Memórias eleitorais. Relendo as crônicas de agosto de 1922 pelo anarquista Armando Borghi.
Para referência futura (para 25 de setembro de 2022?), lembre-se do mês de agosto de cem anos atrás.
Era o verão de 1922. No jornal Umanità Nova, em 11 de agosto, os anarquistas escreveram: “Não foi o fascismo que venceu, foi o Estado. Se os carabinieri e os guardas reais não tivessem se unido numa frente unida com os bandidos de camisa preta, o fascismo teria sido esmagado”.
Mais do que um artigo, era um epitáfio. O fracasso da greve geral de 1° de agosto havia destruído as últimas esperanças de resistência.
Armando Borghi (1882-1968), uma bela figura libertária, lembra em Mezzo secolo d’anarchia (Meio século de Anarquia), um livro encomendado por Gaetano Salvemini, que “a decisão de entrar em greve geral foi tomada cerca de uma semana antes da data estabelecida que conhecemos: 1° de agosto. Compromisso em manter o sigilo”.
“Somente na manhã de 1º de agosto é que a imprensa foi informada. O 1º de agosto foi segunda-feira.
No domingo, 31 de julho, os trabalhadores de Gênova transbordaram. Anunciar no domingo, um dia de descanso, uma greve que iria acontecer inesperadamente na segunda-feira, era para desvendar tudo.
Com a rapidez tática à disposição dos fascistas, aquele aviso prévio de vinte e quatro horas foi tão precioso para os outros quanto fatal para nós”.
Apesar de tudo, Borghi relata, “havia centros que lutavam heroicamente”. Parma se defendeu acima de todas as probabilidades.
Houve batalhas ferozes em Turim, Sestri Ponente, Pavia, Pádua, Milão. Ancona foi atacada por terra e mar: para trazer confusão e medo a um clímax, os fascistas foram armados pelas autoridades militares não só com bombas verdadeiras, mas também com bombas de efeito moral, e atiraram tantas centenas quanto teriam arrasado a cidade inteira, dando verdadeiramente a impressão do fim do mundo”.
Em Roma, “o distrito de Porta Trionfale, um dos mais vermelhos, foi dominado pelo rumor corrente de que uma invasão por gangues fascistas era iminente”. Houve uma verdadeira mobilização da população, que permaneceu em vigília por duas noites, armada com o que estivesse à mão”.
A poetisa libertária Virgilia D’Andrea, continua Borghi, “estava naqueles dias precisamente naquele bairro onde Malatesta vivia.
“Mais tarde aprendi com ela que Errico tinha ficado com as pessoas comuns todos aqueles dias, tirando algumas horas de sono. Virgilia ficou ao lado do velhote.
Ela era uma mulher capaz de tirar de sua natureza frágil uma enorme força de resistência, tal era a sugestão que a ideia de lutar e se sacrificar exercia sobre ela. Os fascistas não apareceram”.
Entretanto, apesar do “terreno minado por quase dois anos de terror, as energias morais ainda permaneceram. E se elas tivessem sido usadas no momento certo, e com a determinação necessária, talvez a ciência de mais tarde contaria uma história muito diferente.
Entretanto, os episódios locais não mudaram e não puderam mudar a situação geral. Fomos espancados em todos os âmbitos. Cada última reserva de energia no espectro da esquerda estava esgotada”.
Os fascistas, conclui Armando Borghi, “não tinham apenas que agir; eles tinham que alcançar dois objetivos acima de tudo: dar-se o crédito por terem domado a greve, e privar o governo que não a havia domado”. Eles conseguiram um e o outro”.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
coisa rara:
teu espelho
tem minha cara
Millôr Fernandes
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!