De asranarshism
À medida que o aroma da primavera enche as ruas do Irã, o fedor da pobreza e da miséria também emana das mesas vazias do povo. O Nowruz, que já foi uma celebração do renascimento da natureza e momento de esperança, tornou-se um lembrete amargo da alta dos preços, da estagnação econômica e da ruína financeira. Para muitos, o ano novo não é um momento de alegria, mas sim uma queda mais profunda em dívidas e desespero. Mas quem é responsável por essa crise? E, mais importante, que caminho resta para o povo?
O Custo de Vida: Mais Caro Que a Morte
A cada ano que passa, as mesas das pessoas ficam mais vazias. Arroz, frutas, legumes e até ervas frescas não são mais itens comuns do cotidiano, mas sim artigos de luxo. A inflação descontrolada e o colapso da moeda nacional tornaram a vida insuportável para a classe trabalhadora e até mesmo para a classe média. De acordo com as estatísticas, a taxa de inflação tem aumentado continuamente nos últimos anos, chegando a 47,7% em 2022 e 52,2% em 2023.
No entanto, essa catástrofe econômica não é apenas o resultado de sanções externas ou má administração interna; é o produto de um sistema econômico corrupto que prioriza a sua própria sobrevivência em detrimento do bem-estar da população. O regime tomou o povo como refém por meio de impostos paralisantes, taxas de câmbio altíssimas e supressão de subsídios diretos e indiretos. Os bancos concedem empréstimos com taxas de juros absurdas, mas o dinheiro acaba indo para os bolsos das elites do regime, financiando a compra de imóveis de luxo na Europa e no Canadá.
A “Classe Neutra” Não Existe Mais
Dentre as pessoas afetadas, estão os proprietários de pequenas empresas e comerciantes que antes formavam a chamada “classe neutra” – um grupo que evitava o confronto direto com o regime enquanto tentava navegar pelo sistema. Hoje, eles não podem mais se dar ao luxo de jogar esse jogo. A dívida esmagadora e o colapso financeiro os empurraram para as fileiras da pobreza, deixando-os com apenas duas opções: submissão à classe dominante ou rebelião contra ela.
O regime está bem ciente de que uma classe média relativamente estável poderia se tornar uma poderosa força de mudança. Portanto, ele sistematicamente empurra essa classe para a submissão ou para a pobreza por meio de pressão econômica. Essa é uma estratégia comum entre os estados autoritários – manter a classe média tão onerada pela sobrevivência que ela fica exausta demais para resistir.
Revolução ou Prisão? Não Há Outra Opção
Hoje, trabalhadores, professores, aposentados e até mesmo proprietários de pequenas empresas se encontram em uma encruzilhada, enfrentando apenas duas opções:
Submissão e resistência:
Continuar a viver em condições cada vez piores, enquanto o regime reprime brutalmente qualquer protesto e elimina até mesmo a menor possibilidade de reforma. No final, muitos se afogarão em dívidas e irão para a prisão.
Revolta e transformação: Recusar-se a aceitar esse ciclo de pobreza, exploração e humilhação.
Se as pessoas não se levantarem e protestarem, todos – proprietários de empresas, trabalhadores e profissionais liberais – acabarão sendo esmagados pelo peso das dívidas e da opressão. Aqueles que antes esperavam por uma reforma gradual logo se verão falidos e atrás das grades. No entanto, se os trabalhadores, empresários e a classe média desfavorecida se unirem e se juntarem às manifestações, ainda pode haver uma chance de mudança. Mas como seria essa mudança?
Estratégias Anarquistas para Resistência e Luta
Ao contrário daqueles que ainda se apegam à ilusão de reforma dentro do sistema, os anarquistas defendem a auto-organização, a ação direta e a resistência descentralizada. Algumas das principais estratégias anarquistas para se libertar dessa crise incluem:
- Autogestão de Trabalhadores
A autogestão dos trabalhadores – assumir o controle dos locais de trabalho e administrá-los sem depender dos capitalistas – é um princípio fundamental da luta anarquista. Exemplos disso podem ser vistos no movimento Zapatista no México e nas comunas de Rojava.
- Criação de Cooperativas Populares e Redes Econômicas Independentes
Em vez de depender da economia controlada pelo estado, as pessoas podem reduzir sua dependência do regime formando cooperativas de trabalhadores e de produção, mercados independentes e usando criptomoedas e sistemas de troca direta. Essas estratégias redirecionam o controle financeiro do regime iraniano de volta para as mãos do povo. Modelos semelhantes foram bem-sucedidos na Espanha.
- Resistência Descentralizada e Lutas nas Ruas
Os movimentos anarquistas enfatizam que a resistência não deve se limitar apenas a protestos pacíficos. A resistência descentralizada significa empregar uma ampla gama de táticas, desde a formação de comunas locais até a ação direta nas ruas e a autodefesa contra a repressão estatal.
O povo não tem mais meio-termo – ou ele se levanta ou será enterrado sob o peso da opressão. Se houver um futuro, ele não virá de dentro do sistema, mas da destruição de seus alicerces.
- Boicotes e Desobediência Civil Generalizada
A desobediência civil é outra ferramenta poderosa na luta contra a tirania. O boicote às políticas estatais – desde a recusa em pagar impostos até a rejeição de leis impostas pelo governo – pode enfraquecer e desestabilizar gradualmente o regime. O estado depende da conformidade para se sustentar; a não cooperação em massa pode derrubá-lo.
- Educação e Conscientização para a Construção de uma Sociedade Livre
Nenhuma mudança pode ser realmente sustentável sem educação e conscientização. Anarquistas acreditam que uma sociedade deve romper com a censura da mídia imposta pelo estado e promover a consciência de classe por meio da educação de base. Nessa luta, as redes de informação on-line independentes, a publicação de livros e materiais educacionais e os grupos de discussão locais desempenham um papel crucial no empoderamento das pessoas com conhecimento.
Quebre as Correntes ou Apodreça Nelas.
The Anarchists Union of Afghanistan and Iran (Media Section) / A União Anarquista do Afeganistão e Irã (Seção de Mídias), como parte da auto-organizada Federation of Anarchism Era / Federação da Era do Anarquismo
Tradução > acervo trans-anarquista
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