A Cortina de Fumaça das ONGs: O Assistencialismo como Braço do Capital e do Estado

Camaradas, a realidade que nossa militância enfrenta no Espírito Santo é absurda: proliferam-se por nossos territórios organizações não governamentais que, longe de serem espaços de libertação, atuam como agentes de domesticação. São, em sua maioria, extensões camufladas de partidos políticos e igrejas, estruturas que não buscam a transformação radical da sociedade, mas sim a perpetuação de um sistema de dominação. É preciso denunciar com vigor: as ONGs, principalmente estas vinculadas, são parte orgânica do capitalismo e não nos salvarão de suas garras. Pelo contrário, são engrenagens que lubrificam a máquina da opressão.

Observemos as ONGs atreladas a partidos políticos. Sua existência é cíclica e eleitoreira. Surgem como braços “sociais” de legendas que almejam o controle do Estado, oferecendo migalhas assistencialistas em troca de lealdade futura nas urnas. Sua ação não fortalece a autonomia do povo, mas cria uma relação de dependência clientelista. Elas precisam do Estado, seja através de editais públicos, verbas parlamentares ou convênios, recursos esses que são usados para ampliar a base de influência do partido. São, portanto, instrumentos para acessar o poder estatal e, consequentemente, gerir os mecanismos do capital. Lutam por uma fatia do bolo, jamais pela destruição do forno que cozinha a miséria.

Da mesma forma, as ONGs vinculadas a igrejas operam uma colonização mais profunda, misturando caridade com proselitismo. Utilizam a fome e a vulnerabilidade para impor uma moral religiosa e expandir seu rebanho. Sua ajuda é condicional, um embrulho para a doutrinação, que visa pacificar os oprimidos com a promessa de recompensa celestial, anestesiando a revolta terrena necessária. Estas organizações também dependem do Capital, seja através de doações de grandes corporações que buscam lavar sua imagem, seja de recursos públicos obtidos por sua enorme influência política. São o braço “social” do capitalismo teológico, que converte a necessidade material em controle espiritual.

A conjuntura é clara: estas ONGs não existem à margem do sistema. Elas são funcionais a ele. O capitalismo, em sua fase neoliberal, terceiriza para elas o papel de amortecer os impactos mais brutais da exploração, um paliativo que evita a explosão social. O Estado, por sua vez, as financia e regula, cooptando potenciais focos de resistência e transformando demandas por direitos em projetos gerenciáveis. São uma válvula de escape, uma forma de gerenciar a pobreza sem alterar as estruturas que a produzem. Enquanto distribuem cestas básicas, silenciam sobre a propriedade privada dos meios de produção.

Nós, da Federação Anarquista Capixaba, rejeitamos esta cortina de fumaça. Nossa luta não é por mais ONGs, mas por organização popular autônoma, direta e de base. Acreditamos na ação direta, na ajuda mútua desinteressada, na construção de realidades que confrontem o poder, desde baixo, sem mediadores, sem patrões e sem sacerdotes. Construímos comedores comunitários autogeridos, hortas coletivas, grupos de defesa territorial e círculos de estudo sem vínculo com editais ou interesses eleitorais. Nossa solidariedade é de classe, não é esmola nem investimento.

Portanto, desmascaremos essas entidades que, vestidas com o manto da bondade, fortalecem as correntes que nos aprisionam. Não depositemos nossa esperança em salvadores institucionais. Nossa libertação não virá de cima, nem de projetos aprovados no gabinete de um político ou na cúria de uma igreja. Virá da nossa própria capacidade de nos organizarmos, horizontalmente, combatendo o Estado, o Capital e todas as suas faces, inclusive as mais “beneméritas”. A verdadeira transformação social nasce da autonomia, do apoio mútuo e da luta intransigente contra todas as formas de dominação. Fora do povo organizado, não há salvação!

Federação Anarquista Capixaba – FACA

fedca@riseup.net

federacaocapixaba.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Crepúsculo. O sol no horizonte
Vai descendo
Os degraus do monte.

Clínio Jorge

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