Por Andrés J. López – Ilustração Enka
Nos livros de Iván Darío Álvarez, fundador do “Teatro de Títeres la Libélula Dorada”, podem-se compreender as bases do anarquismo, encontrar edições que quase desapareceram por sua estigmatização e descobrir a faceta libertária do pensador Noam Chomsky. Estes são os textos fundamentais para um seguidor desta corrente.
A ideia de um mundo sem governo, em que todos os indivíduos possam ser considerados livres totalmente, resulta utópica para muitos, uma ilusão ou simplesmente uma piada. Para os anarquistas ou libertários, é o contrário, acabar com o Estado, o capitalismo e qualquer regulação opressora foi sempre a sua maior motivação durante séculos.
O problema é que o termo anarquia – que por sua etimologia grega significa “ausência de governo” – é associado com violência ou distúrbios em muitos casos. No México, por exemplo, vários diários mencionam o termo unicamente para relatar os atos violentos que comentem algumas pessoas que tem estes ideais. Este mês, no Chile, o jornalista italiano Lorenzo Spairani foi deportado por gravar uns videos de uma marcha sindical, ao ser acusado de formar parte da “cena anarcoliberal”. “Isto faz duvidar da plena democracia do Chile”, disse Spairani ao Jornal costa-riquenho El País.
No nosso país, longe de promover a violência, há pessoas que assumiram o anarquismo a partir das letras e da arte cênica. Um destes casos foi Iván Darío Álvarez, um escritor, titireteiro, pensador e também fundador, há 41 anos, do teatro de Bogotá “La Libélula Dorada”, ao qual injeta o “veneno” libertário através de obras da sua autoria como o “Doce Encanto da Ilha Acracia”. Este companheiro também colaborou no “Magazín Dominical de El Espectador” com vários artigos dedicados ao anarquismo e em 1992 fundou o jornal “Biófilos”, com quatro ediç&oti lde;es, chamado assim em homenagem ao ativista e anarquista colombiano Biófilo Panclasta. A sua biblioteca, que ocupa quase três salas da sua casa, é uma vasta coleção de filosofia, contos infantis, obras de teatro, cancões, poemas e há um lugar especial para oito livros, recomendados por Iván Darío, que são fundamentais para qualquer interessado em conhecer as bases e os ideais anarquistas.
Dicionário anarquista de emergência – Iván Darío Álvarez e Juan Manuel Roca
“Parecerá um pouco narcisista começar com este livro que escrevi em conjunto com o poeta Juan Manuel Roca, mas este texto é algo assim como uma introdução ao anarquismo. Este livro o dividimos em duas partes: na primeira pusemos os termos de A a Z próximos à anarquia e os definimos desde o ponto de vista libertário, através de citações de filósofos, anarquistas ou pessoas com ideais afins ao anarquismo; na segunda parte incluímos umas mini biografias de pessoas que muita gente ignora que foram próximos a esta corrente como Albert Camus, Arthur Rimbaud, Oscar Wilde ou León Tolstoi”.
Anarquia e ordem – Herbert Read
“Esta é uma joia porque, devido à sua estigmatização, encontrar edições deste naipe é como procurar uma agulha num palheiro. Neste livro, Read escreve seis ensaios onde há desde poesia até filosofia e os relaciona com o anarquismo. Isto também é coisa rara dentro do seu trabalho porque este inglês é mais conhecido pelas suas publicações sobre estética. A editora argentina que lançou esta obra, “Américalee”, é muito importante porque se encargou de resgatar clássicos do anarquismo de meados do século XX”.
Razões para a anarquia – Noam Chomsky
Chomsky também é muito conhecido pelos seus trabalhos linguísticos e críticos, mas pouco pela sua faceta libertária. Neste livro, onde também há entrevistas, faz um estudo sobre a prática das ideias anarquistas na Guerra Civil espanhola, que levaram a impedir que os franquistas ocupassem Barcelona. Os libertários também tomaram as fábricas, eliminaram o dinheiro e puseram os campos em mãos dos campesinos para uso da autogestão. O autor vê neste modelo uma inspiração para uma nova sociedade, onde se pode fazer uma democracia construída desde baixo para cima e não ao contrário”.
O curto verão da anarquia: vida e morte de Durruti – Hans Magnus Enzensberger
“Durante a Guerra Civil e a gestação do movimento obreiro espanhol, surgiram grandes figuras, entre essas o obreiro metalúrgico Buenaventura Durruti. Ele teve uma vida extraordinária: esteve preso, logo fugiu da Espanha e andou pelo México, Cuba e Argentina roubando, não para se enriquecer, mas para financiar suas lutas sociais e a fundação de escolas anarquistas. Também criou a “Columna de Hierro”, que foram as milicias anarquistas que enfrentaram a Franco. Enzensberger tece muito bem neste relato e o conta à maneira de novela, com testemunhos de simpatizantes, inimigos e por meio de fragmentos de livros e entrevistas”.
Cabeças de Tempestade: ensaios sobre o ingovernável – Christian Ferrer
“Nos quatro ensaios que compõem este livro, Ferrer faz um rastreio do estilo de vida dos libertários, o seu idealismo e fé nas ideias, os põe como modelo do que pode ser o anarquista ideal. Também se encarrega de desmistificar este imaginário que a burguesia impôs na sociedade do que é um seguidor da anarquia: alguém estigmatizado, satanizado pela sua rebeldia, um ser perigoso e incendiário que sempre anda com um chapéu, gabardine e uma bomba oculta. O autor mete-lhe um estilo pessoal que o faz muito poético e bom de ler”.
O crepúsculo das máquinas – John Zerzan
“Este trabalho é muito polêmico porque Zerzan vai contra o progresso da civilização e para ele isto nos está a levar para um beco sem saída. Argumenta que com o surgimento da agricultura começou a divisão do trabalho e um ideal de ambição e de conquista que deram pé à escravidão. O autor propõe a volta para uma sociedade primitiva onde há uma relação mais estreita entre o homem e a natureza e onde não existam as cidades; para ele são monstros em crescimento que degradaram o ser humano até converte-lo em alguém antissocial”.
Anarquia Viva! – Uri Gordon
“O ativismo e sua participação em redes contra o Banco Mundial, o G8 e todos esses movimentos capitalistas e de globalização levaram a este formado de Oxford a fazer o livro, que é a sua tese de graduação. A peculiaridade é que não a fez sentado num escritório, mas sim baseado nas suas experiências em manifestações. Gordon explica que, embora o anarquismo tenha sido ofuscado por movimentos como o marxismo, nunca desapareceu; depois de Maio de 68 surgiu um novo foco e atualmente há anarquistas que não se fazem chamar assim, pela estigmatização da palavra, mas sim autonomistas, assembleistas, etc”.
Cinema e anarquismo: a utopia anarquista em imagens – Richard Porton
“O cinema sempre esteve presente nas lutas sociais e mostrou o anarquista de diferentes maneiras. Porton explica-o desde a perspectiva de aqueles que seguem estes ideais e como os que não o seguem. Aqui se fala de, por exemplo, Sacco e Vanzetti (1971) que conta o caso de dois imigrantes italianos que chegaram aos Estados Unidos em busca de um futuro melhor e, ao ver as formas brutais de exploração desse país, ingressam ao movimento obreiro norte-americano para lutar desde o anarquismo. Logo acusam-nos de um crime que não cometeram e são condenados à cadeira elétrica”.
Fonte: http://cartelurbano.com/historias/que-hay-en-la-biblioteca-de-un-anarquista
Tradução > Joana Caetano
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