Feminismo e Anarquismo no Brasil: concepção pela experiência

Por Eloísa Benvenutti de Andrade | 17/12/2024

Habitualmente, quando falamos de perspectivas revolucionárias teóricas que almejam o socialismo, existe certo purismo em seus fundamentos. Diferente disso, a fundação do projeto e da prática anarquista possui seu alicerce na perspectiva ética da realidade, o que faz com que a doutrina anarquista não se limite à uma simples projeção de uma realidade futura. Se assim o fosse, seu porvir seria resultante de uma base moral fixa capaz por si só de alavancar o socialismo libertário. Esse não é o caso da construção do anarquismo.

Pelo contrário, o aspecto embrionário da perspectiva anarquista encontra-se num aspecto importante do Iluminismo, a saber, quando a inédita possibilidade de mobilidade social fez com que, ao menos teoricamente, todo e qualquer indivíduo fosse admitido como sujeito de razão. Isso significou que, a partir desse momento histórico, qualquer indivíduo seria entendido como capaz de pensar racionalmente e, por conseguinte, como capaz de fazer um discurso sobre si e um discurso sobre o mundo.

Nesse contexto é que o anarquismo adota uma concepção radical da existência, pois sua premissa concreta é a de que o ser humano, enquanto sujeito, é capaz de pensar radicalmente sua condição de vida, e, por sua vez, criticá-la e transformá-la. Portanto, o anarquismo é um projeto forjado nas condições e experiências concretas de vida dos sujeitos no mundo, e não sob condições abstratas e hipotéticas da realidade. Em sua origem, sua obstinação libertária não é delegada ao “outro”. Diferente disso, os anarquistas e as anarquistas se compreendem enquanto sujeitos em luta contra uma hierarquia coercitiva que aliena o poder do povo e do sujeito. Por conseguinte, cria barreiras à emancipação e à consolidação do poder popular, que é, entretanto, o tempo todo, factível nas experiências dos sujeitos.

Esta hierarquia coercitiva pode ser compreendida como a expressão da relação de comando e obediência que hierarquiza as diferenças que constituem o coletivo, como raça, classe e gênero, e que se realiza no que podemos chamar de cadeia de opressões. Nesse sentido, o anarquismo é um projeto que questiona a ideia de natureza humana construída à luz de abordagens teóricas, como dito acima, puristas da realidade política e social.

O questionamento libertário ocorre, justamente, em prol da reflexão crítica e permanente acerca das contradições do mundo, reforçando, assim, uma perspectiva enraizada em uma dimensão materialista do real. Por isso, o anarquismo não é um projeto estético. Isso quer dizer que existir no mundo, de acordo com seu propósito, não é algo que se realiza expressando-se apenas esteticamente. Portanto, a doutrina e a prática anarquista não resultam de um “estilo de vida” ou de um puro “ativismo”. Diferente disso, a concepção anarquista é, sobretudo, ética e funda-se em, ao menos, dois elementos importantes para a compreensão da realidade. Estes elementos nos ajudarão a tecer um breve comentário sobre a relação entre anarquismo e feminismo focando nas experiências das lutas brasileiras no início do século XX. Tais elementos, a saber, são o poder e o classismo.

A especificidade da presença destes dois elementos na história do anarquismo é que ambos são concebidos de forma inédita e radical. A singularidade do primeiro elemento é que, para os anarquistas, o poder não existe apenas como dominação, mas é algo presente e expresso por todo indivíduo, que está, entretanto, constantemente alienado dele pelas opressões que ele sofre. Já a peculiaridade do segundo elemento é que sua compreensão classista se opõe à ideia habitual de natureza humana supracitada, oferecendo assim, uma perspectiva também classista da natureza.

Isso é importante pois duas sentenças fundamentais em seu projeto decorrem justamente dessa sua abordagem original e revolucionária.

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