A “pacifista” Corina Machado, um disparate perigoso

A escolha da venezuelana María Corina Machado como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2025 além de descredibilizar o comitê de Oslo, dando a ele um notório toque de bizarrice, realça também a não neutralidade de seus participantes na escolha da honraria, dado que o “condomínio político” ali representado, ao conceder esse prêmio, premia, acima de tudo, a atuação política de uma figura tão controversa quanto o bolsonarismo aqui no Brasil. Com um passado abraçado ao golpismo, essa senhora, ainda hoje, clama por uma escalada militar dos EUA contra seus compatriotas e tal sinalização, escancarada nas mídias digitais, pode servir de aterramento midiático aos interesses de ocupação que o imperialismo sempre teve pela região.

Para Pablo Uchôa, pesquisador e docente do Institute of the Americas, da Universidade de Londres, a premiação ignora o passado antidemocrático da líder e pode até servir como um atalho para a influência de Trump sobre a América Latina. Uchôa avalia que, ao destacar uma figura individual, o Nobel perdeu a chance de reconhecer a luta coletiva pela democracia, representada por algumas organizações da sociedade civil; e, diante da crescente sombra direitista pela América, o professor ainda nos lembra que: “No ano em que o espectro do fascismo começa a se alastrar pelos Estados Unidos, o comitê do Nobel resolve premiar a sua maior aliada na América Latina.”

Diante disso, como considerar uma defensora da paz alguém que apoia as ações do governo de Benjamin Netanyahu em Gaza e defende intervenções externas na Venezuela? Ora, essa mulher que apoiou o golpe contra Chaves em 2002 e a deposição de Nicolas Maduro, em 2019, ao lado do autonomeado presidente, Juan Guaidó, recentemente comemorou que o governo americano aportasse na costa caribenha três navios de guerra prontos para o terror; o que passa longe de alguém que comunga os preceitos pacifistas de respeito e diálogo. Muitas vezes vendida como esperança de democracia, María Corina, na verdade, não passa de uma fascista de longa data – que nunca hesitou em conclamar meios beligerantes para derrubar o governo de seu país natal.

Aqui no Brasil, até mesmo os defensores de tal figura tiveram imensa dificuldade para justificar na imprensa o prêmio concedido a ela, dado seu “histórico de luta” estar resumido apenas a conchavos esporádicos na coxia política. Não é pra menos: este talvez seja o prêmio mais bizarro dado na história da instituição do Nobel. E olha que o plantel de demônios laureados, sedentos pelo sangue de países periféricos, é extenso: vai de Henry Kissinger à Menachem Begin e Barack Obama, por exemplo.

É lamentável que esse prêmio contamine de infâmia aqueles que, de fato, o merecem e seja posto, hoje, como uma espécie de avalista para possíveis confrontos armados, pois, neste exato momento, o presidente Trump já fala abertamente em fazer uma incursão por terra na Venezuela, legitimando seu discurso com esses “confetes” recebidos. Ou seja, acabou a vergonha em falar em nome do sangue e do saque, pois todos sabemos que os EUA não está nem aí para a democracia. Quem fala alto aqui e agora é o perigo. Ao anunciar como vencedora uma atriz política, o comitê de Oslo premiou sua histórica atuação por submissão, intervenção e saque. Ora, dado o histórico macabro do próprio prêmio, e dado os devidos créditos de megalomania do presidente americano, a premiação de 2025 seria até menos absurda se tivesse sido concedida a Donald Trump.

Diego Fernandes Moreira

ULCM (Unificação das Lutas de Cortiços e Moradias)

agência de notícias anarquistas-ana

Noite fria.
Mundo em silêncio.
Tosse ao longe…

Gustavo Alberto Corrêa Pinto

Leave a Reply