
Os quase 16 anos de atividade anarquista contínua nas regiões geográficas do Irã e do Afeganistão representam um esforço persistente de reviver uma tradição reprimida de emancipação em um dos campos de poder mais violentos do Oriente Médio, uma tradição cujas raízes, no Irã, remontam a mais de um século. Nos anos turbulentos após a Revolução Constitucional, Mirzadeh Eshghi pode ser considerado uma das primeiras figuras a introduzir temas distintamente anarquistas no espaço político do Irã por meio de literatura, teatro e jornalismo. Em um espírito explicitamente antiautoritário, antimonárquico e anticentralista, ele buscava a liberdade não dentro do quadro do Estado, mas na destruição dos próprios fundamentos do despotismo, uma perspectiva pela qual ele acabou pagando com a vida.
Nas décadas seguintes, especialmente nos anos que antecederam a Revolução de 1979, tendências anarquistas, embora dispersas, existiam na forma de publicações clandestinas, traduções das obras de Bakunin, Kropotkin e Malatesta, e pequenos círculos intelectuais em diversas cidades grandes. Essa corrente foi atingida tanto pela repressão do Estado Pahlavi quanto, após a revolução, pela marginalização dentro do espaço hegemônico dominado por forças estatistas e islamistas de esquerda. Após décadas de silêncio forçado, a tradição anarquista encontrou espaço para respirar novamente no exílio e nas margens. Essa trajetória entrou em uma nova fase em 15 de agosto de 2009, com a formação da “Voz do Anarquismo” como um núcleo reconstituído fora das fronteiras do Irã.
Entre 2011 e 2014, esse esforço continuou por meio de uma reestruturação organizacional sob o nome de “Rede Anarquista”, enquanto em 2013 a plataforma de mídia “Asr-e Anarchism” começou a operar como o braço teórico e propagandístico dessa corrente.
A partir de 2015, esse processo passou a se entrelaçar com a geografia do Afeganistão, transformando-o em projeto transnacional que, em 2018, entrou em fase de convergência organizacional com o estabelecimento da “União dos Anarquistas do Afeganistão e do Irã” e, em 2020, alcançou um nível mais elevado de coesão com a formação da “Federação do Anarquismo Asr-e”. Com a intensificação da repressão, mudanças nas equações políticas regionais e o agravamento dos bloqueios estruturais, tornou-se inevitável a necessidade de uma reconfiguração política e organizacional fundamental. Consequentemente, em abril de 2025, a “Frente Anarquista” foi anunciada como uma nova forma de auto-organização revolucionária, com foco no Irã, no Afeganistão e na região do seu entorno. Por meio do estabelecimento de uma extensa rede de plataformas de mídia multilíngues, essa frente buscou levar o discurso do antiautoritarismo, do igualitarismo e da libertação social para além das fronteiras étnicas, linguísticas e nacionais.
Tudo isso se desenrola em condições em que tanto o Irã quanto o Afeganistão vivenciam alguns dos períodos mais sombrios das suas histórias contemporâneas em termos de repressão política. No Irã, a onda de prisões, sentenças severas em tribunais, controle abrangente do ciberespaço e a criminalização de qualquer forma de organização independente atingiram níveis sem precedentes. No Afeganistão, o governo Talibã, por meio da exclusão total das mulheres da vida social, da repressão da mídia, prisões, torturas e execuções, mergulhou a sociedade em estado de asfixia absoluta. Nesse contexto, a Frente Anarquista não é simplesmente uma organização política; é a continuação histórica de uma tradição emancipatória suprimida que, desde Eshghi e as publicações clandestinas pré-1979 até os dias atuais, persistiu com diversas formas de resistência contra o Estado, o capital e a dominação, uma continuidade cuja própria sobrevivência testemunha a resiliência da possibilidade de libertação sob as condições mais extremas de repressão.
Frente Anarquista
anarchistfront.noblogs.org
@AnarchyFront
Tradução > CF Puig
agência de notícias anarquistas-ana
Abro o armário e vejo
nos sapatos meus caminhos.
Qual virá no séquito?
Anibal Beça
Perfeito....
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!