Sou a Anarquia | Émile Armand

Não preciso nem desejo a vossa disciplina. Quanto às minhas experiências, quero vivê-las por mim mesma.

É delas, e não de vós, que tirarei a minha regra de conduta. Quero viver a minha vida.

Os escravos e os lacaios inspiram-me horror.

Detesto quem domina e repudio quem se deixa dominar.

Aquele que consente em inclinar as costas sob o chicote não vale mais do que aquele que o chicoteia.

Amo o perigo e me seduz o incerto, o imprevisto. Desejo a aventura e não dou a mínima para o sucesso.

Odeio a vossa sociedade de funcionários e administrados, milionários e mendigos.

Não quero adaptar-me aos vossos costumes hipócritas nem às vossas falsas cortesias.

Quero viver os meus entusiasmos no meio do ar puro da liberdade.

Suas ruas traçadas com régua torturam meu olhar, e seus edifícios uniformes fazem ferver de impaciência o sangue de minhas veias. Ignoro para onde vou. E isso me basta.

Sigo em frente meu caminho, ao sabor de meus caprichos, transformando-me incessantemente, e não quero ser amanhã semelhante ao que sou hoje.

Vago sem rumo e não me deixo tosquiar pela tesoura de um único comentador. Sou amoral.

Sigo em frente, eternamente apaixonada e ardente, entregando-me ao primeiro homem que se aproxima de mim, ao caminhante esfarrapado, mas não ao sábio sério e presunçoso que gostaria de regulamentar o comprimento dos meus passos.

Nem ao doutrinário que gostaria de me fornecer fórmulas ou regras.

Não sou uma intelectual; sou uma mulher.

Uma mulher que vibra diante dos impulsos da natureza e das palavras amorosas.

Odeio todas as correntes e todos os obstáculos, adoro passear nua, deixando que os raios do sol voluptuoso acariciem minha pele.

E, ó ancião, pouco me importa que a sua sociedade se parta em mil pedaços, desde que eu possa viver a minha vida.

– Quem és tu, garota sugestiva como o mistério e selvagem como o instinto?

– Sou a Anarquia.

Émile Armand (1872-1962) foi um anarquista individualista francês. Fundou, junto com outros individualistas, a Ligue Antimilitariste e editou o jornal L’En-Dehors por 17 anos.

agência de notícias anarquistas-ana

Em cima da folha
Joaninha descansa
Que colorido!

Andréa Cristina Franczak

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