Equador: Derrota do direitista Daniel Noboa

Por Rosario Aguirre

Não devemos esquecer que a mesma lógica que ordena as repressões violentas contra o povo, acusado de terrorista, e que amedronta os povos indígenas, é a mesma que segue as receitas do FMI, que já tem as bases militares em San Cristóbal, que se apropriou dos Fundos do BIES, que enriquece os Grupos Econômicos, que nega recursos aos hospitais, que tem vínculos diretos entre nossos portos marítimos e os corruptos narcos de Amberes, etc.  Essa (i) racionalidade vai continuar, a menos que esse movimento fragmentado de esquerda se proponha reflexão, avaliação, compromisso, disposição, articulação e imaginação. Basta de polarizações entre supostos Correistas e Noboistas, isto é, entre progressistas de direita e oligarcas neoconservadores.

Devemos fazer uma nova política, não para as próximas eleições, mas para as próximas gerações. Experimentamos ontem um momento histórico na Consulta Popular¹, pois as ações coletivas, e inclusive individuais, causaram impactos decisivos no destino comum do povo. Não vamos dormir sobre os louros da vitória.

É preciso apagar o triunfalismo. Nosso país está repleto de perversas desigualdades; pequenas minorias com abundância e a maioria submergida na pobreza e no desemprego, na exclusão. Iniquidade, racismos e indignidades por todas as partes, com a saúde e a educação negadas pelo neoliberalismo, uma insegurança crescente apesar do aumento do IVA. As autoridades inflexíveis seguirão olhando para Miami, as vítimas de nossos bairros e comunidades, submergidos na confusão, no medo, na desesperança, acumulando desgraças e ressentimentos.

A mudança do modelo econômico é uma decisão obrigatória do movimento social. O neoliberalismo financeiro, sob o poder dos bancos, dos fundos de investimento e do FMI, está sangrando o Equador. Um punhado de rentistas vem impondo medidas de especulação financeira, como a apropriação dos fundos do BIES, que agigantam a concentração do dinheiro, distanciando o Estado de sua própria sociedade. Podemos imaginar a reconstrução do Equador por meio de múltiplos rizomas solidariamente encadeados por economias solidárias. O atual rentismo – a conversão da sociedade equatoriana em huasipungueros² modernos dedicados a pagar a dívida externa – é insustentável. Enquanto as classes dominantes se aferram a suas prerrogativas e só distribuem as migalhas, paternalistamente, para aplacar descontentamentos, trabalhadores, camponeses, grupos populares, povos indígenas e afro equatorianos, experimentam o empobrecimento.

É hora de pensar em transformações. A mudança de modelo econômico exige outra equação no poder popular. Mudar as estruturas do Equador implica enfrentar poderosos interesses, monopólios, plataformas, algoritmos, forças militares. Pensemos em nutrir uma ampla base popular, um programa mínimo, mas radical que reúna uma coerente coalizão política. Há que poder desafiar a hegemonia, criar um contrapoder, liberar as amarras da democracia participativa.

Em 16 de novembro não ganhou o Equador. A Consulta Popular não foi uma partida de futebol. Ganhou a indignação contra a arrogância, o neofascismo e o racismo institucionalizado.

Este é o momento de começar as transformações. O NÃO ao neoliberalismo começa agora.

Fonte: https://elirreverente.cl/ecuador-derrota-del-derechista-daniel-noboa/  

Notas:

[1] O referendo ao qual a população votou NÃO colocava 4 perguntas: – Chamar ou não uma nova assembleia constituinte. Isso anularia uma constituição democrática. A primeira no mundo a reconhecer a natureza como sujeito de direito. Que incentiva a preservação da natureza contra a devastação capitalista. Também prioriza a soberania nacional e a soberania alimentar. Proíbe os alimentos transgênicos no país, etc. – Autorização para instalação de bases militares estrangeiras no país. – Diminuição da representação parlamentar nos municípios pequenos. – Fim do subsídio aos partidos políticos.

[2] Huasipunguero. Sistema de servidão que obrigava os indígenas a trabalhar nas fazendas sem remuneração. Esses indígenas eram chamados de huasipungos.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

sob a árvore imóvel,
silêncio de pássaros dormindo;
paz na noite.

Alaor Chaves

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