(21/10/2021)
Olá, Como vai?
Muito obrigada por nos ler.
Há um ano você tem acompanhado as nossas reflexões sobre a essência do nosso trabalho: livros e publicações impressas. Temos pensado muito sobre o que nos move e porque estamos a fazer impressos. Como seria pensar produção, edição, pesquisa, e circulação de livros e publicações de uma forma não hierárquica? Seria simplesmente dividir tarefas ou dividir parágrafos em um grupo ou textos entre participantes e depois pedir para alguém ilustrar? Será que editar é apenas dar um espaço livre para que cada um escreva….
Fazer livro não é apenas fazer textos
O livro não é ingênuo, não é libertador sozinho; ele não é apenas o objeto com lombada que você põe na estante na intenção de decorar um espaço; também não é um produto que o autor chama “dele”; um livro sequer é a elaboração genial de um autor.
Para a Tenda de Livros, um livro é trabalho, e trabalho coletivo com todas suas questões processuais e seus conflitos. Logo, um trabalho coletivo não se faz apenas de textos reunidos e arranjados em páginas. O livro é um projeto, que tampouco sai de uma única cabeça.
Um livro é fruto de um processo e esse processo demanda muitas tarefas interligadas. Pensar sem hierarquia é entender o que implica cada momento e as limitações de um impresso. Citaremos alguns momentos.
Pesquisa e Projeto editorial
Para um livro existir é necessário uma etapa de concepção – em que ocorrem decisões metodológicas e o livro, enquanto um projeto, é elaborado. Depois da etapa de concepção, a pesquisa é construída. Diversas são as participantes nesta etapa: não produzimos conhecimento sozinhas, afinal. Partimos de pesquisas daquelas que vieram antes de nós; necessitamos do auxílio das trabalhadoras dos acervos, das bibliotecas; por vezes, uma conversa com familiares e pessoas conhecidas das personagens pesquisadas… Do trabalho de pesquisa, pode ser que o projeto elaborado se modifique – o livro é um projeto vivo, em movimento, e por isso é necessário sempre voltar e refazer o projeto editorial com o processo a se construir.
Realizada a pesquisa e as novas considerações, o projeto editorial toma corpo. Ele é uma maquete conceitual, narrativa e sequencial. Ele responde a diversas perguntas e entre elas está: o que esse livro busca, a quem ele se dedica? Quais são as nossas intenções com esta publicação? Sim, um livro tem um público, uma forma e terá uma história.
Produção e preparação de texto
É a materialização e a organização – em palavras – do projeto inicial, das descobertas e elaborações da pesquisa, da vivência das autoras, dos diálogos feitos, de histórias ainda não (ou pouco) contadas… É o que justifica a feitura do livro. A justificativa também pode ser imagética, pois um livro de imagem é tão importante quanto de texto e misturar essas linguagens também é algo super importante. Mas vamos focar num livro textual.
O trabalho da escrita também não se faz sozinho. Não apenas pelas fontes consultadas ou saberes que à autora chegaram, vindos de outras mentes. O texto não se finaliza à primeira escrita, ou à primeira leitura. O texto não vai pronto para a sua etapa seguinte. É preciso que ele seja recebido com cuidado e atenção. Com um olhar que além de atento, esteja disposto a criticá-lo, que o remexa, o desconstrua e o desmonte, se necessário. A etapa da preparação de um texto é o momento em que uma leitora aliada à concepção da obra encara o texto interrogando-o: Esse texto tem coesão? É coerente com a escrita da autora? Se faz entendível para as não iniciadas no assunto? Os dados apresentados são válidos e se justificam? As informações estão corretas? E como parte de um livro, esse texto se conecta com os demais? Esse texto está alinhado à proposta geral do livro? E quanto ao gênero proposto – um prefácio, um editorial, uma introdução… – ele cumpre o seu papel? Não se trata de desconsiderar o trabalho da autora; mas de contribuir, com um olhar externo, preparado e ciente do projeto do qual ele faz parte.
O texto é um pedaço, afinal, de algo maior
E nem só de ideias se faz um texto. E então, da preparação, o texto vai para a revisão. É o olhar minucioso e técnico ao texto; não é apenas um olhar de limpeza, mas de refinamento, de lapidação.
E não acabou…
Projeto gráfico
Um livro é o seu conteúdo em forma e a sua forma em conteúdo. Não existe uma separação nisso. Pensar a forma e o conteúdo aliados não serve apenas para a compreensão do objeto, mas também sobre como se constroem as suas páginas e os seus cadernos. A etapa da diagramação materializa a concepção do livro, possibilitando o alinhamento entre forma e conteúdo. A artista gráfica dá vida ao que antes era um texto num fundo branco digitado em. letras padrões. Transforma palavras dispostas em desenho em página. Faz com que a paginação dê ritmo ao livro. É uma conjunção ética e estética em comunhão que dá ao livro sua natureza tátil. Um livro impresso é uma paginação múltipla de 4, mas para barateá-lo suas páginas devem ser múltiplas de 32, quando você quer imprimir em uma máquina off set. Logo, não existe uma liberdade absoluta ao fazer um livro. A liberdade do texto, do projeto gráfico e editorial dependem das demais ações pertencentes ao próprio livro. Depende também da máquina e de onde ele será impresso.
O Livro para a Tenda…
O livro é impresso em uma máquina; entender a natureza da máquina é necessário, é ético, é político, é estético. O livro, como um impresso, ainda não está acabado. O livro é um contexto. Ele é o seu lugar poético, político, estilístico, social e histórico. No Brasil, a história dos livros é marcada por problemas econômicos. Nem todo mundo que faz livros quer estar no mercado. Nem todo mundo que faz livros acredita no mercado. Já existiam publicações antes do mercado e muitas seguem, como são as publicações anarquistas. Porém, não podemos deixar de dizer que estamos em um país complexo para se imprimir publicações. Aqui, o papel é monopólio de uma empresa. As gráficas de base têm defasagem tecnológica e o investimento tecnológico está na gráfica inacessível para quem é pequeno. Imprimir não é apertar um botão ou enviar um pdf. Há muito o que se discutir sobre essa etapa. Você já pensou nela?
Feita a impressão, o livro só se faz livro se alguém o recebe. Daí que a etapa da circulação se faz tão importante quanto qualquer etapa anterior. E essa distribuição – como nas etapas que a precedem – não se faz sozinha: a distribuição é feita por pessoas e por pessoas que estiveram nas etapas anteriores. Na Tenda de Livros, o trabalho artesanal da distribuição envolve empacotar, carimbar, enviar… Livro a livro, leitora a leitora. Você tem um envelope nosso em suas mãos ai? Dá uma olhada. Ele foi carimbado um a um.
O livro é fruto de múltiplos trabalhos, que, misturados, nos fazem entender que um pacote é tão importante quanto uma pesquisa ou uma diagramação.
Fazer livros é uma prática diária e sem nenhum glamour ou qualquer ostentação. Fazer livros não é hobby, é vida. Fazer livros é algo em que acreditamos mas não romantizamos, porque o livro só existe em nós e conosco. Vem conhecer a Tenda de Livros sem intermediários. Estamos dispostas e disponíveis a conversar com você. Escreva-nos.
Obrigada,
Todas as minas que fazem a Tenda de Livros
> Desenho em destaque de Caio Paraguassu
tendadelivros.org
agência de notícias anarquistas-ana
No céu azul
Em forma de animais
As nuvens passeiam.
Janaína Alves de Oliveira
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…
Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...
Tudo bla,bla,bla...porque não se faz um post comentado a degradação durante o bozo. 🤪🤪🤪🤦
Olá, me chamo Vitor Santos e sou tradutor. Posso traduzir do Inglês, Espanhol, Alemão, Italiano e Catalão. Inversamente, somente do…