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[Colômbia] Sobre a 47ª Marcha Por la Liberación Marika

By A.N.A. on 8 de Agosto de 2016

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No último domingo, 3 de junho, foi realizada a chamada Marcha del Orgullo na cidade de Bogotá. Contando com a Mesa Distrital LGBTI, essa é a 20ª destas marchas que acontece em Bogotá. As Severas Flores contam a marcha em comemoração aos motins de Stonewall (1969), a Marcha Por la Liberación Marika, como a 47ª.

Sobre a presença na marcha, a estimativa foi de 7.000 pessoas, sendo a maior mobilização deste tipo até o momento no país. O trajeto, já clássico para esta comemoração, foi desde o Parque Nacional até a Praça Bolviar, por toda a Carrera Septima. Em seu destino final, a concentração seria acompanhada de algumas palavras de “ilustres” membros da comunidade LGBTI.

As Severas Flores convocaram uma mobilização como culminação de uma semana de comemoração dos motins de Stonewall (A Semana pela Libertação Marika) que consistiu em uma série de conversas, oficinas e cinefóruns que buscavam ressignificar a marcha, pois esta foi muitas vezes mal vista por muitos setores dissidentes na hora de representar uma experiência política anti-patriarcal. Os exercícios conseguiram recolher as propostas de várias pessoas que, animadas pela possibilidade de politizar o espaço com uma aposta diferente, finalmente se programaram para montar um bloco no dia da mobilização.

Com a cara tampada, os torsos descobertos, estacas e bandeiras rosinegras e violetinegras, Severas Flores marchou neste dia. Acompanhadas das pessoas interessadas em ressignificar o espaço, conseguimos articular um bloco a partir da proposta de Resistencia Antipatriarcal e as Trans de Sant Fé: O objetivo (cumprido de maneira bem sucedida) foi nos posicionarmos na ponta da marcha. Esta proposta saiu das experiências da Resistência, que também convocou a mobilizar-se neste dia, mas a partir de uma crítica à misoginia patente na organização institucional da marcha. Ao ritmo de tambores e acompanhadas de grupos como AVA e Mujeres al Borde, lideramos por cima da Mesa Distrital a mobilização durante a maioria do t rajeto (desde a altura da Calle 26).

A marcha é um espaço para que as dissidências se manifestem e possam expressar seu ser e suas apostas coletivas, o que se aproveitou no bloco que marchou na vanguarda, onde frases anti-especistas, anti-capitalistas e anti-militaristas ressonaram junto às reivindicações das maricas, lésbicas e trans de libertação corporal, sexual e social. Valorizamos esta articulação e nos emociona e alegra grandemente a solidariedade de grupos que se encontraram em diferentes espaços este ano. Vimos que somos capazes de articular-nos para realizar projetos com maior contundência. Esperançosamente esta experiência seja uma semente que com o tempo dará muitos frutos.

Por outro lado, as plataformas políticas progressistas saíram para cumprir sua cota ao setor “diverso” ou LGBTI. Estas plataformas, e inclusive alguns partidos, saíram para mostrar seu compromisso com uma demografia eleitoral que nos últimos anos tem se posicionado de maneira relevante a nível nacional e internacional. O vergonhoso espetáculo que se apresentou na Praça Bolivar, um desfile de diversos políticos ao som da música mais estereotipada possível, é um reflexo da visão utilitarista que esta marcha tem no setor político progressista da Colômbia. Colombia Diversa, a organização que liderava a marcha depois da Mesa Distrital também ressonou, sendo seu tema a celebraç&ati lde;o dos 25 anos da Constituição de 91. Isto concorda completamente com o propósito legislativo de organização que centrou seus esforços no marco jurídico dos direitos civis. Por nenhum lado desses blocos ressonou Stonewall, a violência policial ou a diferença de classe na comunidade, embora fossem frequentes cartazes sobre a paz, a igualdade, o casamento e a adoção.

Infelizmente não se viu nem uma só bandeira rubro-negra na mobilização. O setor libertário da capital parece não considerar relevante este tipo de mobilização. Por mais que existam muitas críticas a respeito do que se chamou de pinkwashing e o caráter burguês e reformista da marcha, há um setor descontente com o modo geral da proposta política da marca e foi dada a tarefa de construir novas propostas que sem dúvida se nutririam da aposta dos grupos anarquistas. Esperemos que esse ânimo tão recente da emergência de vários projetos libertários não perpetue esses preconceitos puritanos de considerar irrelevante a revolução sexual ou o questionamento da Heteros sexualidade como ideologia. O problema de gênero não se trabalha no facebook.

A marcha se converteu em uma oportunidade para dar visibilidade às diferentes apostas das dissidências sexuais na capital. Não só grandes grupos organizados marcharam, também pequenos coletivos aproveitaram o espaço para se manifestar (é o caso de alguns grupos universitários). Isto sim, a maior parafernália foi colocada pela cota de negócios de ócio que aproveitaram para convidar para a festa pós marcha. Atitude que não é condenável de forma alguma e que melhor vemos como um fator que pode de alguma maneira aproveitar-se (não esqueçamos que Stonewall era um bar) se consegue trabalhar com uma comunidade que, embora consciente de sua situação de opressão, se sente relutante em organizar -se. Da marcha concluímos que ainda há muito por fazer e muita gente com quem trabalhar, de modo que devemos começar a trabalhar com todas estas flores que ainda não germinaram. Agradecemos a todas as pessoas que nos acompanharam e que, com atos eficazes de solidariedade, contribuem na destruição do Hetero-Patriarcado: Sigamos semeando jardins de liberdade.

Coletivo Libertário Severas Flores

Tradução > PF

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2016/06/28/colombia-manifesto-marika-pelo-coletivo-severas-flores/

 

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