
Não se faz análise política séria a partir do que as pessoas dizem, e sim do que elas fazem.
Esse é um princípio básico das ciências políticas, aplicável nos mais diversos casos. Por exemplo, não importa se Lula diz que é comunista, se Bolsonaro diz que se importa com as crianças e assim por diante. Analisamos a posição política de alguém pelas ações políticas dessa pessoa, não por seus discursos.
Anarquistas historicamente levaram esse critério muito a sério. Transformam a ideia de “falar com suas ações” no principal critério para distinguir amigos de inimigos. Isso marca a oposição entre a política anarquista e a política institucional. A política institucional se faz pelo discurso. Os políticos profissionais são mestres da palavra. Falam demais por não terem nada concreto a apresentar.
No interior do anarquismo temos uma diversidade muito grande de posturas, análises, estratégias, teorias e práticas. Com a crescente criminalização do movimento, é natural que a prática anarquista não aconteça mais à luz do dia. Isso não quer dizer que ela perdeu sua centralidade. Para os anarquistas, é a prática que organiza a teoria.
Mas no anarquismo também vemos surgir uma classe intelectual capaz de se afastar, em diferentes graus, da prática concreta da política anarquista. Esse afastamento é evidenciado na linguagem pouco acessível, na distância das pautas que são priorizadas, na ausência de familiaridade com espaços de convivência anarquistas, e na falta de disposição de apoiar movimentos e ações que anarquistas, criando uma espécie de sectarismo.
Esse sectarismo anarquista é visível, por exemplo, quando alguns autores com vasta produção acadêmica resgatam críticas ao “anarquismo de modo de vida” de Bookchin, por exemplo, como uma desculpa para deslegitimar todas as vertentes anarquistas com as quais eles não querem diálogo nem convivência. Todos os outros anarquistas são reduzidos a arruaceiros sem perspectiva política real. Se contentam em falar mal de todas as tentativas de construir novas possibilidades. Nada é bom o suficiente para eles. Vivem de elogiar o passado. Se recusam, muitas vezes, até mesmo a discutir, responder uma crítica ou considerar outro ponto de vista. Suas análises são as definitivas, então apenas as repetem à exaustão. Se o anarquismo enfrenta desafios, a culpa é sempre de quem não os ouviu.
Falo nessa linguagem porque é com eles que estou falando: vocês podem não ter coragem de falar conosco, mas suas ações falam por vocês. Nós sabemos falar na sua linguagem, falta vocês aprenderem a nossa.
Contraciv
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agência de notícias anarquistas-ana
foi ao toalete
e cortou os sonhos,
a gilete
Leila Míccolis
Excelente
Esquerdistas não são anarquistas. Lulistas muito menos. Uma publicação desacertada que não colabora com a coherencia anarquista.
ESTIMADAS, NA MINHA COMPREENSÃO A QUASE TOTALIDADE DO TEXTO ESTÁ MUITO BEM REDIGIDA, DESTACANDO-SE OS ASPECTOS CARACTERIZADORES DOS PRINCÍPIOS GERAIS…
caralho... que porrada esse texto!
Vantiê, eu também estudo pedagogia e sei que você tem razão. E, novamente, eu acho que é porque o capitalismo…