Aikhal Ammosov, de 30 anos, é membro do grupo local de punk rock Crispy Newspaper. Por supostamente “desacreditar o exército russo”, esta pessoa está ameaçada com 3 anos de prisão. O motivo do caso foi que ele e sua namorada tentaram pendurar uma faixa “Punk yakutiano contra a guerra” no centro de Yakutsk antes da visita do primeiro ministro Mishustin. Foi em 26 de agosto, depois do qual Ammosov foi enviado a um centro de detenção preventiva durante 15 dias.
O verdadeiro nome de Aikhal é Igor Ivanov. Este ano, o tribunal da cidade de Yakutsk, a capital da República de Sakha, já o tinha multado com 30.000 rublos em virtude de um artigo administrativo contra a guerra em 3 ocasiões. Assim, no final de abril, o músico montou uma manifestação próxima do serviço funerário, saindo para ela com um cartaz de “Chegou o namorado”. No monumento militar, acendeu uma vela na placa comemorativa “Hero City Kiev”. Também pintou com spray em um edifício público “Yakutia será livre”, e espalhou mais de 100 folhetos pela cidade, todos diferentes.
A banda punk na qual toca Aikhal conseguiu, nos últimos anos, arrastar produtores de selos independentes, turistas intrépidos e repórteres de revistas estrangeiras a este lugar remoto da Sibéria. Mas a guerra, está claro, muda tudo. “Até agora, a minha geração não lhe interessava nada. Muita gente bebe, alguns vão caçar, outros são simplesmente passivos. Estive esperando que alguém apresente publicamente meus pensamentos e os pensamentos de meus companheiros. O fato é que hoje nenhum político parece digno de ser chamado “homem” ou “mulher”. Assim que decidi fazer tudo eu mesmo”, disse na entrevista da primavera para a Rolling Stone.
As ações de Ammosov foram extremadamente notáveis. Não só em Yakutsk, com uma população de 341 mil, mas em toda Rússia. Então começaram os problemas: foi detido em 25 de abril, e durante 5 dias permaneceu sob custódia dos serviços especiais e da polícia.
“Ao tomar esta decisão, era muito consciente de que podia enfrentar as consequências desagradáveis. Deixei meu trabalho. Cortei a comunicação com meus amigos. Não quero que outros se envolvam. No entanto, creio que a liberdade de meus concidadãos depende de minha história e, em primeiro lugar, de milhares de jovens de Yakutsk. Se me condenaram, sua existência também seria menos segura”.
Ammosov afirma pertencer aos “partisanos e patriotas” que lutaram pela independência do povo de Sakha faz 100 anos, e hoje utiliza a arte como forma de luta. “Cresci em uma família pobre. De menino, era consciente das grandes diferenças que existem em nossa sociedade. Hoje em dia, alguns poderiam pensar que sou um punk anormal porque não bebo nem fumo. Mas aqui temos nossa própria forma de entender as coisas. Em primeiro lugar está o conhecimento e a inteligência. Isto é o que chamamos sakha-punk”.
Logo, contou mais detalhes interessantes em uma entrevista de junho da Sadwave:
“Estou contra qualquer guerra. É estranho estar a favor. Qualquer pessoa consciente que pense com sua própria cabeça será contra os conflitos armados. Todos vimos filmes de guerra. Vimos filmes soviéticos. A guerra sempre é má. A guerra não traz nada bom. Só morte, fome e pobreza. São coisas elementares que até uma criança sabe! Mas as pessoas são tão estúpidas que dizem que há que lutar. Diz que a guerra é boa. Que cedo ou tarde acontecerá. As guerras há que preveni-las, não fomentá-las. E não contribuir com seu desenvolvimento. Não sou hippie e nunca fui uma pessoa amante da paz. Não fui pacifista. Mas nunca estive a favor da guerra. Li muitos livros sobre guerras como a Grande Guerra Patriótica, sobre o Afeganistão, sobre a Chechênia… Sempre estarei contra as guerras.
O sentimento contra a guerra é muito forte entre os jovens de Yakutsk e a região. Nossa juventude é inteligente, pensante, consciente, creio nela. Provavelmente 95% está contra a guerra. Só apoiam alguns poucos. Talvez pela propaganda e os pais? Há mais partidários entre a geração anterior. Mas inclusive eles começam a entender o que é. E eles também estão de nosso lado. As pessoas estão confusas. Foram enganadas. As pessoas não entendem o que estão fazendo. Por que necessitam esta guerra? Todos querem viver em paz. Mas lhes dizem que é necessário. Que é forçoso. Que não havia outra maneira.
Parece que minha história está sendo conduzida a um caso criminal. Simplesmente não querem ir porque tem medo. Dizem que eu levantarei o povo. Já há muita gente atrás de mim. Trabalhadores ordinários, carregadores, taxistas. Juventude. Intelectualidade. Marginais. Moradores de uluses.
Meu apoio é muito forte. Me escrevem constantemente, veio gente na rua, me comunico. Me escrevem desde Buriatia, Tuva. Os meninos de Petersburgo escrevem, ajudam com a arrecadação de fundos. Recentemente enviaram 10.000 para pagar a multa. Os jovens saíram às ruas, disseram palavras de agradecimento, disseram que me apoiam, que seguem meus assuntos, se tiraram fotos como recordação. Perguntam muito, lhes interessa a política, perguntam que acontecerá no futuro quando termine a guerra. Há muitos jovens em Yakutsk que me apoiam. Vou a reuniões, falo com eles, escuto seus pensamentos. Querem falar, mas ninguém os escuta. Aqui só os velhos manejam tudo, e nada se dá aos jovens. Os jovens saem da república ou do país em busca de uma vida melhor e um trabalho digno, porque aqui não se dão as condições normais. Os anciãos estão em todas as partes. Gostaria de mudar isto. Para que venham os jovens. Para que os jovens, enérgicos e ousados, prontos para a ação e a mudança, trabalhem em todas as partes. Temos estagnação e regressão aqui. Vivemos como em uma lata.
Há muitos jovens em Yakutia. E não lhes permitem fazer nada. Simplesmente estão desperdiçando sua preciosa energia. Eles caminham. Lutam. Dormem todo o dia. E seria possível utilizar esta energia para o bem. Mudaríamos muito. Yakutsk é uma cidade de jovens, mas esta cidade é dirigida por velhos conservadores oxidados. Somos a nova geração. Geração de Novos Românticos. Inconformistas e personalidades apaixonadas. Agora é nosso momento. Este é nosso ano. Agora estamos escrevendo a história.
Antes já ia a reuniões, participava nos assuntos públicos da república. Fiz muitas coisas diferentes, mas nem fui brilhante nem audaz. Eu era reservado. Agora trato de fazer tudo para que se veja: quando a gente vê, deixa de ter medo, se inspira, eles mesmos começam a atuar. De certo modo, aplainei o caminho. E digo que todo o mundo pode segui-lo, está comprovado. Atuar de forma encoberta e anônima é inteligente. Mas atuar para o espetáculo é valente e audaz. E paga pela valentia, talvez estarei no cárcere.
Toquei em diferentes bandas, mas todas se desmoronaram. Viveram no máximo um ano ou dois. Quase toda minha vida estive escrevendo textos politizados sobre as realidades de Yakutsk. Ridicularizei os que estavam no poder. Escrevi poesia satírica. Mas realmente não me foquei em ninguém, só fiz intuitivamente o que queria fazer (…) Inventar nosso próprio punk rock desde o zero. Não esperamos nenhum estímulo, nem elogio, nem glória. Só jogamos para nós e nossos amigos. Yakutsk é a Seattle dos anos 90. Yakutsk é a Londres dos anos 70. Mas fazemos o que temos que fazer. Com grande devoção e fanatismo. Só o punk rock nos dá um sopro de liberdade. queremos viver. Queremos liberdade. Queremos fazer história”.
Fonte: http://alasbarricadas.org/noticias/node/49509
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Voa bem-te-vi,
enquanto o sol é promessa
e eu tenho as janelas.
Yberê Líbera
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!