[Aproveitamos a visita de nosso companheiro Lebion à Paris, para que ele fizesse uma entrevista aos integrantes da padaria autogestionária “La Conquête du Pain” (A Conquista do Pão, fazendo uma menção ao célebre livro de Kropotkin).]
Pergunta > De onde surge a ideia de pôr em marcha o projeto de padaria “La conquête du Pain”?
Resposta < A história começa com os dois fundadores, Pierre e Thomas. Na época, enquanto os dois pertenciam a grupos militantes libertários e antifascistas (a FA e o SCALP), surge a ideia de pôr em aplicação os princípios libertários e de propor uma alternativa concreta ao capitalismo. Ao mesmo tempo a ideia era ter uma ferramenta concreta enraizada na vida cotidiana das pessoas, que pudesse servir de apoio às lutas e iniciativas sociais, locais ou outras.
Pergunta > Como se organizam? Que supõe a autogestão para vocês?
Resposta < Nos organizamos de maneira horizontal. Quer dizer, que todas as decisões são tomadas em assembleia geral, onde cada pessoa é igual a uma voz. São assembleias semanais de duas horas. Em geral tentamos funcionar de maneira que as decisões sejam tomadas com a forma do consenso; às vezes, quando isso resulta impossível, procedemos a uma votação (mas essa situação até agora é muito secundário).
Em paralelo cada um dos setores da padaria (que são produção, venda e distribuição) fazem sua própria assembleia mais ou menos a cada quinze dias.
Aparte das assembleias gerais ou de setores temos reuniões mais informais para resolver as pequenas coisas urgentes que se apresentam em cada um dos setores de atividade.
Além disso, a nível econômico-laboral funcionamos com igualdade de salário. Todos temos o mesmo salário.
Pergunta > Que relação tens com os produtores de matérias primas? Por quê bio?
Resposta < Nós temos muitas relações com os produtores de farinha, ovos ou outros produtos frescos. São grandes empresas e até agora nos abastecemos com produtores alternativos. Nosso consumo desses produtos é demasiado importante. Como padaria urbana não é fácil encontrar camponeses com quem trabalhar. Mas seguimos buscando…
Por exemplo, faz uns meses encontramos uma produtora de frutas e verduras com a qual já trabalhamos para fazer algumas sopas, sanduíches e bolos com produtos mais locais.
Pergunta > Tens estudantes em práticas na padaria? Como funciona isso? Como o valorizam?
Resposta < Na padaria há dois praticantes, Yacuba e Hamid, que estão compartilhando seu tempo entre a escola de padaria e “A Conquista do Pão”. Trabalham no setor da produção, onde Pierre, Mathieu, Thomas, Florence e Rachid lhes orientam e ensinam sobre práticas de panificação. Além disso, tentamos oferecer-lhes apoio escolar; Soraya e Linda utilizam momentos durante a semana para trabalhar nas questões mais escolares. De maneira geral toda a equipe tenta propor sua ajuda quando se apresentam situações particulares. Sempre ficamos em contato com a escola e às vezes com os professores.
Pergunta > Onde está situada a padaria? Vossa clientela é do bairro ou distribuis produtos a outras zonas?
Resposta < A padaria está em Montreuil (um subúrbio ao Este de Paris). Nossa clientela sim é do bairro. Além do ponto de venda da padaria temos um serviço de distribuição, assim que distribuímos produtos em vários rincões de Paris e também em outros subúrbios na zona.
Pergunta > Tens algum projeto com o qual possa influenciar de alguma maneira no bairro a partir de “A Conquista do Pão”?
Resposta < Sim, de fato já temos algumas coisas que vão neste sentido. Às 20 horas de cada dia fazemos o que chamamos a “recuperação”, que corresponde à distribuição gratuita dos produtos que não foram vendidos durante o dia.
A cada ano organizamos a “comida do bairro”, um evento durante o qual todos os moradores compartilham um momento de convivência ao redor de uma comida. Cada um traz uma pequena coisa. Nós contribuímos com vários produtos e tentamos organizar um concerto ou algo para a diversão de todos.
Há pouco tempo, fazemos uma oficina de cozinha uma vez por mês. Deixamos o local da padaria, as ferramentas para cozinhar, conseguimos todos os ingredientes, e trazemos uma pessoa que vem cozinhar. Quando está pronta a comida a transportamos ao local sócio-cultural do bairro e fazemos uma degustação com o público. Estas oficinas são organizadas com uma associação local e com o centro sócio-cultural do bairro.
Além disto, de maneira pontual tentamos organizar eventos culturais: por exemplo, o ano passado organizamos uma exposição dos pães do mundo. Tínhamos quinze diferentes tipos de pão, cada um de um país diferente. Cada pão estava decorado por So, uma artista de arte urbana que trabalha na padaria. Cada receita e sua decoração ilustrava uma luta correspondente a um país específico. Pequenos textos acompanhavam cada pão para valorizar essa história e informar aos visitantes da exposição.
Pergunta > Há alguma relação com outros projetos cooperativos em Paris e no resto da França? Se sim, quais? Que trabalho em comum existe?
Resposta < O ano passado começamos um projeto chamado “rede de padarias alternativas”. Para isso, nos reunimos com várias padarias autogestionadas de todo o país. Neste ponto estamos trabalhando sobre vários projetos de intercâmbios de saberes. Além de estarmos envolvidos na rede REPAS (Rede de Práticas Autogestionadas e Solidárias). Essa rede reúne estruturas autogestionadas de todo tipo, não só padarias. Atualmente Cecile, praticante da Rede para aprender sobre autogestão, está fazendo uma prática de cinco semanas conosco.
Pergunta > Uma curiosidade. Vão muitos turistas anarquistas visitá-los?
Resposta < Sim, isso acontece às vezes. Faz pouco tempo tivemos a visita de uns companheiros italianos, gregos, peruanos e alemães que estavam em Paris para um evento da Federação Anarquista. Outra vez nos visitou um companheiro chileno, que aproveitou sua viagem à França para fazer uma entrevista para uma rádio chilena.
Manuel Vicent
Fonte: Tierra y Libertad Nº 321 – Abril de 2015 – Periódico da Federação Anarquista Ibérica (FAI)
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!