
O homem que carrega em suas costas com um companheiro exausto se chama Luciano Allende (foto) e nasceu faz 120 anos em Santander. O chamavam Toto. Teve uma infância pobre e complicada, e com 15 anos emigrou à Lyon, na França, para trabalhar de vidreiro. Um ofício fodido o de vidreiro. O fogo te queima os olhos e a mistura de certos minerais empregados como corantes te queima os pulmões. Ainda assim nunca baixou os olhos nem deixou de aspirar a vida a baforadas.
Vidreiro também nas cercanias de Paris, travou amizade com o insubmisso Gaston Rolland, a quem condenaram a trabalhos forçados por condenar as guerras; e com Charles Louis Anderson, libertário que na guerra espanhola moveria céus e terra apesar de não acreditar no primeiro para evacuar meninos e meninas a zona segura e condições dignas. Também fez boa amizade com dois exilados espanhóis que iam avisando do fascismo que viria, Buenaventura Durruti e Francisco Ascaso.
Após o golpe fascista de julho de 36, Allende regressou à Espanha para engajar-se no Exército Popular. Foi sugado pela guerra até cruzar à pé a fronteira para ser jogado em Argelès e Saint Cyprien. Sua única saída foi engajar-se em uma companhia de trabalhadores estrangeiros. Não teve vontade de render-se após a ocupação alemã e se integrou na Resistência.
Luciano Allende participou em diversas ações armadas contra as tropas alemãs até ser detido pela Gestapo em março de 1944. Não puderam tirar-lhe nada e o deportaram a Neuengamme, uma antiga fábrica de ladrilho utilizada como fábrica de horror pela SS. 106 mil pessoas, homens e mulheres, passaram por ali. Pereceram mais da metade. Luciano sobreviveu. Em 4 de maio de 1945 é esse homem que olha a câmera carregando um companheiro em suas costas, porque sempre arcou com sua responsabilidade em um mundo que sem tipos como ele seria pior, nos faria piores.
Militante até o final da CNT e da Federação Espanhola dos Deportados e Internados Políticos (FEDIP), Luciano Allende foi com sua companheira Mariette trabalhar de apicultor perto do Mediterrâneo, esse vidro azul no qual podia perder o olhar e recordar essas vidas que lhe davam sentido a tudo. Luciano Allende morreu em 23 de janeiro de 1983, na paz de um zumbido de abelha, espalhando suas cinzas no jardim de um bom amigo, o libertário Paul Ferrare. Há que cultivar nosso jardim.
Tradução > Sol de Abril
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O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.
Guilherme de Almeida
Oiapoque/AP, 28 de maio de 2025. De Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque – CCPIO CARTA DE REPÚDIO…
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UM ÓTIMO TEXTO!
COMO FAZ FALTA ESSE TIPO DE ESPAÇO NO BRASIL. O MAIS PRÓXIMO É O CCS DE SP!
ESSE CASO É O CÚMULO DO ABSURDO! A JUSTIÇA ESPANHOLA NÃO TENTA NEM DISSIMULAR SEU APOIO AO PATRONATO, AO FASCISMO!