empresas nacionais”. Para os idealizadores de tudo que carrega consigo o termo “público”, cabe escancarar o óbvio: bancos, sejam do Estado ou privados, servem, cada qual ao seu modo, para captar dinheiro em benefício dos proprietários, seja para projetos em parceria com a autoridade estatal ou especulação, prorrogação de dívidas, juros etc. Pouco importa.

… e mais créditos

O Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), uma semana antes do início do G20, organizou reuniões com a finalidade de enviar, aos chefes de Estado, propostas que visam à massificação da chamada Reforma Agrária Popular. Foi-se o tempo em que movimento social protestava do lado de fora. Hoje em dia, classificados como produtores e empreendedores do campo, estão presentes nos chamados painéis sociais dos encontros multilaterais e em muitas outras reuniões. Uma de suas principais demandas é o acesso a tecnologias e maquinários que contribuam para o aumento da produção da agricultura familiar. Assim como as autoridades do Estado e os proprietários, também estão interessados em acordos comerciais que envolvam transferência de tecnologia para os seus empreendimentos. Ao considerá-las neutras, reiteram que o acesso à tecnologia trará incontáveis benefícios aos “produtores”. Ou melhor, trará incontáveis benefícios para suas cooperativas empresariais. Isso, sem dúvida, é imprescindível à lógica empresarial, seja de “cooperativas populares”, familiares, sustentáveis ou quaisquer denominações similares.

Fonte: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2024/11/flecheira789.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

é quase noitinha
o céu entorna no poente
um copo de vinho

Humberto del Maestro

Leave a Reply