[Bélgica] Feira do Livro Anarquista em Gante

Este ano, a 20ª Feira do Livro acontecerá em Gante! Pela primeira vez, estamos chamando-a de Feira do Livro Anarquista (anteriormente Feira do Livro (A)lternativa). Como cereja do bolo, esta edição festiva dura dois dias.

Por que organizar uma feira do livro?

Queremos celebrar o papel em nossas mãos, longe do pesadelo digital que se insinua em nossos círculos mais íntimos. Na feira do livro, além de livros, você encontrará muitas outras publicações, folhetos, panfletos, cartazes e adesivos. De romances antigos e clássicos revolucionários, a filosofia e poesia até críticas sociais contemporâneas ou os últimos apelos à luta: eles partem da vontade de mudar radicalmente o mundo. Compartilham ideias e buscam aprofundá-las. Ideias, não opiniões comercializáveis, agradáveis, corajosas sem riscos.

Mas a feira do livro é muito mais!

Para nós, nunca foi apenas sobre livros e publicações. A feira do livro anarquista é também um encontro internacional de anarquistas e antiautoritários, com discussões, workshops e trocas informais. Queremos que a feira do livro contribua para fortalecer o movimento anarquista. Vemos isso como uma ferramenta para aprofundar ideias, uma oportunidade para lançar propostas e forjar vínculos entre indivíduos e grupos. Queremos compartilhar nossas paixões, queremos ajudar a criar um contexto onde palavras e ações dançam umas com as outras e se reforçam mutuamente.

Então, o fato de estarmos mudando de nome para esta 20ª edição não é uma coincidência. Mas ainda mais do que uma mudança de nome, também estamos fazendo algumas escolhas de conteúdo que estarão refletidas nos estandes e no programa de conteúdo. Para nós, o anarquismo é incompatível com a autoridade. Ele carrega uma posição ofensiva contra o poder e uma vontade de subversão.

Vivemos tempos de guerra e endurecimento das condições de vida. Todos nós somos chamados a apertar nossos cintos, trabalhar mais duro e marchar ao ritmo do militarismo que está surgindo por toda parte. Ao mesmo tempo, em breve seremos convidados pelo estado a participar com nosso voto no grande circo que legitima seu poder sobre nós.

Em vez de nos resignarmos a este panorama sombrio, nos perguntamos o que nós, como anarquistas, podemos fazer para contra-atacar isso. Em vez de cair nas armadilhas do poder – militarismo, cálculos políticos, apatia – queremos buscar nossas possibilidades e partir de nossas próprias forças. O que significa ter uma utopia anarquista em nossos corações e mentes?

Bem-vindos ao ‘t Landhuis nos dias 4 e 5 de maio! Mantenha seus ouvidos e olhos abertos para o programa completo em nosso site: https://abgent.noblogs.org/

Até lá e viva a anarquia!

Tradução > fernanda k.

agência de notícias anarquistas-ana

O menino cego
Fecha os olhos e sorri
Sonhando com flores…

Izo Goldman

Domesticação e selvageria

Anarquia é selvagem, incontrolável! Porém de forma coletiva se organiza para o pavor de todos os grupos opressores e exploradores.

Buscar entendê-la é um processo lúdico e necessário para que sua expressão seja amplificada ao milésima potência revolucionária. Esse processo de entendimento é realizado em suas próprias fileiras anarquistas, uma vez que pessoas externas a elas, buscam acima de tudo um processo de domesticação e aprisionamento acadêmico, tornando a anarquia seu pet, específico e de corrente (entendedoras entenderão!).

Anarquia tornada um pet, remove sua selvageria oriunda das pessoas oprimidas e exploradas que instintivamente compreendem diretamente na prática aquilo que algumas poucas escritoras mal conseguiram escrever, afinal, a anarquia é destruição e construção, de forma que quem busca seu aprisionamento em teses acadêmicas, não consegue, pois a anarquia foge entre a fumaça de seus atos. Não é aprisionável em livros para empoeirar, embora nestes livros tenhamos alguns sinais que a anarquia tenha por ali passado, sinais como correntes quebradas e barricadas erguidas.

Por fim, repito e repetirei que a anarquia não é enjaulável em meio universitário para sua dissecação e processo classificatório enfadonho. A criatura busca saciar sua sede de liberdade, igualdade e justiça no sangue das pessoas exploradoras e opressoras de forma direta, quem ousar intervir, será sua refeição.

Na luta somos dignas e livres!

anarkio.net

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para medir o calor
do dia, olhe o comprimento
do gato que dorme

James W. Hackett

[México] Novidade editorial: “Perspectiva revolucionária de Ricardo Flores Magon | Um projeto de luta por terra e liberdade”, de Marcelo Sandoval Vargas

Resenha

Por que escrever novamente sobre o Magonismo e, particularmente, sobre a perspectiva revolucionária de Ricardo Flores Magón? Já não se disse tudo sobre seu pensamento e sua vida militante? Um argumento que poderia ser facilmente usado, até um pouco óbvio, é que o objetivo é recuperar a relevância de suas reflexões porque elas podem encontrar relevância nas condições atuais do capitalismo. Seria até mesmo um lugar-comum dizer que o objetivo é reconhecer as práticas políticas, as formas de organização e a estratégia revolucionária que elas forjaram, analisá-las à luz das possibilidades de criar um novo horizonte de luta, com a pretensão de dar vitalidade a um novo projeto comunista anárquico. Em contraste, com este livro não quero reproduzir uma visão que se concentra em um lugar-comum que quase nada nos diz sobre a memória dessas experiências e não contribui para a criação de uma constelação com os momentos subsequentes para a compreensão do mundo que está em curso.

Perspectiva revolucionaria de Ricardo Flores Magon | Un proyecto de lucha por tierra y libertad

Autor: Marcelo Sandoval Vargas

Editora: Universidade de Guadalajara

Número de páginas: 184

Preço: US$ 200

isbnmexico.indautor.cerlalc.org

Tradução > Liberto

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Uma chuva leve.
João-de-barro feliz
Quer barro fresquinho.

Eric Felipe Fabri

[Espanha] Buñuel, notas sobre o anarquismo

Mi último suspiro. Luis Buñuel.
ISBN: 9788430619870. Editorial Taurus

“Mi último suspiro”, as memórias de Luis Buñuel contadas ao roteirista Jean Claude Carriérre, fruto de dezoito anos de trabalho e amizade entre ambos. Juntos fizeram seis obras mestras do cinema: Diario de una camareraBelle de jourLa Vía LácteaEl discreto encanto de la burguesía, El fantasma de la libertad e Ese oscuro objeto del deseo.

O livro nasceu espontaneamente de suas entrevistas na Espanha e México durante os intervalos das sessões de trabalho; um evocando suas recordações e o outro reunindo as palavras do amigo e anotando-as.

“Mi Último suspiro” junta a voz e as próprias palavras de Luis Buñuel, e nos dá uma particular visão do genial cineasta e de seu mundo mais pessoal. Nele conta alguns detalhes sobre sua relação com o anarquismo, para o qual teve uma posição mais ambivalente:

1) “Sacco e Vanzetti acabavam de ser assassinados nos Estados Unidos. Comoção em todo o mundo. Durante toda a noite, os manifestantes se fizeram donos de Paris. Eu fui à l´Etoile com um dos eletricistas do filme (L´Age d´Or) e ali vi uns homens apagar a chama do soldado desconhecido mijando nela. Quebravam-se as vitrines, tudo parecia estar em efervescência. A atriz inglesa que interpretava o filme me disse que haviam atirado no vestíbulo de seu hotel. O Boulevard Sebastopol foi especialmente castigado. Dez dias depois, ainda se detinham suspeitos de saque” (p. 91).

2). “Eu falo do grupo de Bonnot, a que adorava, de Ascaso e de Durruti que escolhiam suas vítimas cuidadosamente, dos anarquistas franceses de finais do século XIX, de todos os que quiseram dinamitar um mundo que lhes parecia indigno de subsistir, lançando-o aos ares. A esses os compreendo e, muitas vezes os admiro. Mas ocorre que entre minha imaginação e minha realidade há no meio um profundo fosso, como ocorre à maioria das pessoas. Eu não sou nem nunca fui um homem de ação, dos que põem bombas e, ainda que às vezes me sentia identificado com esses homens, nunca fui capaz de imitá-los” (p. 123).

3). “Durante a guerra civil, quando as tropas republicanas, com a ajuda da coluna anarquista de Durruti, entraram no povoado de Quinto, meu amigo Mantecón, governador de Aragão, encontrou uma ficha com meu nome nos arquivos da guerra civil. Nela me descreviam como um depravado, um viciado em morfina abjeto e, sobretudo, como autor de Las Hurdes, filme abominável, verdadeiro crime de lesa pátria. Se me encontrassem, deveria ser entregue imediatamente às autoridades falangistas e minha sorte estaria dada.” (p. 138).

4). “Gostei de El tesoro de Sierra Madre, de John Huston (baseada na obra homônima de B. Traven), que foi rodado muito perto de San José de Purúa. Huston é um grande diretor e um personagem muito exuberante. Se Nazarín foi apresentado em Cannes, se deveu em grande parte a ele. Tendo visto o filme no México, passou toda a manhã telefonando à Europa. Não o esqueci” (p. 219).

5). Também conta que em 1933 esteve ocupado no projeto de rodar na Rússia uma adaptação de “Las cuevas del Vaticano“, projeto pelo qual se entrevistou com seu autor, André Gide, mas que este lhe disse que estava muito lisonjeado pela atenção do governo soviético mas que ele não sabia nada de cinema, e que em pouco tempo se fechou de um dia para outro (p. 136).

Pepe Gutiérrez-Álvarez

Fonte: http://acracia.org/bunuel-notas-sobre-el-anarquismo/

Tradução > Sol de Abril

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não tenho país
nem casa nem riqueza
e como me sinto bem!

Rogério Martins

[Argentina] Filme: “Simon Hijo Del Pueblo”

Documentário que conta a história do mítico anarquista Simon Radowitzky. A história começa a se desenrolar em 1º de maio de 1909, quando a polícia reprime uma grande marcha anarquista, deixando mortos e feridos. Alguns meses depois, a carruagem de Ramón Falcón, o chefe de polícia que comandou a repressão, explode e voa pelos ares. Um jovem ucraniano, Simon Radowitzky, é preso pelo ataque. O filme tenta desvendar quem foi Simón, qual é a sua história e qual é o legado familiar desse imigrante que se tornou uma figura-chave do anarquismo argentino.

>> Assista o filme (1:12:51) aqui:

https://archive.org/details/SimonHijoDelPueblo

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2020/06/05/simon-radowitzky-o-anarquista-que-metralhou-fascistas-na-batalha-da-praca-da-se/

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Ah, a sensualidade…
palmeiras se abraçando
cúmplices do vento.

Anibal Beça

[México] Revolta estudantil se intensifica após trágica morte de estudante em Guerrero

Chilpancingo, no coração da conturbada região de Guerrero, tem sido sacudida por ondas de revoltas e manifestações estudantis há vários dias.

O estopim para essa revolta popular foi a trágica morte de um estudante desarmado, morto a tiros por um policial em circunstâncias que levantam questões inquietantes.

O fato de o policial responsável estar atualmente foragido aumenta a indignação e exacerba as tensões em todo o país.

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mostro o passaporte
minha sombra espera
depois da fronteira

George Swede

[Chile] “Anarquizar o punk”

O Punk não nasceu como uma moda ou uma rebeldia sem causa, os jovens que na década de 70 começaram a questionar os tradicionais símbolos da sociedade burguesa, não pretendiam ser uma mera “alternativa pacífica” às dinâmicas do modo de produção capitalista e ao vertiginoso ritmo da sociedade do poder e do espetáculo. O Punk nasceu como uma contracultura posicionada em ofensiva contra a ordem social, que burlava das convenções e tradições da ponderada democracia ocidental. Não por nada grande parte da juventude Punk se vinculou inicialmente com a ideologia anarquista e com a negação de toda forma de autoridade e poder político, dando origem ao “Movimento Anarcopunk”. Dito ramo começa a ter presença no território dominado pelo Estado do $hile a partir de finais dos anos 90 e princípios dos 2000, desenvolvendo uma “cena” que buscará politizar o entorno contracultural da época, criando publicações escritas, fanzines, músicas contestatórias, envolvendo-se em protestos, em enfrentamentos com policiais e fascistas, participando de tomadas de colégios, de casas okupadas, de atividades de difusão libertária, de marchas do movimento estudantil e de coletivos anarquistas, fazendo do Punk uma ameaça real para os valores e princípios hegemônicos deste sistema.

Com os anos, a forte presença do Anarcopunk foi se perdendo e disseminando, tomando muitas vezes outros caminhos. É hora de voltar, os tempos mudam, mas o inimigo é o mesmo, a opressão do Estado, o cárcere e o Capital seguem perseguindo nossas vidas, buscando exterminar toda semente de rebeldia e iconoclastia contra esta sociedade de miséria e morte. Ante a perda de posicionamento político dentro do Punk, ante tanta moda de moicanos erguidos sem ideologia, ante a indiferença e o individualismo liberal, ante a expansão desse Punk “a-político” e conformista, diferentes coletivos e individualidades buscamos levantar este encontro Anarcopunk para sábado dia 13 de abril de 2024. “Anarquizar o punk” e arrecadar dinheiro para nossos companheiros presos será o objetivo da jornada, que será de todo o dia, com oficinas, apresentações, dança, atividades para crianças, editorias, exposições de fanzines, comida vegan, bebidas e bandas ao vivo. Parque Manuel Gutiérrez, el Valle con Vespucio, Lo Hermida.

ASSISTE / DIFUNDE / PROPAGA

SOMOS PUNKS CONTRA O ESTADO

NEM DEUS NEM PÁTRIA, VIVA A ANARQUIA

Tradução > Sol de Abril

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Névoa Matinal.
No passeio dos pássaros
Jogo de esconde-esconde

Sérgio Sanches

[Espanha] Lançamento: O pensamento militarista | Sobre as “guerras justas”, de Fernando Hernández Holgado

Prólogo de Carlos Taibo

Uma sagaz desmistificação das “guerras justas” que o pensamento militarista tem legitimado, uma história do mundo singular erguida sobre suas ruínas.

O militarismo tem invocado historicamente o conceito de “guerra justa” para legitimar e reforçar os conflitos bélicos. A guerra da Ucrânia ou a última ofensiva israelense contra Gaza são seus marcos mais recentes, embora, e há no mínimo mais de duas décadas, conflitos como o do Iêmen, Sudão do Sul, Síria, Líbia, e Iraque ou a própria Palestina não tem feito mais que confirmar o contexto contemporâneo da “guerra permanente” ou a “guerra civil global”. O pensamento militarista tem legitimado as guerras por uma “causa justa” a partir de dilemas morais absolutos com a intenção sobrepor “o justo” com “o razoável”. Mas, podem haver “guerras justas”? O que tem a ver a guerra com a justiça ou com a razão?

Frente a ascensão do militarismo, este livro propõe rastrear os diversos argumentos da “guerra justa” utilizados pelo Ocidente ao longo dos últimos séculos. Por detrás dos pretextos e pretextos morais de toda ação armada, o que se descobre é uma tradição guerreira vinculada estreitamente com práticas coloniais e patriarcais, no marco histórico do nascimento e consolidação dos Estados nação modernos. Não escapa desse olhar, uma OTAN que serve de “escudo militar do Ocidente” que, em seu momento, soube sobreviver a Guerra Fria graças ao discurso do “intervencionismo humanitário”. Como contrapeso, essa obra evoca, enfim, uma tradição bastante diferente: a genealogia de todas aquelas vozes críticas a qualquer chamado à guerra e a violência.

El pensamiento militarista | Sobre las ‘guerras justas’

Fernando Hernández Holgado

Prólogo de Carlos Taibo

ISBN 978-84-1352-900-4

Páginas 304

20,00 €

catarata.org

Tradução > 1984

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Perfume na janela:
Bate brisa em margarida
Lívida e singela.

Erika Megumi Takada

[Chile] El Sol Ácrata, n°2 (exemplar 58, quarta época), Março de 2024

Saudações, queridos companheiros e companheiras.

Enviamos a vocês uma nova edição do nosso jornal, El Sol Ácrata, em seu segundo número da quarta época, correspondente a março de 2024.

Esta edição é bastante especial, pois marca o 12º aniversário da fundação desta publicação no norte da região chilena, em março de 2012.

Compartilhamos com vocês o link para download e divulgação, e os convidamos a ler os artigos, resenhas e poemas desta edição.

>> Link para download:

https://elsolacrata.com/2024/03/08/el-sol-acrata-n2-ejemplar-58-cuarta-epoca-marzo-de-2024/

Que viva a anarquia.

Periódico Anarquista El Sol Ácrata.

Órgão da Federação Cultural Antiautoritária.

Região chilena.

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No espaço, um brilho
qual uma folha viva:
O grilo.

Edércio Fanasca

[Chile] Tribunal de Apelações decidirá a sentença final contra o companheiro Francisco Solar

Em dezembro de 2023, o judiciário condenou o companheiro Francisco Solar a 86 anos e a companheira Mónica Caballero a 12 anos, acusados de vários ataques com explosivos.

Depois de recorrer dessa sentença, em 27 de março de 2024, o Tribunal de Apelações de San Miguel decidirá a sentença final do companheiro Francisco. A condenação de Mônica não foi objeto de recurso.

Lute contra a prisão perpétua do companheiro anarquista Francisco Solar!

Solidariedade e cumplicidade com aqueles que desafiam os poderosos e repressores!

Fonte: Buskando La Kalle

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/12/22/chile-ante-a-sentenca-de-86-anos-ao-companheiro-anarquista-francisco-solar/

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o bambual se encantava
parecia alheio
uma pessoa

Guimarães Rosa

Memória | Elvira Boni e A Luta das Mulheres Anarquistas

Por Biblioteca Carlo Aldegheri

“No princípio, eu andava pela Liga Anticlerical junto com os meus irmãos. Aí eles começaram a fazer umas festas, com representações, e ia gente que eu não conhecia. Depois começaram as primeiras greves de que eu tenho conhecimento. No dia 1º de maio de 1919 – nessa época os trabalhadores já eram dirigidos pelos anarquistas – foi organizado um grande comício na Praça Mauá. Da Praça Mauá o povo veio andando até o Monroe pela Avenida Rio Branco, cantando o ‘Hino dos Trabalhadores’, ‘A Internacional’ e ‘Filhos do Povo’. Não tinha espaço para mais nada.

Naquela época não havia microfone, então havia quatro oradores falando ao mesmo tempo em pontos diferentes. Lembro-me de um que era gráfico, o Carlos Dias, e de outro da construção civil, o Domingo Passos. Depois desse comício, algumas moças resolveram criar o sindicato, e no dia 18 de maio de 1919, fundou-se a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas. Éramos eu, a Elisa Gonçalves de Oliveira, a Aída Morais, a Isabel Peleteiro, a Noêmia Lopes. E aí a União começou logo a se exercitar. Era dirigida por uma comissão executiva, nos moldes anarquistas (…).

Na última semana do mês de abril de 1920, os trabalhadores de outros sindicatos resolveram fazer o 3º Congresso Operário Brasileiro. E convidaram a União das Costureiras para participar. Foi feita uma assembleia na União, e foram eleitas duas representantes: eu e a Noêmia Lopes. Eu era um pouco inibida nessa ocasião, não me achava com grande possibilidade de conversar, de dissertar sobre os assuntos. Sabia o que queria, mas não sabia me expressar. Mas presidi a última sessão do Congresso, quiseram que eu presidisse”.

Depoimento de Elvira Boni realizado em 1983. Na foto em destaque, ela presidindo a sessão de encerramento do 3º Congresso Operário Brasileiro (1920).

>> A Biblioteca Carlo Aldegheri é um centro de documentação e memória anarquista, fundado em 2012, em Guarujá-SP. Contato: nelca@riseup.net

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Correndo risco
a linha do corpo
ganha seu rosto

Alice Ruiz

PL 2253: Proibição das saídas temporárias dos encarcerados e a falência da esquerda eleitoral

Comunicado Nacional da FOB

Sempre há quem explore a angustia do povo através de soluções simplistas e mentirosas. Soluções que visam aumentar a miséria e a exploração da classe trabalhadora. As saídas temporárias das pessoas encarceradas, apelidada pela imprensa como “saidinha”, tornam-se palco para muitos políticos da ultradireita, que protagonizam um verdadeiro espetáculo como se fossem heróis da justiça, em nome de uma segurança pública que apenas oprime e leva insegurança paras as comunidades que sofrem com a violência policial.

Contudo, é uma justiça voltada para os interesses dos ricos e poderosos, empoderando as milicias e o banditismo que promove a violência em nossas favelas e comunidades. Esse cenário se desenha no processo de tramitação do Projeto de Lei (PL) 2253, recentemente aprovada no Senado Federal em 20 de fevereiro, com esmagadora maioria dos partidos, do Partido Liberal (PL) ao Partido dos Trabalhadores (PT), demonstrando a falência e a corrupção avançada da esquerda eleitoral. O Projeto de Lei ainda deverá ser apreciado pela igualmente conservadora Câmera dos Deputados e ir para sanção presencial.

O sistema de justiça criminal são componentes de um mecanismo racista de dominação. As prisões brasileiras expressam a profunda divisão de classe e raça que enfrentamos nas cidades, nos campos e nas florestas, um destino sustentado pelas classes dominantes para encarcerar os filhos e filhas do povo. É enganoso supor que o sistema prisional busca garantir a segurança da maioria, quando na realidade protege apenas os interesses dos ricos e poderosos.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://lutafob.org/pl-2253-proibicao-das-saidas-temporarias-dos-encarcerados-e-a-falencia-da-esquerda-eleitoral/

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tudo o que restou
dos sonhos dos guerreiros —
Capim de verão

Bashô

 

 

[Grécia] Atenas: Para destruir a loja de flores poliamorosas em 10/02/2024

Em Exarchia – há décadas, mas com intensidade particular nos últimos anos – uma guerra está sendo travada por parte do estado.

Um bairro habitado há muitos anos principalmente por proletários, imigrantes, ativistas femininas, estudantes e jovens, um bairro que sempre foi o “centro” de todos os tipos de movimentos radicais, há muito tempo faz parte de uma operação coordenada e centralmente planejada de mutação agressiva e violenta. O estado grego investiu muito para alcançar um duplo objetivo: por um lado, entregando ao capital – grande e pequeno – uma peça importante do centro metropolitano para investimentos lucrativos principalmente no campo imobiliário, turismo e na indústria do entretenimento que sempre conecta esse tipo de “desenvolvimento” e, por outro lado, o ataque total ao mundo e às estruturas do movimento que surgiram há décadas, enraizadas no bairro de Exarchia, com o objetivo de encerrar suas contas históricas com o inimigo interno no coração da cidade.

O planejamento do estado inclui a garantia da infraestrutura necessária (como o metrô), a regeneração de pontos-chave, mas também historicamente e politicamente carregados no bairro (por exemplo, o Politécnico, o Museu, a Praça, até o antigo morro de Strefi), bem como o desdobramento de poderosas forças repressivas de todas as espécies para garantir a disciplina e a segurança do desdobramento deste plano violento. É esse planejamento que está criando um terreno absolutamente fértil para o avanço de investimentos de todos os tipos e tamanhos – e os valores imobiliários em disparada que eles trazem – que estão mudando cada vez mais não apenas a imagem e o caráter do bairro, mas também a constituição e a estrutura de classe do mundo que o habita e se move nele.

A guerra que o estado e o Capital desencadearam em Exarchia é uma guerra com características de classe claras. Os pobres são deslocados, incapazes de custear a vida, e os ricos – estrangeiros e locais – ocupam o seu lugar.

Desta reestruturação violenta, alguns – senão modernos, liberais, empresários alternativos – decidiram, mesmo que façam uma escolha desinformada, também se beneficiar ao lado da grande lucratividade dos grandes investidores.

A luta multifacetada que já está sendo travada por muitas pessoas em Exarchia, contra a ocupação policial, o reordenamento, o metrô, os hotéis, tem em seu foco – na medida em que lhes pertence – todos esses negócios que visam os novos visitantes e moradores ricos do bairro.

Então, o que é esse “pequeno florista alternativo”? Não passa de uma loja cirílica com bebidas caras, voltada para toda maldita “alternativa” e faz parte da gentrificação violenta. Uma gentrificação que tenta transformar todo o bairro de Exarchia em um parque temático para turistas, hipsters e ricos, deslocando aqueles que não se encaixam nas casas com aluguéis inacessíveis, nas praças com chapas de metal e nos divertimentos hipster.

Ao mesmo tempo, esta loja em particular, além de vinhos caros, também vende “libertação sexual”. Uma “libertação sexual” que não se limita apenas aos confins de uma loja, mas constrói uma condição limitada de seu consumo exclusivamente como produto.

A demolição deste “multi-florista” em particular é uma pequena resposta aos planos que estão fazendo para o bairro de Exarchia, uma mensagem de que não nos expulsarão assim, que o centro de Atenas não está à venda. Uma mensagem que a mídia “alternativa” e estabelecida, os extremistas de direita (incluindo um ministro) juntamente com empresários modernos/liberais tentaram dissipar, apresentando esta loja específica como uma pequena floricultura de bairro dirigida por alguns sujeitos aflitos sem nenhum conteúdo político, tentando assim uma inversão absoluta da realidade. O empresário/proprietário alegre de “P” (que está até se preparando, ao que parece, para abrir um novo negócio a poucos metros de distância), o “residente de Exarchia” com conexões a todos os folhetos de lixo/guia de entretenimento que o anunciam sistematicamente, está muito consciente de que suas bebidas caras não se destinam àqueles que viveram e frequentaram Exarchia até agora. Ele está muito consciente de que lojas como a dele pressupõem a destruição da diversidade social do bairro, o aumento dos aluguéis, a conversão de casas em AirBnB e vice-versa.

Eles estão tentando derrubar (e reconstruir) os bairros do centro e mutar Exarchia para os padrões de Kolonaki ou outra Berlim. Para vasculhar a propaganda de seus folhetos na memória coletiva dos lugares onde vivemos, trabalhamos, nos encontramos, lutamos.

Não é coincidência que outro produto à venda em Exarchia seja seu caráter libertário radical, que eles procuram assimilar, às vezes como espetáculo ao vivo e às vezes como cartões-postais nas vitrines das lojas. No exato momento em que policiais armados estão a poucos metros de distância assediando e batendo, protegendo chefes e turistas, enquanto as pessoas que moram na área há anos enfrentam uma repressão violenta do estado por resistir à degradação de suas vidas.

Portanto, para aqueles que vislumbram uma Exarchia “pura” com vitrines “alternativas” caras, AirBnB e policiais, a resposta é dada pelas ações diárias daqueles que resistem. Esperamos que nossos atos sejam um pequeno sinal de resistência à luta multifacetada que está ocorrendo no bairro de Exarchia. Um bairro que defenderemos com a militância e a solidariedade que aprendemos em suas ruas.

Anarquistas

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1629262/

Tradução > Contrafatual

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Todos adormeceram
Só o canto da cigarra
Permanece na noite

Maria Renata F. Antunes

[Canadá] Feira do Livro Anarquista de Montreal, 2024 e mais além

Há mais de um quarto de século que a Feira do Livro Anarquista de Montreal se tornou uma referência de maio – o “mês da anarquia” – e do anarquismo nesta cidade. É quase difícil lembrarmo-nos de uma época anterior a este enorme encontro! E como coletivo, sentimos o peso das expectativas de que deveríamos avançar com uma feira de livros nesta primavera, quer isso pareça possível ou não.

No entanto, muita coisa mudou durante estes anos, não só em todo o mundo, mas também em Montreal e na feira do livro. E este ano tem sido particularmente doloroso, desde a pandemia que se arrasta, à crise da habitação, do fascismo que só piora, ao genocídio em Gaza, tudo isto a sobrecarregar as nossas capacidades coletivas e a partir os nossos corações.

Depois de muita deliberação, decidimos adiar a próxima Feira do Livro Anarquista de Montreal para maio de 2025 e, em vez disso, concentrarmo-nos em reimaginá-la e renová-la. Sabemos que isto pode desiludir, mas esperamos que compreendam a nossa (e talvez a vossa) necessidade de um pouco de fôlego e de algum tempo de reflexão.

Um brinde a um mês maior, melhor e mais bonito de anarquia e feira de livros em 2025!

Amor+solidariedade, o coletivo da Feira do Livro Anarquista de Montreal

salonanarchiste.ca

Tradução > Contrafatual

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/05/20/canada-a-feira-do-livro-anarquista-de-montreal-esta-de-volta-27-e-28-de-maio-de-2023/

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Araponga cativa
São gritos atravessando grades
Partindo vidros…

Suely Moraes

[Espanha] A FAL acolhe a exposição “Moldeadoras de la Idea: mujeres en la cultura impresa anarquista”

De forma paralela ao congresso Editoras e tradutoras mais além das fronteiras: “mujeres en la cultura impresa transnacional anarquista”  (mulheres na cultura impressa anarquista) (1890-1939), que acontecerá no Campus UC3M de Puerta de Toledo (Madrid) entre 19 e  21 de março, na sede madrilenha da FAL se poderá visitar a exposição “Moldeadoras de la idea: mujeres en la cultura impresa anarquista” (aberta à visitação desde 19 de março até 26 de abril).

Falamos de uma exposição, curada pelas investigadoras Lucía Campanella, María Migueláñez e Jordi Maíz, que compila materiais do arquivo da Fundação Anselmo Lorenzo e outros arquivos públicos e privados, vinculados com o papel das mulheres anarquistas na cultura impressa libertária prévia a 1939.

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No marco do importante desenvolvimento acadêmico dos estudos anarquistas a nível global, surgiu um interesse renovado pela cultura impressa libertária (Madrid e Soriano 2012; Souza Cunha 2018; Yeoman 2022; Ferguson 2023), base sobre a qual se desenvolveu de maneira impensada o que é considerado como primeiro movimento político transnacional (Moya, 2009). A cultura impressa anarquista foi massiva e enciclopédica e, em seu afã por educar ao humilde, teve a capacidade de circular textos de diversas índoles: literários, científicos, técnicos e, claro, ideológicos, entre tantos outros. Com esta agitada atividade impressora e tradutora, os anarquistas e as anarquistas foram agentes pioneiros e muito ativos na transferência de saberes transnacionais. Participaram em redes de intercâmbio e produção de impressos que “globalizaram o anarquismo” (Prichard, 2022; Eitel 2022) nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX.

Paralelamente, e apesar de que o papel que as mulheres jogaram no movimento anarquista tenha sido revisitado nos últimos cinquenta anos (Nash 1975; Rowbotham 1992; Enckell 2010; Pezzica 2013), há ainda muito território por ser explorado no que respeita à maneira na qual as mulheres anarquistas ou próximas ao movimento participaram nessa cultura impressa. O movimento anarquista abordou, desde seus primeiros escritos, temáticas ligadas à relação entre os sexos, à família e a sexualidade. Muitas editoras e tradutoras realizaram estas tarefas com o olhar posto em aprofundar a igualdade prática e teórica no interior e no exterior do movimento, reclamando para as mulheres uma mesma educação e oportunidades de participação, reivindicando uma idêntica paixão pela liberdade e apregoando que as mulheres possuem elas também condições e motivos para a luta contra o estado. Este ativismo impressor pode ser considerado “feminista”, com todas as discussões que acarreta a utilização do termo em contextos anarquistas (Barrancos 1990 e 1996).

O trabalho é tanto que editoras e/ou tradutoras de figuras femininas chave do anarquismo internacionalista como Louise Michel, Emma Goldman, Lucy Parsons, Soledad Gustavo ou Virginia Bolten assim o sugere. Permite intuir a importância dos vínculos entre mulheres, movimento anarquista e cultura impressa. Junto a elas, uma plêiade de mulheres anarquistas, ou próximas aos meios anarquistas, se destacaram nas tarefas de editar, imprimir e traduzir textos, libertários e não libertários.

A exposição que propomos pretende continuar recuperando o papel que coube às mulheres anarquistas na edição e tradução de textos, voltando àquelas mais conhecidas e tirando do esquecimento a muitas outras.

Lucía Campanella (Universitat Oberta de Catalunya) / María Migueláñez (Universidad Carlos III) / Jordi Maíz (Universitat de les Illes Balears)

FUNDAÇÂO ANSELMO LORENZO

fal.cnt.es

Tradução > Sol de Abril

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agência de notícias anarquistas-ana

Orquestra mágica
Balanço sussurrante das árvores
A maestria do vento.

Clície Pontes

[Colômbia] Comunicado do nosso primeiro Congresso

No último mês de janeiro, a Unión Libertaria Estudiantil y del Trabajo (ULET), afiliada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT-IWA), realizou seu primeiro Congresso nacional com a participação de sindicatos de Hulia, Cundinamarca, e dando as boas-vindas de companheiros e companheiras de Cauca.

O propósito fundamental de nosso Congresso foi abordar as necessidades dos territórios, das comunidades e dos estudantes pertencentes a classe trabalhadora em nossa região. Buscamos discutir e planificar ações concretas para recuperar os direitos que foram usurpados pelo capital, pelo Estado e as elites políticas e econômicas do país.

Além disso, o Congresso nos brindou com a oportunidade de reafirmar a importância da organização da classe trabalhadora frente a uma realidade hostil. Nesse contexto, destacamos que os princípios do anarcossindicalismo em nossa região, junto com o internacionalismo que nos caracteriza, são ferramentas fundamentais para os e as trabalhadoras. Destacamos a necessidade de fortalecer a unidade como meio para alcançar triunfos no âmbito trabalhista e estudantil, especialmente as novas medidas governamentais. É crucial adotar um olhar crítico frente a esses cenários.

Por outro lado, queremos destacar que nos sindicatos federados a ULET-AIT encontraram um espaço para combater o capital. Embora reconheçamos que não há um mundo externo ao capitalismo, existe um mundo aqui e agora que resiste a desaparecer em cada um de nós. Apostamos na economia solidária e na política pública cooperativista com o objetivo de potencializar a capacidade de produzir educação comunitária.

Nosso Congresso Nacional representa um passo firme para a consolidação da luta pelos direitos da classe trabalhadora e estudantil. Reafirmamos nosso compromisso com a resistência ativa e a construção de alternativas que promovem a justiça social e a dignidade para todos e todas.

Por uma ULET-AIT combativa e solidária!

Por um anarcossindicalismo latino-americano que cresça do tamanho de nossos sonhos.

Sempre nos imaginamos em comunidade, mas a comunidade só surge quando nos imaginamos em comunhão.

UNIÓN LIBERTARIA ESTUDIANTIL E DEL TRABAJO -AIT

uletsindical.org

Tradução > 1984

agência de notícias anarquistas-ana

Vento nas árvores
As bolhas de sabão
Foram com as folhas.

Estrela Ruiz Leminski