[Nova Zelândia] Repreensão e Resistência: O Protesto de Te Pāti Māori, o Abstencionismo e o Caminho para a Soberania Indígena

Em novembro de 2024, o Parlamento da Nova Zelândia tornou-se palco de um ato histórico de desafio quando parlamentares do Te Pāti Māori realizaram uma haka durante a primeira leitura do projeto de lei sobre os Princípios do Tratado. Esse protesto cultural, que resultou em severas suspensões, reacendeu debates sobre a legitimidade das instituições coloniais e a eficácia da participação indígena dentro delas. Esta análise examina o incidente sob duas perspectivas: a estratégia comparativa do abstencionismo (como a utilizada pelo Sinn Féin) e uma crítica anarcocomunista ao poder estatal. Ambas convergem em uma questão central: Te Pāti Māori deveria rejeitar o engajamento parlamentar para priorizar a soberania indígena e formas alternativas de governança?

O Projeto dos Princípios do Tratado: Continuidade Colonial e Resistência

O projeto de lei, apresentado pelo Partido ACT, buscava redefinir os princípios fundamentais do Tratado de Waitangi, o acordo de 1840 entre chefes Māori e a Coroa Britânica. Críticos argumentaram que o projeto desmantelava décadas de avanços nos direitos Māori, substituindo a parceria e a autodeterminação por uma visão homogeneizada de “cidadania igualitária”. A proposta gerou indignação nacional, culminando em um hīkoi (marcha de protesto) de nove dias que reuniu mais de 42 mil pessoas em Wellington, uma das maiores manifestações da história da Nova Zelândia.

Durante a primeira leitura do projeto, parlamentares do Te Pāti Māori realizaram a haka “Ka Mate”, uma dança tradicional Māori que simboliza resistência. A deputada Hana-Rawhiti Maipi-Clarke rasgou uma cópia do projeto, chamando-o de traição aos direitos indígenas. O presidente da Casa considerou o protesto “gravemente desordeiro”, suspendendo os co-líderes Rawiri Waititi e Debbie Ngarewa-Packer por 21 dias e Maipi-Clarke por sete dias, as punições mais severas já aplicadas a parlamentares em exercício.

Decoro Parlamentar vs. Tikanga Māori: Choque de Mundos

O protesto evidenciou as tensões entre as regras parlamentares e o tikanga Māori (costumes Māori). Enquanto o Parlamento impõe normas rígidas de procedimento, a expressão política Māori valoriza tradições orais, debates comunitários e atos simbólicos como a haka. Críticos condenaram as suspensões como formas de silenciamento da voz indígena, revelando desigualdades sistêmicas dentro de uma instituição colonial.

Helmut Modlik, diretor executivo da iwi Ngāti Toa, defendeu a haka como uma expressão legítima de dissidência, argumentando que o Parlamento só existe porque os chefes Māori permitiram sua criação. Da mesma forma, Waititi afirmou que haka e waiata (canções) são inseparáveis do discurso político Māori. Ainda assim, o Comitê de Privilégios classificou o protesto como “intimidador”, revelando a recusa do Estado em acomodar formas indígenas de resistência.

Abstencionismo: O Legado do Sinn Féin e a Crítica Anarcocomunista

O episódio reacende a questão da viabilidade do abstencionismo, estratégia usada historicamente pelo Sinn Féin, que recusava assentos no Parlamento britânico como forma de rejeição à autoridade inglesa sobre a Irlanda do Norte e afirmação da soberania irlandesa. Para o Te Pāti Māori, essa abordagem poderia simbolizar a rejeição de um sistema colonial que marginaliza os direitos Māori.

Sob a ótica anarcocomunista, os sistemas parlamentares são inerentemente opressores, servindo aos interesses do capital e da colonização. Pensadores como Rudolf Rocker e François Dumartheray sustentavam que instituições estatais cooptam a dissidência, sendo necessário construir estruturas alternativas baseadas em ajuda mútua e democracia direta. O protesto do Te Pāti Māori revela os limites de buscar justiça dentro de um arcabouço construído para manter hierarquias coloniais.

Críticos do abstencionismo alertam para os riscos de se abrir mão de uma influência política arduamente conquistada. Abandonar o Parlamento significaria renunciar à defesa legislativa direta, potencialmente deixando os direitos Māori ainda mais expostos a propostas como a dos Princípios do Tratado. A ausência no debate nacional também pode marginalizar perspectivas indígenas e enfraquecer alianças. Além disso, o abstencionismo pode ser mal interpretado por eleitores não-Māori, parecendo divisivo em vez de uma escolha ética e política, dificultando a construção de solidariedades interétnicas. Embora o poder simbólico da recusa seja inegável, suas consequências práticas, sobretudo num sistema em que a representação Māori é frágil, exigem reflexão cuidadosa.

Entretanto, defensores do abstencionismo argumentam que recusar o engajamento parlamentar é um ato radical e necessário de soberania. Rejeitar a participação em instituições que suprimem a expressão indígena, como a punição à haka do Te Pāti Māori, desafia a legitimidade de um sistema colonial hostil aos direitos Māori. Essa postura se alinha com a luta mais ampla pela autodeterminação Māori, evitando os compromissos impostos pela política colonial, que frequentemente dilui as demandas indígenas em reformas moderadas. Ademais, o abstencionismo pode impulsionar a mobilização de base, como ocorreu com o Sinn Féin na Irlanda do Norte, cuja recusa em legitimar o domínio britânico fortaleceu o apoio popular. A teoria anarcocomunista reforça essa via, ao propor a criação de instituições autônomas lideradas por Māori, como sistemas educacionais e de saúde geridos por iwi, fora do controle estatal. Essas estruturas de poder dual resistem à assimilação e materializam a soberania indígena na prática, enraizadas no tikanga Māori, e não em hierarquias coloniais.

Construindo Alternativas: Poder Dual e Autonomia Indígena

O pensamento anarcocomunista enfatiza o poder dual, a construção de sistemas autônomos paralelos ao Estado. Em Aotearoa, isso converge com as tradições Māori de governança por hapū (sub-tribos) e iwi (tribos), que priorizam o bem-estar coletivo em oposição ao individualismo liberal.

Fortalecendo estruturas autônomas nas áreas de educação, saúde e manejo ambiental lideradas por Māori, comunidades podem recuperar sua autonomia e resistir à assimilação. Esses esforços espelham a estratégia do Sinn Féin de construir instituições alternativas, demonstrando que a libertação não está em reformar sistemas opressores, mas em superá-los.

Conclusão

O protesto do Te Pāti Māori e a resposta punitiva que provocou expõem as bases coloniais do sistema parlamentar da Nova Zelândia. O abstencionismo surge como uma estratégia potente, não apenas como rejeição simbólica das instituições coloniais, mas como afirmação radical da soberania indígena. Embora críticos alertem para riscos como perda de influência legislativa e incompreensão pública, os limites da participação em um sistema desenhado para marginalizar vozes Māori não podem ser ignorados.

Ao se retirar do Parlamento, o Te Pāti Māori poderia redirecionar suas energias para construir estruturas de poder dual, educação, saúde e governança lideradas por Māori e baseadas no tikanga, priorizando a autonomia em vez da assimilação. Isso fortalece comunidades Māori contra a cooptação estatal, permitindo que retomem o controle de seus destinos.

Os riscos percebidos de marginalização empalidecem diante do potencial de cultivar, desde a base, uma soberania indígena real. A verdadeira libertação não reside em buscar validação de sistemas opressores, mas em criar alternativas que incorporem valores Māori. O abstencionismo, portanto, não é rendição, é um ato revolucionário de recusa, uma declaração de que os Māori não mais legitimarão a ordem colonial. Ao adotar esse caminho, o Te Pāti Māori pode inspirar um movimento transformador, demonstrando que o futuro de Aotearoa não está em reformar instituições falidas, mas em construir algo novo.

Fonte: https://awsm4u.noblogs.org/post/2025/05/17/rebuke-and-resistance-te-pati-maoris-protest-abstentionism-and-the-path-to-indigenous-sovereignty/  

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Na fria vidraça,
pinta colorida imagem —
Borboleta de inverno.

Alberto Murata

Petrobras | O combustível do genocídio!

|| Relatório recente divulgado pela ONU denuncia empresas petrolíferas, incluindo a estatal brasileira Petrobras, que exportam petróleo bruto para Israel, abastecendo refinarias do país que é responsável por um dos maiores crimes humanitários da atualidade, ao promover, sistematicamente, o genocídio contra o povo palestino, em Gaza. ||

A Petrobras foi apontada em um contundente relatório da ONU como parte de uma rede de corporações que financiam e sustentam a máquina de guerra israelense responsável pelo genocídio em curso contra o povo palestino. Assinado por Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, o documento — divulgado em 30 de junho — denuncia o papel do capital internacional na manutenção do apartheid e na execução de crimes contra a humanidade.

Intitulado “Da economia de ocupação à economia de genocídio”, o relatório expõe como corporações — incluindo estatais como a Petrobras — não apenas legitimam, mas lucram com a destruição da Palestina. Segundo a ONU, a empresa brasileira possui participação expressiva em campos petrolíferos que abastecem refinarias israelenses e fornece combustível para aeronaves militares utilizadas nos ataques a Gaza.

“O genocídio, ao que parece, é lucrativo. Isso não pode continuar. A responsabilização deve ser o resultado”, alertou Francesca Albanese nas redes sociais.

O relatório responsabiliza diretamente empresas pelos lucros obtidos com a ocupação e o genocídio. Além da Petrobras, estão citadas gigantes como Chevron, Microsoft, Google, Amazon, Booking, Hyundai e Volvo. De acordo com Albanese, essas corporações contribuem ativamente para a destruição da Palestina: da vigilância e infraestrutura militar ao fornecimento de equipamentos para a demolição de lares palestinos e expansão dos assentamentos ilegais.

“Essas entidades permitem a negação da autodeterminação palestina e sustentam uma estrutura de apartheid, ocupação, anexação e limpeza étnica”, afirma o documento, que classifica a economia israelense como genocida.

A relatora desenvolveu um banco de dados com cerca de mil empresas envolvidas em crimes internacionais nos territórios ocupados. A lista apresentada no relatório, com 48 delas, é apenas “a ponta do iceberg”, diz Albanese, que pede o fim imediato de toda relação comercial e institucional com o regime israelense.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquista

Borboletas e
aves agitam voo:
nuvem de flores.

Bashô

Protesto contra a gentrificação na Cidade do México

Na tarde de sexta-feira, 4 de julho, quase 300 pessoas foram às ruas da Cidade do México para participar da primeira Marcha Contra a Gentrificação sob o lema: “Gentrificação não é progresso, é desapropriação”. Os manifestantes denunciaram o aumento dos aluguéis e a expansão do turismo, que acabou deslocando pessoas de seus bairros. 

Durante o protesto, manifestantes se separaram e um grupo “Black Bloc” carregando bandeiras palestinas e anarquistas avançou quebrando vidraças e pichando alguns estabelecimentos comerciais, além de soltar alguns fogos de artifício.

“Embora esta tenha sido a primeira marcha desse tipo, dificilmente será a última”, disse um manifestante, completando: “A gentrificação não se limita à Cidade do México; sua disseminação se expande em outras partes do país. O problema não está apenas nas novas construções ou no turismo, mas em um modelo de cidade que prioriza o lucro em detrimento do direito à moradia”.

A manifestação refletiu a crescente revolta de muitos moradores da Cidade do México, que viram os aluguéis dispararem e bairros antigos se tornarem luxuosos empreendimentos imobiliários à medida que a cidade se consolidava como um importante destino turístico e base de operações para muitos dos chamados nômades digitais.

>> Vídeohttps://www.youtube.com/watch?v=kIq3EC5JWRQ

agência de notícias anarquistas-ana

Na noite trevosa
eis, quando menos se espera,
teu semblante, lua!

Alexei Bueno

[Reino Unido] Élisée Reclus sobre a anarquia e a natureza

Para o grande geógrafo anarquista, a anarquia está presente em toda relação natural baseada na solidariedade

~ Fabio Carnevali ~

Reclus foi o anarquista que “nunca deu ordens a ninguém, e nunca dará”, como disse seu amigo de juventude Kropotkin, assim como o geógrafo em defesa do qual importantes cientistas – incluindo Charles Darwin – se mobilizaram quando ele enfrentou a deportação para a Nova Caledônia após a Comuna de Paris.

Na obra de Reclus, anarquia e estudo da natureza estavam unidos por um vínculo estreito. Seus estudos políticos e geográficos remontam à sua juventude, e logo ele passou a relacioná-los. Após o golpe de Estado de Luís Bonaparte em 1851, Élisée e seu irmão Élie exilaram-se. Nesses anos, Élisée viveu primeiro na Irlanda, depois na Louisiana e finalmente na Colômbia. Isso permitiu-lhe reunir material para suas primeiras obras geográficas enquanto desenvolvia sua crítica à escravidão nos Estados Unidos.

Reclus não concebia a anarquia como uma utopia futura, mas como a forma de todas as relações que praticam a ajuda mútua – o “fator iluminado da evolução” –, mostrando sua afinidade com Piotr Kropotkin. Para ambos, uma compreensão adequada da natureza e da relação entre humano e não humano fomentaria a solidariedade e ajudaria a desmistificar ideologias que ocultam o verdadeiro papel da humanidade na natureza.

Num discurso proferido em uma loja maçônica de Bruxelas em 1894, Reclus definiu a ideia anarquista de liberdade como uma coexistência pacífica que não deriva da obediência à lei nem do medo de punições, mas do “respeito mútuo pelo interesse de todos e do estudo científico das leis naturais”. Para ele, a anarquia está em jogo em toda relação natural baseada na solidariedade. Promover mudança social significa criar grupos que pratiquem a solidariedade e escolham viver segundo esse princípio. Nesse sentido, “educação” significa formar pessoas e comunidades livres e dispostas a lutar por sua liberdade.

“A natureza toma consciência de si mesma”

Reclus pensava a anarquia como a forma mais natural de relação, e certamente a única que permite verdadeira liberdade. Ao retornar à França após seu exílio nas Américas, Reclus escreveu ao diretor da Revue Germanique propondo colaboração. Na carta afirmava: “filosoficamente, filio-me à escola de Spinoza”. De fato, as ideias desse pensador sobre natureza, conhecimento e liberação ecoam fortemente no pano de fundo do pensamento de Reclus.

Sua principal obra, L’Homme et la Terre, inicia-se com uma imagem da Terra sustentada por mãos humanas. Abaixo da imagem lê-se:

“A humanidade é a natureza tomando consciência de si mesma”.

Para a humanidade, compreender seu papel na natureza implicaria repensar as bases de sua ética, considerando a interconexão que a une a todo o mundo não humano.

Essa perspectiva ética levou Reclus a adotar posições antiespecistas, defendendo um vegetarianismo ético que se recusa a ver animais como meras fontes de alimento. Ele acreditava que o crescimento moral da humanidade depende da compreensão de nossa união com o conjunto da vida e do fortalecimento dessa conexão.

No 120º aniversário de morte de Élisée Reclus, abordar sua vida e pensamento nos permite refletir sobre sua contribuição e relevância tanto teórica quanto militante. Muitas de suas ideias permanecem atuais, especialmente sobre as relações entre sociedades e natureza. Quanto a conceitos ecológicos que mais tarde seriam centrais para anarquistas como Murray Bookchin e John Clark, ele foi pioneiro e fonte de inspiração.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/04/elisee-reclus-on-anarchy-and-nature/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Sob a garoa fria
Vagam pelas ruas vazias
Um velho e o cão.

Hazel de São Francisco

[Argentina] Completamos 100 edições e não adormecemos

É uma alegria manter a constância na periodicidade do boletim durante todos esses anos e compartilhar a significativa centésima edição. Orgulhamo-nos de seguir adiante com uma voz dissidente, reflexiva e revolucionária; continuar graças ao esforço de todas as pessoas que consideram necessário que este boletim exista.
 
Desde o início de 2012, nos propusemos a compreender o mundo que habitamos, agitar, apontar as causas profundas dos mal-estares sociais, participar das lutas em curso, solidarizar-nos e dar visibilidade. Permitimo-nos duvidar, discordar, afirmar, negar e comunicar isso. Continuamos sustentando que outro mundo é possível, que outras formas de luta são possíveis. Que há vida além do Capital e do Estado, da propriedade privada e do dinheiro.
 
Mantemos a perspectiva histórica do movimento pela superação das condições existentes, ao mesmo tempo que tentamos contribuir para sua atualização, para caminhar no ritmo do nosso tempo.
 
A Ovelha Negra não se vende
 
Nas culturas ocidentais, o branco geralmente foi associado à pureza, à inocência e ao correto, enquanto o preto representou o desviante ou o negativo. Assim, quem não seguia as normas, desviava-se do socialmente aceito ou causava problemas podia ser considerado uma “ovelha negra”. É provável que isso derive da presença incomum e indesejada nos rebanhos de ovelhas cuja lã preta não era bem cotada no mercado. Segundo diversas fontes, pode-se ler que a lã preta não podia ser tingida; outras dizem que não podia ser vendida porque a Igreja costumava reclamá-la dos fazendeiros como imposto, supostamente para confeccionar sotainas. Seja como for, A Ovelha Negra não se vende. Em sua dupla acepção, nosso boletim é incorruptível e de distribuição gratuita. Apesar da sociedade mercantil generalizada em que se escreve, A Ovelha Negra não é uma mercadoria.
 
Esta folha impressa em ambas as faces tem a qualidade de circular facilmente de mão em mão, por diferentes cidades. Apostamos em continuar publicando este boletim em papel, ao mesmo tempo que o compartilhamos por meios digitais. A Ovelha Negra é gratuita, mas isso não significa que não custe dinheiro fazê-la. Em tempos em que quase tudo se faz por dinheiro e há uma tendência a considerar toda atividade humana como trabalho, escolhemos ir contra a corrente. Fazemos um esforço para cobrir os gastos de impressão, roubando tempo do trabalho ou do lazer para pensar, conversar, escrever, desenhar, diagramar, distribuir e difundir estas reflexões.
 
Outras pessoas que não participam do grupo editor, mas consideram importante a existência deste boletim, colaboram como e quando podem, seja financeiramente ou divulgando nos lugares que frequentam, para amigos e conhecidos; assim como outras imprimem por seus próprios meios, inclusive em outras cidades e países. Da mesma forma, companheiros desconhecidos de outras regiões do planeta traduzem artigos d’A Ovelha Negra para o grego, italiano, francês, inglês ou alemão, colocando-os a circular pelas ruas ou pela web.
 
Sair do rebanho?
 
Uma rápida busca na web diz que na Inglaterra, durante os séculos XVIII e XIX, a cor preta das ovelhas era vista como uma marca do diabo. O primeiro registro conhecido de “ovelha negra” em sentido depreciativo provém dos escritos de um puritano chamado Thomas Shepard que, em seu texto evangélico The Sincere Convert (1640), escreve: “Expulsai todos os ímpios que há entre nós, como bêbados, blasfemos, prostitutas, mentirosos, aqueles que as Escrituras classificam como ovelhas negras e condenam em cem lugares.”
 
Atualmente, a expressão é usada para se referir a membros de um grupo humano que possuem características diferentes de seus semelhantes. Da diversidade progressista à rebeldia neodireitista, aquilo que sai de certos cânones pode ser catalogado dessa forma e até mesmo assumido como identidade… uma questão de escolha. O Estado democrático se apresenta como o Bom Pastor: todas as ovelhas desgarradas devem ser integradas.
 
Ovelha branca, ovelha preta, rebanho no fim das contas. Há quem suponha “sair do rebanho”, pensar-se fora, perceber-se completamente diferente; outros assumimos a condição de rebanho imposta e agimos a partir desse lugar, dessa experiência.
 
Existe uma tentação e certo orgulho no lugar da excepcionalidade, que costuma levar a uma posição de exterioridade. Se pensamos diferente e buscamos algo diferente, é necessário perguntarmo-nos por que fazemos isso, e sobre as possibilidades de que essa vontade de mudança se generalize nas condições atuais. Trata-se de compreender as determinações materiais sobre as consciências. Não podemos escapar da sociedade capitalista, mas podemos superá-la.
 
Continuamos
 
Desejamos de todo o coração seguir contribuindo nessa mesma direção. Queremos colaborar com a luta contra o Capital e seu Estado, tanto para companheiros próximos quanto distantes, conhecidos e desconhecidos, venham de tal ou qual movimento. Para ser e fazer a revolução. Que sentido pode ter refletir sobre este mundo se não for para transformá-lo?
 
Fonte: https://boletinlaovejanegra.blogspot.com/2025/07/contamos-100-numeros-y-no-nos-dormimos.html 
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Garoinha fina —
Alguns abrem, outros fecham
guarda-chuvas pretos
 
Tania D’Orfani

Novidade editorial: “Escritos Afugentáveis I – O educador mercenário: Para uma crítica radical das escolas da democracia”

Educação Libertária é possível? O que é “Educação” para que seja possível adjetivá-la? Uma educação pode ser denominada educação se não for libertária? Uma educação libertária requer professores libertários? Quem seriam? Prescinde de professor? Por que a Educação Libertária é aceita nos espaços institucionais se ela se pretende anti-sistema?

Escritos Afugentáveis I – O educador mercenário: Para uma crítica radical das escolas da democracia

Pedro Garcia Olivo, tradução de Paulo Marques.

128 páginas

R$ 43,30

monstrodosmares.com.br

agência de notícias anarquistas-ana

Dentro da lagoa
uma diz “chove”, outra diz “não”:
conversa de rã.

Eunice Arruda

[Suíça] Manifestação em apoio à Maja

Nós nos reunimos em frente à embaixada alemã em Berna. Gritamos em alto e bom som que Maja deve ser repatriada para a Alemanha imediatamente e que todos os prisioneiros políticos e antifascistas devem ser libertados. Depois de protestar em alto e bom som contra a inação do governo alemão, penduramos nossa faixa em frente à embaixada da Hungria.
 
Maja é uma antifascista não binária que está detida ilegalmente na Hungria há mais de um ano. Maja está em greve de fome há quase 30 dias para protestar contra as terríveis condições de sua detenção. Nesse meio tempo, Maja foi hospitalizada e seu estado de saúde é crítico. A família, os companheiros e os amigos de Maja estão pedindo que Maja seja repatriada para a Alemanha! Nós nos reunimos hoje (07/07) em frente à embaixada alemã para chamar a atenção para a situação de Maja.
 
Maja está sendo mantida em confinamento solitário em condições terríveis na Hungria, um país que é hostil às pessoas queer. Como pessoa não binária, Maja não pode esperar um julgamento justo na Hungria, e é inaceitável que Maja permaneça na prisão. Pedimos seu retorno e enviamos a ela todo o nosso apoio e força!
 
Fonte: https://renverse.co/infos-locales/article/rassemblement-en-soutien-a-maja-7583
 
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Vagarosamente
caminha sobre o papel —
Mosca de inverno.
 
Teruko Oda

Os interesses espúrios do Congresso e de Lula

Nas últimas semanas, as polêmicas envolvendo o aumento de energia elétrica, a derrubada dos decretos do IOF e o aumento do número de cadeiras para deputados no Congresso têm levantado o debate em torno do orçamento público no Brasil.

O Governo Lula e seus satélites (CUT, MST, MTST, PSOL e outros) procuram alavancar a narrativa de que a culpa pelos cortes e medidas anti-povo é resultado da composição do Congresso, mas escondem medidas que pavimentam o caminho do ultraliberalismo brasileiro.

As meia-verdades contadas pelo Governo

De início, cabe salientar que a campanha “Congresso inimigo do povo” não parte de uma mentira. O Congresso Nacional é, em sua maioria, (e sempre foi) inimigo do povo, composto majoritariamente por empresários, rentistas, agronegócio e aliados.

A desfaçatez do Congresso, que segue aprovando projetos que elevam os gastos enquanto cobra do governo cortes nas áreas sociais, faz parte de uma prática de fisiologismo que sempre existiu.

Atualmente, essa prática atende a uma ofensiva liberal que visa desgastar o governo Lula em prol de um futuro governo de ultradireita, com benefícios ainda maiores para o rentismo e o agronegócio, e redução mais drástica dos gastos nas áreas sociais.

O Governo precisa de base eleitoral para negociar os direitos do povo

A demanda por maiores cortes em áreas sociais se dá em um contexto em que diversas pesquisas de opinião apontam para redução da popularidade do Governo Lula.

Sabendo que mais cortes em áreas sociais tendem a aumentar a insatisfação da população e colocam em cheque os objetivos eleitorais do PT para 2026, o partido passou a impulsionar campanhas por “justiça tributária” através de mobilizações para “taxação de super-ricos”, fim da escala 6×1, redução da jornada de trabalho e isenção do imposto de renda para trabalhadores que ganham abaixo de 5 mil por mês.

A iniciativa estimulou as bases sociais do Governo e levou a campanhas nas redes sociais, a construção de um plebiscito popular e até alguns atos aparentemente mais radicais, como o protesto da Frente Povo Sem Medo no prédio da Itaú.

Apesar da justeza das pautas e do uso de táticas mais avançadas pela socialdemocracia, não temos ilusões: as ações dos movimentos sociais nesse contexto são utilizadas pelo Governo como ferramenta social para construção de um novo pacto conciliatório rebaixado.

Afinal, as regras do ajuste fiscal que limitam os gastos para educação e saúde foram propostas pelo próprio Governo Lula-Alckmin (PT-PSB) sobre a gerência de Haddad. À época da aprovação do marco fiscal, as ações e protestos contra as medidas eram vistas como “exagero” e a proposta era defendida pelos tecnocratas do PT como “necessária”. 

Na última sexta-feira, dia 04, o próprio Lula em evento da Petrobrás elogiou e agradeceu ao Congresso, pregando conciliação e se colocando como o primeiro presidente que será eleito pela 4ª vez.

É preciso construir o caminho da luta com autonomia de classe

A disputa do fundo público deve ser compreendida como uma expressão da luta de classes, na qual diferentes frações da burguesia e da classe trabalhadora buscam apropriar-se de parcelas do orçamento estatal para atender aos seus interesses econômicos e políticos. O Estado, longe de ser neutro, atua como um instrumento de mediação e reprodução das relações capitalistas, sendo pressionado por diversas forças sociais. Assim, o fundo público torna-se arena de conflitos, em que os capitalistas buscam garantir subsídios, isenções fiscais e investimentos que favoreçam a acumulação de capital, enquanto os trabalhadores e movimentos sociais lutam por políticas públicas, como saúde, educação e assistência social, que atendam às necessidades da maioria. Essa disputa revela a função estrutural do Estado na manutenção da ordem capitalista, ao mesmo tempo em que abre espaço para contradições e possibilidades de avanço das lutas populares.

Assim, é preciso lutar pela taxação dos super ricos (o que vai muito além de mudar a alíquota do IOF); pelo direcionamento de verbas para políticas públicas sociais; pelo direito à terra e contra medidas de austeridade, sejam elas implementadas por um Governo dito de esquerda ou pelo Congresso.

Para que as lutas não sejam traídas e se transformem em conquistas reais, é necessário avançar na construção de organizações de base autônomas, desvinculadas de partidos políticos eleitorais, que não subjuguem as lutas reais a interesses particulares.

A FOB possui como princípio a defesa da democracia de base em suas organizações. Entendemos que a luta deve ser construída debaixo para cima, com autonomia de classe e ação direta.

Conheça a FOB e construa a luta pelos direitos do povo!

Pelo fim da escala 6×1, pela revogação das reformas da previdência e trabalhista e pela taxação das grandes fortunas!

Por uma sociedade fraterna com terra, trabalho e liberdade para todos!

lutafob.org

agência de notícias anarquistas-ana

Pasto ressecado —
Faminto, desengonçado
pousa o urubu.

Kazue Yamada

Em defesa da Mãe Natureza e dos animais! Foda-se Lula e o mundo do petróleo!!! 

Chamado a ações de solidariedade nos dias 9 a 11 de agosto, aniversário da revolta bielorrussa de 2020

O quinto aniversário da revolta contra a ditadura de Lukashenko está se aproximando. A repressão em larga escala suprimiu temporariamente a resistência massiva ao regime, e uma série de eventos trágicos no cenário mundial ofuscou a agenda bielorrussa. Com que emoções marcamos esse aniversário? Alguns com nostalgia, outros com esperança, outros apenas com cansaço e decepção. Para muitos, o entusiasmo e a unidade daqueles dias foram substituídos por apatia e desunião.
 
No entanto, os eventos de 2020 não são apenas história. São uma experiência de luta conjunta, de conquistas e de erros. Essa experiência passou a fazer parte da formação da vida política do país e já inspira novas gerações tanto em Belarus quanto fora dela. Por meio da revolta de 2020 e da organização política que se seguiu, encontramos uns aos outros e nosso lugar em uma sociedade que o regime e o “mundo russo” apresentavam como um rebanho obediente.
 
Naquele verão ardente, sentimos o poder da ação coletiva e vimos a força de uma insurreição popular auto-organizada. Isso foi possível porque cada um de nós decidiu participar. Se arriscar, acreditar, não ficar de braços cruzados.
 
É por isso que convocamos nossos camaradas em diferentes cidades a se juntarem às ações da diáspora ou a organizarem seus próprios eventos. Vamos lembrar a todos ao nosso redor que não existem apenas o estado e sua repressão, mas também o desejo inquebrantável dos povos por justiça, liberdade e igualdade.
 
Até que todos sejam livres!
 
Pramen
https://pramen.io
 
Tradução > Contrafatual
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/03/24/noticias-sobre-presos-politicos-anarquistas-na-bielorrussia-fevereiro-de-2023/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
dissolve-se a tarde
no alarido das araras
e em flocos de chumbo
 
Zemaria Pinto

[Argentina] Comunicado pelos 90 anos da Biblioteca Popular José Ingenieros

Ao completar 90 anos de fundação, celebramos a existência combativa da Biblioteca Popular José Ingenieros. Não é um mero aniversário: é a reafirmação de um projeto revolucionário que se ergue, desde suas origens, como trincheira de resistência e organização popular.
 
Esta biblioteca, nascida do impulso generoso de trabalhadoras e trabalhadores calçadistas, sempre soube ser muito mais que estantes e livros. Foi um espaço de encontro, formação, crítica e construção coletiva. Aqui se semeiam ideias que não admitem domesticação, que rejeitam a ordem injusta, que se rebelam contra o esquecimento imposto pelos de cima.
 
Em tempos em que o sistema capitalista aprofunda sua matriz de dominação, precariedade e alienação, espaços populares de cultura crítica como esta biblioteca são imprescindíveis. São fogões onde se cozinha a dignidade rebelde, onde se escuta a memória das lutas e se projeta o horizonte de uma sociedade sem opressores nem oprimidos.
 
Por isso, este aniversário não é um ato de nostalgia. É um convite urgente a multiplicar as forças militantes, a organizar por baixo, a construir autogestão em cada canto do bairro, da oficina, da escola, do campo. É ocasião para perguntarmos: Que mundo queremos? Que papel estamos dispostos a desempenhar em sua construção?
 
Reivindicamos o legado de quem soube colocar o pensamento e a ação a serviço da emancipação. Não como estátuas imóveis, mas como referências vivas, cuja coerência ética e política deve encarnar em nossa prática cotidiana.
 
Deste presente carregado de desafios, saudamos a Biblioteca Popular José Ingenieros e todas e todos que a sustentaram com militância e convicção. Aos 90 anos de seu nascimento, celebramos sua história, mas sobretudo celebramos seu porvir.
 
Viva a Biblioteca Popular José Ingenieros!
Viva a luta do povo por sua emancipação!
 
Organizar, lutar, criar!
Viva a Anarquia!
 
Tradução > Liberto
 
Conteúdo relacionado:
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2016/12/13/argentina-a-biblioteca-popular-jose-ingenieros-necessita-tua-solidariedade/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Entre pernas guardas:
casa de água
e uma rajada de pássaros.
 
Olga Savary

[Reino Unido] Armas nucleares em solo britânico

Entre o militarismo escancarado do Partido Trabalhista e um movimento pacifista domesticado, cabe aos anarquistas intensificar a resistência às armas de destruição em massa

~ Ned Skinn’ ~

O patriotismo de bandeirinhas e desfiles para comemorar o 80º aniversário do Dia D tem, por ora, desviado nossa atenção de outro aniversário que se aproxima: o dos bombardeios atômicos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. As imagens de destruição e sofrimento humano que se seguiram mostraram uma realidade horrível, refletida em filmes do tipo “como seria”, como Threads. A humanidade prendeu a respiração e decidiu que ninguém queria que aquilo se repetisse. Foi o medo da “destruição mútua assegurada” que, argumenta-se, manteve uma paz nuclear desde então.

Mas agora, pela primeira vez em quase 20 anos, acaba de ser anunciado que armas nucleares norte-americanas voltarão a ser instaladas em solo britânico. O primeiro-ministro britânico nos diz que devemos nos preparar para a guerra. Fala-se em conscrição e em uma espécie de milícia voluntária ao estilo da “Dad’s Army” (série de TV sobre civis armados na Segunda Guerra). A imprensa de direita tenta nos vender a mentira de que poderíamos sobreviver a um confronto nuclear. Empresas estão sendo orientadas sobre como se manter operacionais durante a guerra. Até “inimigos internos”, como o grupo Palestine Action, estão sendo alvos, com o aumento dos poderes policiais para reprimir possíveis agitações civis.

Diante de tudo isso, o movimento anarquista neste país tem uma longa história de envolvimento com o antimilitarismo e com a resistência às armas nucleares. Boa parte dela, talvez, esquecida. Pode ser útil relembrar esse passado.

Logo após o início dos testes nucleares britânicos, em 1952, surgiu a primeira geração de manifestantes antinucleares, com a formação da Campanha pelo Desarmamento Nuclear (Campaign for Nuclear Disarmament – CND) e o mais radical Comitê dos 100 (Committee of 100). Esses movimentos tinham amplo apoio popular, e não demorou para que o Partido Trabalhista percebesse o potencial eleitoral dessa base. A preocupação pública, especialmente após a crise dos mísseis de Cuba em 1962, fez com que muitos acreditassem na promessa trabalhista: “Vote em nós e baniremos a bomba!”.

Como antimilitaristas, os anarquistas já participavam de lutas contra a guerra anteriormente e alertavam que o Partido Trabalhista não era confiável. E, de fato, em 1964, o Partido Trabalhista voltou ao poder com a bandeira “banir a bomba”, e não perdeu tempo em seguir desenvolvendo o arsenal nuclear britânico. Essas mentiras e traições deveriam ter sido lições a serem lembradas para sempre.

Infelizmente, como muitos movimentos com origens radicais, a CND e outras organizações pacifistas passaram a ser lideradas por liberais de classe média, pacifistas cristãos e socialistas estatais “entristas”. Desde então, gerações de pessoas desejando “fazer algo” foram atraídas para o mesmo beco sem saída: escrever cartas a políticos, participar de marchas e serem incentivadas a “votar no Partido Trabalhista, sem ilusões”, repetidas vezes. Essa postura se manteve durante a intensificação da Guerra Fria nos anos 1980. Apesar das manifestações em massa e do acampamento em Greenham Common, a liderança do movimento pacifista continuou canalizando tudo para protestos inofensivos e para a política eleitoral.

Os anos 1980 também viram o ressurgimento do movimento anarquista. O interesse pelo que mais tarde se tornaria a Class War Federation começou após sua presença nas manifestações da CND. A cena anarcopunk e a atuação de anarquistas nos movimentos pelos direitos dos animais e pelo meio ambiente impulsionaram o interesse em nossas ideias. A ação direta, em todas as suas formas, tornou-se popular. Os ataques dos Tories à classe trabalhadora provocaram greves importantes, como as de mineiros, gráficos e paramédicos, incentivando uma política anarquista de luta de classes e levando à criação de organizações especificamente proletárias, como a Anarchist Communist Federation.

E agora? Só nos resta esperar para ver que efeito os acontecimentos recentes terão sobre a população em geral, especialmente a classe trabalhadora. Acredito que talvez as coisas precisem piorar antes de melhorar. Com o crescente autoritarismo e militarismo da sociedade, e com os esforços intensificados para reprimir a dissidência, o governo trabalhista está mostrando sua verdadeira face. Até onde a população suportará antes de despertar e agir?

Devemos manter nosso posicionamento antimilitarista e apontar o fato evidente: o Partido Trabalhista não é a solução, mas parte do problema. Isso colocará a esquerda em um dilema, então, mesmo sendo poucos, devemos agir e falar com integridade. Precisamos nos cuidar, mas também nos levantar, gritar e nos organizar. É o anarquismo que pode fornecer a faísca que acenderá a chama da mudança. Só precisamos riscar o fósforo.

Imagem do topo: Bloqueio antinuclear em Faslane, 15 de abril de 2013. Ric Lander no Flickr – CC BY-NC-SA 2.0

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/06/28/nuclear-weapons-on-british-soil/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

é quase noitinha
o céu entorna no poente
um copo de vinho

Humberto del Maestro

[Europa] Ações de solidariedade com Maja T, antifascista em greve de fome

Pai de ativista caminha até Berlim com 100.000 assinaturas para “exigir justiça por sua criança” presa em Budapeste
 
~ Alisa-Ece Tohumcu ~
 
Nos últimos dias, ações de solidariedade vêm sendo realizadas em apoio a Maja T, ativista antifascista não-binárie e uma das pessoas acusadas no caso de Budapeste. Maja, em greve de fome desde 5 de junho, foi transferide na terça-feira para um hospital prisional próximo à fronteira com a Romênia, em estado crítico. Segundo familiares, elu perdeu cerca de doze quilos.
 
Sua extradição da Alemanha para a Hungria, em 2024, foi considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional Federal em abril. Ainda assim, Maja permanece em prisão preventiva sob o que apoiadores denunciam como “tortura branca”: isolamento total, vigilância 24 horas, negação da terapia hormonal e comunicação extremamente limitada.
 
Houve manifestações em Berlim, Dresden, Viena, Düsseldorf, Jena e outras cidades. No dia 25 de junho, integrantes da rede de apoio Free Maja interromperam uma sessão do Parlamento Estadual da Saxônia, exigindo que o Ministro-Presidente Michael Kretschmer (CDU) acatasse a decisão judicial. Kretschmer desdenhou do protesto, afirmando que suas políticas são “para a classe média”.
 
Nos dias 1º e 2 de julho, manifestações barulhentas ocorreram diariamente diante da Chancelaria Estadual da Saxônia. “Continuaremos até que Maja esteja de volta conosco”, declarou o Comitê de Solidariedade Antifascista de Dresden. Ativistas responsabilizam o governo de Kretschmer por viabilizar a extradição e manter laços com o partido governista Fidesz da Hungria.
 
Maja é une dentre vários antifascistas acusades de envolvimento num ataque ao evento “Dia da Honra” de fevereiro de 2023 em Budapeste, uma reunião anual de grupos neonazistas. Elu foi prese em Berlim em dezembro de 2023 e extradade em julho seguinte, antes do término de sua apelação judicial, o que, segundo críticas, viola tanto os padrões constitucionais alemães quanto a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
 
Wolfram Jarosch, pai de Maja, iniciou uma caminhada de mais de 300 quilômetros, de Jena até Berlim. Ele leva consigo uma petição com 100.000 assinaturas exigindo a intervenção do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha. “Cada dia na prisão representa um risco para a vida da minha criança”, afirmou. “A inação política coloca Maja em perigo direto.”
 
Em Schwelm, ativistas danificaram uma agência do Deutsche Bank no dia 22 de junho, citando o envolvimento da instituição no financiamento da indústria bélica global. Em 2 de julho, militantes picharam a sede do partido CDU em Hamburgo, responsabilizando-o pela detenção de Maja. “Não descansaremos até que Maja esteja de volta conosco”, escreveram.
 
As próprias palavras de Maja, divulgadas em uma carta contrabandeada, têm sido amplamente citadas: “A solidariedade me dá forças para continuar lutando, não apenas por melhores condições nas prisões da Hungria, mas pela liberdade de todos os presos políticos”. Estão previstas novas manifestações e encontros de organização, incluindo um evento público em Dresden no dia 7 de julho.
 
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/03/solidarity-actions-with-hunger-striking-antifascist-maja-t/  
 
Tradução > Contrafatual
 
Conteúdos relacionados:
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/03/hungria-a-antifascista-maja-esta-hospitalizada-esta-em-greve-de-fome-ha-um-mes-contra-sua-prisao/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/06/09/hungria-maja-esta-em-greve-de-fome/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
O espelho d’água
Reflete em múltiplos tons
O voo da libélula.
 
João de Deus Souto Filho

[Argentina] Já saiu a Ovelha Negra Nº 100!

Nesta edição de julho de 2025:
 
• Natalidade e Capital na Argentina. Ontem diziam que os pobres “têm filhos para receber auxílios sociais”; hoje dizem que “a Argentina ficará despovoada”. Como a questão populacional é fundamental para compreender esta sociedade e suas transformações, abordamos o tema.
 
• Completamos 100 edições e não adormecemos. É uma alegria manter a constância na periodicidade do boletim durante todos esses anos e compartilhar a significativa centésima edição.
 
• Novo número dos Cadernos de Negação: Notas sobre aborto, gênero e população.
 
• Vozes do Irã. Na Temperamento Rádio, amplificamos testemunhos e panfletos dessa região sitiada por dois Estados.
 
Site do boletim para ler esta e edições anteriores:
 
https://boletinlaovejanegra.blogspot.com/
 
Para quem quiser colaborar e apoiar financeiramente este boletim de distribuição gratuita podem o fazer por aqui:
 
https://biblioteca-ghiraldo.com.ar/aportes#region
 
Tradução > Liberto
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Um vulto se afasta
mergulhado bruma adentro.
Fria despedida
 
Alberto Murata

[Itália] Obrigadx a todxs! 80 anos de anarquia!

Segue o discurso feito no palco antes do show (pra quem não estava) e algumas fotos.

Olá a todxs e obrigadx por estarem conosco esta noite.

Antes de começar, queríamos agradecer às Officine Sociali por receberem este evento, ao Muro del Canto, ao Mister X e à Miss Deesaster pelo DJ set, à Roberta pelo som, e a todxs que de alguma forma nos apoiaram.

Como sabem, hoje celebramos 80 anos desde a fundação do nosso grupo em 1945. Naquele ano, companheiros e companheiras que viveram décadas de ditadura fascista – mantendo a luta de formas diversas, muitas vezes pagando um preço alto – reuniram-se para retomar os fios da militância.

Uma longa história, a do grupo, que vocês podem conferir na última edição do [jornal] Germinal.

Décadas depois, seguimos aqui teimosamente defendendo as ideias de liberdade, igualdade e solidariedade.

Nosso Grupo é parte inseparável da história desta cidade. Resistiu ao tempo, renovou-se geração após geração – sem santos no céu nem apoios de cima – graças à participação direta (seja constante ou pontual) de tantxs que ao longo dos anos se identificaram com o discurso anarquista.

Mas o que é o anarquismo para nós?

Para nós, anarquismo é sinônimo de organização: assembleias horizontais, de baixo para cima, sem hierarquias.

É autogestão, é autofinanciamento – assim como o evento de que vocês participam hoje. Por isso, convidamos todxs a serem generosxs!

Anarquismo é ação direta, é ação coletiva, contra toda forma de delegação ou atalhos ilusórios institucionais.

Nesses 80 anos, fizemos uma porção de coisas e, com certeza, também cometemos erros. Promovemos e participamos de incontáveis lutas. Em muitos casos, perdemos; vez ou outra, conquistamos algumas vitórias.

Mas qual é, hoje, o sentido do anarquismo? Da luta por um mundo diferente?

O sistema social, econômico e político em que vivemos mostra, dia após dia, sinais de uma crise irreversível que já ameaça a própria vida no planeta.

As guerras são uma realidade brutal no nosso presente.

Nossas cidades estão cada vez mais militarizadas, controladas, moldadas apenas para servir ao turismo de massa.

A repressão social e política cresce exponencialmente.

Fronteiras e muros se erguem cada vez mais, seguindo ceifando vidas – da rota balcânica àquele cemitério a céu aberto chamado Mediterrâneo.

Mesmo que o mundo pareça ir na direção oposta, e que nenhuma alternativa radical pareça possível no horizonte, seguimos teimosamente acreditando que uma sociedade de pessoas livres e iguais, solidárias e autônomas, sem Estados e sem fronteiras, não só é possível, como é a única utopia pela qual vale a pena lutar.

Nesse sentido, nosso pensamento vai para todas as lutas ao redor do mundo que buscam mostrar que é possível viver de outro jeito: do Rojava ao Chiapas, das ZADs (Zonas a Defender) aos momentos mais intensos da luta no Vale de Susa (Valsusa) contra o TAV (Trem de Alta Velocidade), e tantas outras.

Sabemos que nossa proposta política não é simples e que o trabalho pela frente é imenso.

Mas também sabemos que algumas coisas já podem ser feitas agora: criar espaços de autogestão e socialidade não mercantilizada nos bairros, promover redes de solidariedade e apoio mútuo, expor as atrocidades das instituições, combater passo a passo os mil projetos nefastos de devastação do território, do meio ambiente e dos serviços públicos.

Não nos deixemos vencer pela resignação e pela passividade! Vamos colocar em ação nossas inteligências e nossas paixões. Nós faremos nossa parte.

Queremos terminar com uma saudação e uma dedicatória.

Queremos saudar o companheiro “Stecco”, preso na cadeia de Sanremo e condenado a longos anos de detenção por sua militância anarquista. Com o Luca, percorremos um trecho do caminho juntos, e nunca faltaram solidariedade e apoio. Convidamos vocês a escreverem para ele: peçam o endereço em nossa bancada.

Por fim, queremos dedicar esta noite a Alessandro Morena, companheiro da região de Isonzo, falecido há algumas semanas. Recordamos todas as companheiras e companheiros que vieram antes de nós e que já não estão aqui. Se estamos aqui, se vocês estão aqui, devemos isso a eles também.

Por eles também, continuaremos a fazer o possível e a espalhar a plenos pulmões as sementes da anarquia!

Grupo Anárquico Germinal

Fonte: https://germinalts.noblogs.org/post/2025/06/30/grazie-a-tutt-80-anni-di-anarchia/2/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Subo a ladeira.
A pata-de-vaca florindo
timidamente.

Yara Shimada

[Galícia] IV Feira do Livro Anarquista da Corunha

Nos dias 12 e 13 de julho, acontecerá a Feira do Livro Anarquista da Corunha, com a participação de mais de vinte editoras galegas, portuguesas e espanholas, tendo como tema central o anarcofeminismo.

Este ano, a Feira do Livro Anarquista da Corunha (FLAC) celebra sua quarta edição. As três anteriores, realizadas entre 2021 e 2023, estabeleceram as bases do que é hoje a feira: um espaço de encontro, debate e visibilidade do pensamento anarquista a partir de uma perspectiva plural. Na primeira edição, a FLAC focou na relação entre o anarquismo galego e o português. Na segunda, o tema central foi o ecologismo social, com mesas-redondas sobre crise climática, extrativismo e alternativas comunitárias. A terceira edição foi dedicada ao anarquismo e à organização, abordando debates sobre modelos organizativos e estratégias do anarquismo no século XXI.

Diferentemente dos encontros anteriores, realizados em setembro, este ano a feira acontecerá em julho, servindo como encerramento do Seminário de Estudos Libertários Galegos (SELG) e conectando-se com a celebração do Dia das Papoulas Libertárias. O tema desta edição é o anarcofeminismo, abordado por meio de uma rota, uma exposição, uma oficina de fanzines, uma peça de teatro e, claro, diversas apresentações de livros, conferências e mesas-redondas.

O evento ocorrerá no bairro do Orzán, em A Corunha, um local central para a memória da cultura libertária galega, pois foi sede das principais editoras e jornais anarquistas galegos desde o final do século XIX. Os stands de venda de livros ficarão na praça de San Andrés, e as apresentações acontecerão no Circo de Artesáns, instituição centenária que abrigou as primeiras sociedades operárias da cidade. Como nas edições anteriores, a FLAC se estenderá pelos bares e cafés do bairro, que receberão algumas apresentações e peças de uma exposição descentralizada sobre mulheres anarquistas na história, organizada pelo Ateneu Libertário A Engranaxe, de Lugo.

Os stands de venda e as apresentações de livros ocorrerão durante todo o sábado, 12 de julho, e na manhã de domingo, 13 de julho. Os títulos apresentados abrangerão desde histórias de militância anarcofeminista até ensaios de teoria política. Destaque para a publicação do anuário do SELG, que reúne as palestras do curso atual, abordando o anarcofeminismo de forma ampla e profunda. O anuário começa com uma introdução aos fundamentos teóricos e à evolução histórica do movimento, desde suas origens nos movimentos operários até as lutas contemporâneas contra o patriarcado, o Estado e o capitalismo. Em seguida, recupera a memória das mulheres anarquistas galegas, destacando seu papel no movimento operário e na resistência antifranquista, além das dificuldades em documentar suas histórias devido à escassez de fontes. A publicação também explora dissidências silenciadas, dando voz a experiências de mulheres migrantes, trabalhadoras sexuais e ativistas, e promovendo reflexões coletivas sobre suas trajetórias. Por fim, o anuário aborda os desafios atuais do ativismo libertário, especialmente em relação aos cuidados, à diversidade, ao antipunitivismo e à gestão de conflitos, defendendo a construção de espaços mais abertos, seguros e transformadores.

Além do ensaio histórico e político, haverá espaço para a apresentação de quadrinhos e antologias de poetas libertárias. Junto às apresentações, ocorrerão mesas-redondas e conversas sobre temas como as estratégias de resistência das mulheres rurais galegas durante o franquismo. Também haverá formatos interativos, como uma oficina de fanzines feministas, organizada pelo coletivo Autobán, que realiza anualmente um festival de autoedição.

Como novidade, no domingo ao meio-dia, haverá uma sessão musical aberta, destacando o papel das mulheres na tradição musical popular da Galiza. Esta foliada libertária contará com cantoras e percussionistas que resgatam a memória oral da dissidência e da rebeldia por meio do canto coletivo.

As celebrações começarão dois dias antes da feira, em 10 de julho, com o Dia das Papoulas Libertárias. Organizado pelo coletivo Refuxios da Memoria, esta data homenageia as mulheres anarquistas do bairro de Atochas, que teceram uma rede de resistência contra o nacional-catolicismo nos primeiros anos do franquismo. Essas mulheres foram protagonistas da resistência antifranquista em A Corunha, arriscando suas vidas e usando suas casas como refúgios para militantes perseguidos. Em 10 de julho de 1937, muitas delas foram assassinadas após a infiltração de um espião da Guarda Civil. Desde 2017, o coletivo Refuxios da Memoria celebra sua memória com palestras, rotas e festas no bairro.

Este ano, o Dia das Papoulas incluirá uma rota pelos locais que foram refúgios dessas mulheres, além de espaços de socialização libertária e patrimônio operário ainda existentes no bairro, contrastando com a atual especulação imobiliária. Na sexta-feira, 11 de julho, como ponte entre os eventos, será encenada no Circo de Artesáns a peça Casas-Refúgio: Uma história das mulheres libertárias, de Helena Salgueiro, seguida de uma festa de inauguração da exposição sobre mulheres anarquistas na história.

As inscrições para editoras e autoras que desejem participar com stands ou apresentações estão abertas até 15 de junho. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail flac@refuxiosdamemoria.org. A feira busca ser um espaço de encontro, aprendizado mútuo e celebração da criatividade e da resistência.

Assim, por meio de livros, palavras, cantos e imagens, a IV Feira do Livro Anarquista de A Corunha aspira não apenas a difundir o pensamento libertário, mas também a construir, junto àqueles que lutaram no passado, novos espaços de liberdade e organização.

Instagram: @refuxios_da_memoria

Twitter: @refuxios

Fonte: https://www.todoporhacer.org/feira-libro-anarquista-corunha/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Imersa em neblina
a cidade se reveste
de um tom de nostalgia…

Delores Pires