
Uma breve introdução à crítica anarquista anticivilização, entendida como crítica ao processo histórico de dominação e destruição ecológica, e defesa de formas de vida diferentes do modelo civilizatório dominante.
Anarquia e crítica à civilização
Anarquia, em seu sentido mais profundo, é a luta pela autonomia frente a todas as formas de dominação: o estado, o capital, o patriarcado, o racismo, a heteronormatividade, a lógica colonial e a objetificação da vida. Historicamente, muitos povos originários resistiram e seguem resistindo à imposição de um mundo centrado no controle e na acumulação. Essas resistências, ainda que não se identifiquem explicitamente como “anarquistas”, compartilham com o anarquismo o impulso pela liberdade e pela recusa à autoridade imposta.
Criticar a civilização significa se opor radicalmente ao colonialismo e suas consequências, pois foi pela dominação colonial que a civilização se espalhou pelo mundo. Significa também questionar a própria noção de “progresso” que sustenta o projeto civilizatório. Uma noção que, mesmo entre anarquistas e comunistas do século XIX, era tomada como um bem em si. A crítica à civilização contemporânea denuncia que o chamado “progresso” não é neutro nem universal, mas implica em destruição, dependência e controle. O que se apresenta como avanço (tecnologias, infraestrutura e conforto) carrega consigo formas intensificadas de alienação, vigilância, extração e devastação.
A civilização é, como dizem alguns pensadores anarquistas contemporâneos, um processo histórico de dominação do ser humano e das demais formas de vida, que transforma a natureza em recurso e os seres em engrenagens de um sistema. Os civilizados amam suas prisões e chamam de liberdade o acesso a comodidades dentro delas.
Perguntar se precisamos da eletricidade, da conectividade permanente, das máquinas que consomem a vida do planeta para manter nossa “rotina” é tratado como heresia, mesmo dentro dos movimentos sociais que se dizem anticapitalistas. Em geral, as críticas à tecnologia se limitam aos seus efeitos colaterais, e não à sua lógica fundamental. É comum ouvir que “o problema não é a tecnologia, mas seu uso”. Mas isso ignora que toda tecnologia carrega consigo uma forma de vida: modos de produção, relação com o tempo, com o corpo, com o outro, com o mundo. Produzir eletricidade por meio de hidroelétricas, por exemplo, envolve o controle forçado de rios, a escavação de terras indígenas, a instalação de redes de vigilância, a dependência de redes globais de exploração. Podemos mesmo dissociar isso do poder?
A ideia de que “as forças produtivas” redimiriam a humanidade se libertas do capital ou do estado ainda encontra defensores na esquerda. Mas a teoria crítica tem mostrado que a própria fé na redenção técnica é parte da ideologia dominante. A civilização se apresenta como redentora de seus próprios crimes: contamina e promete cura, escraviza e promete liberdade, destrói e promete regeneração. A civilização criou os problemas que ela mesma promete resolver.
No século XIX, os anarquistas clássicos, como Bakunin e Kropotkin, viviam num mundo em que a civilização industrial era vista como inevitável. Mesmo os mais radicais pensavam a libertação como um melhor aproveitamento das forças da modernidade. Hoje, após guerras mundiais, colapsos ecológicos, pandemias e vigilância digital em massa, temos outros elementos para repensar isso. A própria ideia de “civilização” como medida de valor humano já se mostra obsoleta, não apenas como conceito eurocêntrico, mas como projeto destrutivo.
As ciências humanas ainda relutam em abandonar a ideia de civilização como destino. A maioria das definições continuam neutras ou celebratórias. Questionar o próprio processo civilizatório é frequentemente descartado como “inviável” ou “antipolítico”. Mas isso está mudando. Cada vez mais vozes de comunidades indígenas, quilombolas, periferias urbanas, coletivos anarquistas, ecofeministas e pensadores decoloniais questionam se o modo de vida civilizado, urbano-industrial, digitalizado e objetificado, é realmente desejável ou mesmo sustentável.
No Brasil, essa crítica se torna especialmente relevante diante do esgotamento da política institucional. A esquerda institucional aderiu à defesa do progresso, do desenvolvimento sustentável e da inclusão no mercado, sem questionar as bases coloniais e extrativistas desse projeto. Enquanto isso, as lutas mais vivas e inovadoras surgem fora das instituições: nas ocupações urbanas, nas retomadas indígenas, nas greves espontâneas e nas redes de cuidado e apoio mútuo que se formam nos territórios abandonados pelo estado.
A crítica à civilização, portanto, não é um luxo teórico. É uma necessidade prática. Não se trata de voltar ao passado, mas de romper com o caminho único imposto como “futuro”. Trata-se de multiplicar os mundos possíveis: mundos onde a vida não dependa da destruição de outras vidas, onde a liberdade não seja medida pelo consumo, e onde possamos reaprender a viver sem dominar violentamente tudo o que existe.
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https://contraciv.noblogs.org/anarquia-anti-civilizacao/
agência de notícias anarquistas-ana
a volta ao lar
inquieta serenidade
parece que foi ontem
Seadog
Oiapoque/AP, 28 de maio de 2025. De Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque – CCPIO CARTA DE REPÚDIO…
A carta não ta disponível
UM ÓTIMO TEXTO!
COMO FAZ FALTA ESSE TIPO DE ESPAÇO NO BRASIL. O MAIS PRÓXIMO É O CCS DE SP!
ESSE CASO É O CÚMULO DO ABSURDO! A JUSTIÇA ESPANHOLA NÃO TENTA NEM DISSIMULAR SEU APOIO AO PATRONATO, AO FASCISMO!