por Christina O’Neill | 24/02/2020
No dia que seria o seu aniversário, olhamos para o passado de uma heroína anônima da classe trabalhadora que se aventurou em Barcelona, ajudou camarades anarquistas a escaparem da prisão e se tornou conhecida como a Pimpinela Escarlate escocesa.
Neste dia, em 1909, Ethel MacDonald nasceu – uma anarquista feroz que um dia se tornaria a voz anglófona da luta das trabalhadoras e trabalhadores na Espanha durante a sangrenta guerra civil.
Aos 27 anos, a ativista da classe trabalhadora foi enviada à Barcelona – o coração pulsante da revolução social – para cobrir os eventos que se desenrolaram quando o governo republicano enfrentou os exércitos rebeldes nacionalistas do General Franco, em 1936.
Como uma garota de espírito livre – uma entre nove irmãs e irmãos – Ethel era descrita como uma aluna exemplar na Escola Motherwell, apesar de que, como muitas outras da sua época, saiu sem se formar para trabalhar.
Ethel cresceu apaixonada por política, se juntando ao movimento da juventude do Partido Internacional de Trabalhadores. Trabalhando em vários empregos, ela via a gestão da “burocracia” com desprezo e constantemente desafiava as condições e pagamento.
Ela se envolveu com a Federação Comunista Antiparlamentar e o Movimento Socialista Unido, depois de conhecer o fundador, Guy Aldred, aos 16 anos. Reconhecendo seu ardor revolucionário, ela foi recrutada como secretária para a organização.
Quando a guerra estourou na Espanha em 1936, ela e seu companheiro, Jenny Patrick, foram enviados para a Espanha para mostrar o apoio do movimento anarquista escocês e se tornou uma correspondente, escrevendo relatórios e produzindo transmissões noturnas na Rádio de Barcelona, gerida pela Confederação Nacional do Trabalho (CNT).
Ela contou sobre as batalhas na linha de frente e o trabalho feito nas comunas das trabalhadoras e trabalhadores nas vilas e indústrias pela Espanha. Ela criticou o governo republicano apoiado por comunistas e condenou Westminster pela proibição de voluntárias e voluntários para as Brigadas Internacionais.
Em uma convocação agitada pairando no ar, ela disse: “A Espanha quer ação. Ação pela grande democracia, e todos os países democráticos, ajam em casa para combater o fascismo. A língua inglesa é considerada por aqueles que a falam como a maior língua da liberdade.
Para todes que acreditam no melhor da língua inglesa, que a ouve zumbindo nos sotaques dos mártires e não nos tons de cinismo insensível do procurador e do juiz, eu me dirijo a mim mesma: eu os peço novamente que façam dela a linguagem da liberdade. Que fale ao fascismo, de Hitler a Mussolini e a Franco. Que a voz da liberdade sufocada seja ouvida.
Trabalhadoras e trabalhadores falantes da língua inglesa, porque estão dormindo enquanto seus irmãos e irmãs espanhóis estão sendo assassinades? Onde estão suas tradições? Fale. Aja. Responda com a palavra e responda com a ação… Acabe com a sociedade de classes agora“.
Ethel ganhou muitos seguidores por seus discursos apaixonados contra o fascismo no Reino Unido e nos Estados Unidos. De acordo com um artigo do Evening Times da época, um importante editor de notícias na Califórnia tinha recebido centenas de cartas elogiando-a como tendo “a melhor voz de rádio que já tinham ouvido”.
Durante a guerra, o lado republicano sofreu com lutas internas severas. Problemas entre as facções, levando a forças comunistas a atacar a Central Telefônica – o quartel-general anarquista – em 3 de maio de 1937. Os confrontos sangrentos desdobraram-se nos dias seguintes. Esquadrões do governo foram chamados e vários anarquistas foram assassinados em suas próprias casas.
Em vez de voltar para casa, Ethel ajudou a preparar comida e a carregar munições para suas e seus camaradas e apressou um relatório para Aldred sobre a “contrarrevolução estalinista”. Ela descreveu com detalhes desoladores como os mortos e mortas, feridos e feridas, estavam entre barricadas, o chão estava cheio de vidro estilhaçado e as paredes, outrora “brilhantes” dos edifícios de Barcelona, foram destruídas por bombas, enquanto esposas e mães chorosas procuravam por seus entes queridos nas ruas. Estima-se que 400 pessoas morreram nas trágicas Jornadas de Maio.
Após a repressão, ela ajudou na fuga de anarquistas procurades pela polícia secreta comunista, contrabandeando cartas em latas para as prisões e comida para companheiras e companheiros anarquistas detides pelas autoridades regionais.
Ethel foi presa depois que as tropas saquearam o seu quarto e acharam literatura revolucionária. De acordo com suas contas, ela foi mais tarde acusada por possuir dinheiro estrangeiro e “associar-se com prisioneiros e prisioneiras e conspirar em língua estrangeira”.
Notícias da “Pimpinela Escarlate escocesa” chegaram à Grã-Bretanha, com jornais relatando suas atividades e seu paradeiro todos os dias.
A Grã-Bretanha se tornou cada vez mais temerosa pela segurança dos seus cidadãos. O político do Partido Trabalhista Independente, Fenner Brockway, ficou horrorizado após uma visita à prisão, onde 150 pessoas compartilhavam um banheiro e comiam duas miseráveis refeições de sopa e pão por dia. Ele negociou a libertação da Ethel nos bastidores.
Após um ano, ela fugiu do país e foi recebida de volta em Glasgow no dia 7 de novembro, após compromissos na França e em Amsterdã.
Falando em frente a uma multidão na Estação Central, ela disse: “Fui para a Espanha cheia de esperanças e sonhos. Prometia-se ser uma utopia realizada. Voltei cheia de tristeza, entorpecida pela tragédia que vi. Vivi cenas e acontecimentos que pertencem à revolução francesa“.
Instalando-se em seu apartamento compartilhado na Rua Gibson, ela realizou turnês pela Escócia, falando de seu desencanto com a revolução em declínio na Espanha e atacando o Partido Comunista, o que a colocou em desacordo com a posição majoritária da esquerda na Escócia. Como rebelde instintiva, isto só pareceu encorajá-la.
Ethel se tornou gerente e contadora da Strickland Press, uma pequena editora anarquista fundada por Aldred na Rua George, em 1939, que imprimiu o jornal anarquista The Word e vários panfletos de esquerda.
Em fevereiro de 1958, Ethel foi diagnosticada com esclerose múltipla e, numa cruel reviravolta do destino, ela perdeu sua capacidade de falar. Ela morreu três anos depois no Hospital Knightswood, aos 51 anos de idade, deixando seu corpo para a ciência médica.
Uma mulher determinada, com um espírito lutador, que teve a coragem de ir contra o senso comum. Sua visão de uma sociedade, que daria poder a todes, pode ser capturada em um de seus intensos discursos.
“Apesar de todas as forças que estão em nosso caminho, trabalhadoras e trabalhadores com real coragem continuam a lutar pela justiça e a equidade. A revolução acontecerá um dia. O ronco baixo de uma erupção que começa lá no fundo, eventualmente explodirá. Poderá acontecer em uma década ou menos, poderá acontecer em um século ou mais, mas acontecerá. O espírito humano não se deixará ser esmagado e aprisionado para sempre“.
Para descobrir mais sobre Ethel MacDonald, assista The Anarchist’s Story, documentário no YouTube. Você também pode ver a coleção especial de arquivos de Ethel MacDonald na Biblioteca Mitchell.
Fonte: https://www.glasgowlive.co.uk/news/history/ethel-macdonald-the-lanarkshire-woman-17802630
agência de notícias anarquistas-ana
Joaninha caminha
no braço da menina.
Olhar encantado.
Renata Paccola
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!